Assaltos e mortes nos ônibus de Belém causam pânico na população

Basta uma rápida conversa com a população que circula pelas ruas para constatar que episódios como o assalto que resultou na morte de um idoso na noite da última quinta-feira (13) não são exceção em Belém. Em diferentes pontos da cidade, não é difícil encontrar histórias de quem já passou por situações de violência dentro dos coletivos.

No perímetro da avenida Pedro Álvares Cabral onde ocorreu o assalto de quinta-feira, no bairro do Souza, o camareiro Josias Cavalcante, 34 anos, conta que a insegurança é companhia frequente na região, mesmo para quem está dentro dos coletivos. Ele já foi assaltado mais de uma vez em ônibus quando os mesmos circulavam pela Pedro Álvares Cabral. “Eu já fui assaltado duas vezes em ônibus, quando eu estava voltando para casa”, recorda. “É o tipo de assalto que você não tem para onde fugir porque fica encurralado”. Depois de passar por experiências traumáticas, o que resta é se apegar à fé. A cada vez que sai de casa, o único a quem o camareiro recorre é a Deus. “Assalto a ônibus hoje em dia já é normal. O jeito é a gente se apegar a Deus porque a gente não tem segurança em lugar nenhum”, considera.

Sempre que precisa esperar pelo ônibus na Pedro Álvares Cabral, a pizzaiola Mara Ribeiro, 30 anos, teme pela própria segurança. No local, um simples atraso do coletivo pode representar perigo para quem espera. A situação de insegurança faz até com que Mara mude o trajeto para tentar se proteger. Ela conta que, diante da demora do ônibus que precisa, ela não titubeia em entrar em outro coletivo se sentir que está correndo perigo. “Às vezes eu entro no primeiro ônibus que passa com medo de ficar aqui muito tempo e ser assaltada”.

TRAGÉDIA

Já acomodados em um ônibus da linha Telégrafo/Ver-O-Peso, os cerca de 70 passageiros que transitavam pela avenida na noite de anteontem não tiveram como escapar da ação dos bandidos. Dois homens entraram no coletivo e começaram a assaltar os passageiros. Durante a ação dos assaltantes, o servidor público Raimundo Nonato Rodrigues de Oliveira, 69, se recusou a entregar os pertences e acabou assassinado com um tiro no rosto.

Sindicato contabiliza 570 assaltos

Desde o início do ano até o momento, o Sindicato dos Rodoviários de Belém já contabiliza um total de 570 assaltos a ônibus na Região Metropolitana de Belém (RMB), sendo mais de 450 apenas na capital.

Secretário geral do sindicato, Willem Ribeiro conta que a categoria trabalha temerosa o tempo inteiro. Várias tentativas de tentar amenizar a situação já teriam sido feitas pelos rodoviários. “Já fizemos diversos tipos de apelo para o poder público e para a própria patronal para que se invista mais em segurança, mas infelizmente eles não têm apresentado agilidade ou interesse em resolver a situação”.

Willem aponta, ainda, que a violência também tem chegado aos finais das linhas, preocupando ainda mais a categoria. Somente neste ano, os ataques a finais de linha já chegam a 30, segundo o sindicato. “Tem virado rotina esses ataques, inclusive com agressão aos rodoviários. A situação está muito complicada para nós, rodoviários”.

Polícia não aparece e passageiros ficam entregues a própria sorte medo no coletivo

Situações com final trágico como o de quinta-feira, infelizmente, não deixam de acontecer em outros pontos da cidade. Em junho deste ano, a jovem Paula Roanna Araújo, 24 anos, morreu após cair de um ônibus em movimento quando tentava fugir de um assalto que ocorria dentro do coletivo, no Entroncamento.

No local de grande movimentação de ônibus e vans, o operador de máquinas Mauro Ronaldo, 40 anos, conta que já teve o celular furtado dentro do coletivo. “Nem no ônibus a gente está seguro. Um dia desses puxaram meu celular pela janela do ônibus”, conta, reforçando que a insegurança já impõe mudanças de comportamento.

“A gente fica com medo. Celular a gente já não pode usar em todo lugar”.

Também sem esconder o trauma deixado por experiências de violência, o contador Elias Ferreira, 66 anos, conta que precisará fazer uma cirurgia para restituir os dentes. Durante um assalto ocorrido há um mês na avenida Perimetral, bandidos bateram em sua boca com a coronha do revólver, quebrando boa parte de seus dentes. “Eu estou com trauma. Se eu estou sozinho na parada e se aproxima alguém, eu já penso que quer me fazer algum mal”, desabafa. “A gente não tem segurança em nenhuma parte de Belém. Está difícil!”.

Em nota, a Polícia Civil do Pará confirmou que Raimundo Nonato Rodrigues de Oliveira, morto no assalto ao ônibus anteontem, era auxiliar técnico da PC e que estava lotado na Diretoria de Polícia Especializada da Delegacia Geral. Sobre as investigações, a nota aponta que “a Divisão de Homicídios está responsável pelo inquérito” e que “já contam com dois nomes de suspeitos que ainda estão sob investigação para que sejam confirmadas as participações deles no crime”.

Já sobre os desabafos da população quanto à insegurança, a Polícia Militar informou através de nota que “o Comando de Policiamento da Capital realiza diuturnamente as operações Barreira, Ônibus Seguro (no qual policiais militares seguem viagem dentro do ônibus) e Parada Segura” e que “todas as ações têm como objetivo principal coibir ações criminosas dentro dos coletivos urbanos da Capital”.

(Cintia Magno/Diário do Pará)