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Desenvolvedor fala sobre criação do curso de Klingon no Duolingo

Para lançar séries e filmes com universos cada vez mais realistas, as produções de Hollywood consideram todos os detalhes. Um dos mais importantes é a criação de idiomas fictícios, falados por algum grupo de personagens e inventados por linguistas como

Para lançar séries e filmes com universos cada vez mais realistas, as produções de Hollywood consideram todos os detalhes. Um dos mais importantes é a criação de idiomas fictícios, falados por algum grupo de personagens e inventados por linguistas como David J. Peterson, responsável pelo Dothraki e o Alto Valiriano falados em Game of Thrones.

O recurso também é visto em produções como O Senhor dos Anéis, já que, além de escritor, Tolkien era filólogo e tinha o costume de criar idiomas por diversão.

+ Leia também: Como são criadas as línguas fictícias de séries e filmes

Em Star Trek, os alienígenas conhecidos como Klingons ganharam dialeto próprio nos anos 80, quando o linguista Marc Okrand foi convidado para desenvolver o idioma como se ele fizesse parte do “mundo real” — tarefa que incluía imaginar como uma linguagem extraterrestre evoluiria com o tempo e reproduzir uma gramática que combinasse com a cultura dos Klingons.

Famoso entre os fãs da saga, o idioma ganhou dicionários oficiais e agora poderá ser praticado no curso online do Duolingo — fazendo companhia ao curso de Alto Valiriano. A nova ferramenta deve popularizar ainda mais essa categoria de idiomas, já praticados por uma comunidade expressiva de “conlangers”, como são chamados na expressão em inglês.

Um dos desenvolvedores voluntários do curso, Felix Malmenbeck afirma não ter formação acadêmica em linguística, mas seu interesse pelo tema surgiu ainda na infância, quando tinha o costume de inventar mini-gramáticas.

Em entrevista à GALILEU, Malmenbeck falou sobre sua participação na produção das aulas virtuais, comentou a importância do curso para a comunidade geek e explicou por que você também pode ser fluente em Klingon um dia:

Como você foi escolhido para participar do desenvolvimento do curso?
Em 2013, o Duolingo anunciou uma “incubadora” para que os usuários pudessem desenvolver novos cursos de idiomas, indicados com o desenho de pequenos ovos. Um deles tinha o símbolo do povo Klingon, o que deixou a comunidade de fãs bem animada e muitos de nós se ofereceram para ajudar.

Vários anos depois, recebi um email da equipe do site, perguntando o que eu achava da ideia de criar um curso online baseado no idioma desses personagens de Star Trek.

E você já tinha alguma experiência com linguística?
Linguística é algo bem distante do meu campo de estudo: física teórica. Isso acabou sendo uma vantagem, porque não tive a sensação de estar trabalhando. Mas meu interesse por idiomas surgiu quando eu ainda era criança e gostava de inventar palavras — com nove ou dez anos, comecei a inventar pequenas gramáticas e mais tarde notei várias línguas fictícias surgirem em produções como Star Wars, Breath of Fire [série de jogos eletrônicos de RPG] e The Sims.

Desde então, fiquei fascinado por esse aspecto da cultura pop e sempre acompanhei o que era falado nesses idiomas. Através de jogos online, tive contato com as línguas usadas em O Senhor dos Anéis, como Khuzdul e Sindarin, e comecei a estudar Klingon em 2006, quando descobri que o universo da série tinha esse idioma todo estruturado e funcional.

Qual foi seu maior desafio ao produzir as aulas?
Por ser uma língua aglutinante, como finlandês, turco e japonês, Klingon é um pouco mais difícil de ensinar, já que esse tipo de idioma tem um grande número de morfemas por palavra. A frase “eu não consigo ver você”, por exemplo, pode ser traduzida como qalaDlaHbe', com quatro morfemas.

Felizmente, o Duolingo incorporou uma ferramenta para adicionarmos morfemas em vez de palavras inteiras, o que facilitou o modelo das aulas. Escolher as dicas certas para que o aluno entendesse cada um dos morfemas separadamente foi um grande desafio, assim como a tarefa de combinar um conteúdo útil e divertido ao mesmo tempo.

Os idiomas que você já conhece facilitaram seu trabalho com o curso?
Meu idioma nativo é o sueco, sou fluente em inglês e também me viro com francês — atualmente estudo alemão. Ao imaginar a etimologia [origem das palavras] de Klingon, o criador Marc Okrand evitou se basear em idiomas existentes como referência, em parte porque Klingon deveria ser uma língua alienígena, mas também porque no início da série os Klingons eram conhecidos apenas como vilões — incorporar muitos aspectos de algum idioma natural poderia ofender a cultura dos falantes.

Então poucas “heranças” podem ser identificadas, a maioria delas encontrada em línguas nativas americanas, como a náuatle [dialeto asteca].

A língua também brinca com alguns trocadilhos, como o formato das palavras “ditador” e “enrugado”, que juntos formam «HI' tlher».

Quais aspectos do idioma ajudam a entender melhor a cultura dos Klingons?
Os Klingons têm quatro tipos de comportamento que permeiam a língua: precisão, franqueza, agressividade e força. Para “padrões terrestres”, eles podem ser vistos como grosseiros, porque consideram desrespeitoso perder tempo com palavras vazias. Alguns ditados populares são bons exemplos disso:

{bortaS nIvqu' 'oH bortaS'e'.}
Vingança é a melhor vingança

A frase demonstra uma das virtudes dos Klingons, que enxergam a vingança como uma meta básica, não uma atitude negativa.

{bIQapqu'meH tar DaSop 'e' DatIvnIS.}
Para realmente ter sucesso, você precisa gostar de comer veneno

O equivalente ao icônico "no pain, no gain" [sem dor, não há ganho, em tradução livre], que representa a intenção de não apenas enfrentar um desafio, mas também apreciá-lo.

{mataHmeH maSachnIS.}
Para sobreviver, devemos expandir

A expressão tem origem histórica e filosófica: no século 23 da cronologia da série, o povo Klingon sofreu com a miséria e o império precisou ser expandido para reivindicar novos recursos e riquezas. O conceito também faz parte da psique dos Klingons, que não acreditam na ideia de equilíbrio — onde há crescimento, há declínio.

Você acha que o curso deverá atrair ainda mais fãs deste universo? Quais são suas expectativas?
Espero que o curso ajude a mostrar que os idiomas construídos, assim como Klingon, são complexos e projetados em mínimos detalhes, não uma mistura aleatória de palavras. Acho que as aulas podem atrair pessoas que normalmente não ficariam tão entusiasmadas com o estudo de idiomas, o que seria maravilhoso, e sobretudo ensiná-las mais sobre o como um idioma funciona. Eu acredito que ser multilíngue ajuda a ampliar sua perspectiva, independentemente da língua que se aprende.

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Fonte: Revista Galileu

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