Belém registra mil assaltos a ônibus em 6 meses

Todos os dias, antes de ir para o trabalho, o rodoviário Raimundo Nonato Almeida, 47, beija e abraça seus dois filhos, um menino de 6 anos e uma menina de 5. Ele sai de casa com o coração apertado, porque não sabe se voltará no fim da tarde para vê-los crescer. “Pego serviço às 5h, então saio de casa às 4h, horário em que eles ainda estão dormindo”, conta.

Em 8 anos trabalhando como motorista de ônibus, Raimundo já passou por 2 assaltos dentro dos coletivos. “O último aconteceu há duas semanas. Dois elementos armados anunciaram o assalto. Me peguei com Deus, orei, e nada grave aconteceu comigo ou com os passageiros”, relata. “A proteção divina é a única que temos”, acredita Raimundo.

De fato, a crença do motorista se confirma diante de uma violenta e cruel realidade na qual estão reféns trabalhadores e usuários do transporte coletivo. Na Região Metropolitana de Belém, são contabilizadas 1 mil ocorrências de assaltos a ônibus neste primeiro semestre de 2016, segundo o Sindicato dos Rodoviários da capital paraense.

O número resulta em uma média diária de 5 assaltos a ônibus. Ou seja, a cada quatro horas um coletivo é alvo de bandidos na Grande Belém. Um destes assaltos foi registrado na tarde da última sexta-feira (24), na Seccional Urbana da Sacramenta. Dois acusados, um deles adolescente de 15 anos, pegaram um ônibus da linha Icoaraci, da empresa Belém Rio, como passageiros e, minutos depois, na avenida Pedro Alvares Cabral, próximo da passagem Vila Nova, anunciaram o assalto. A dupla estava armada com facas. Com medo, passageiros e rodoviários não quiseram conceder entrevistas. Um dos assaltantes fugiu, mas o adolescente foi apreendido pela Polícia Militar.

OUTRO CASO

No último dia 20 de junho, o servidor público Carlos Coutinho Gonçalves, 39 anos, caiu de um ônibus da linha Jardim Europa/Ver-o-peso que seguia pela rodovia Arthur Bernardes e estava sendo assaltado por 2 homens armados com revólver. A polícia ainda investiga o caso para saber se Carlos pulou ou foi empurrado do coletivo. O passageiro morreu. Ninguém foi preso ainda.

VIAS PERIGOSAS

Estes dois exemplos de assalto aconteceram em vias que fazem parte de outra estatística: a das vias com maior ocorrência de assaltos a ônibus. Em Belém, a rodovia Arthur Bernardes e as avenidas Bernardo Sayão e Pedro Alvares Cabral lideram a lista de ruas com maior incidência desse tipo de crime, segundo dados da Polícia Militar divulgados em janeiro deste ano.

Em Ananindeua e Marituba, Região Metropolitana, a rodovia BR-316 é a mais perigosa para os rodoviários. Nela, são registrados os maiores números de assalto a coletivos, segundo o sindicato da categoria. Nos últimos meses, nem mesmo os finais de linha dos ônibus estão isentos de ocorrências. Um exemplo disso está no final da linha do Icuí, onde os rodoviários são assaltados constantemente e já fizeram vários protestos.

ATO PÚBLICO

Em abril deste ano, os rodoviários de Ananindeua e Marituba fizeram uma caminhada pela BR-316, no sentido Belém, para pedir segurança. Na época, o Sindicato dos Rodoviários de Ananindeua e Marituba (Sintram) contabilizava 258 assaltos a coletivos nas duas cidades. Uma média de dois assaltos por dia. “Os prejudicados não são somente os rodoviários, mas também a população. Por dia, cerca de 1,5 milhão de passageiros usam o transporte coletivo na grande Belém”, apontou Huellen Ferreira, presidente do Sintram. Uma nova reunião entre os sindicatos dos rodoviários e órgãos de segurança pública está prevista para esta segunda-feira, 27, no Comando Geral da PM. Em pauta, a discussão de estratégias e medidas para garantir a segurança no transporte coletivo.

(Denilson D´Almeida / Diário do Pará)