Trabalho do PM no Pará é "enxugar gelo"

Nesta entrevista, o cabo Francisco Xavier, presidente da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros do Pará, aborda as dificuldades enfrentadas pelos policiais militares provocadas, dentre outros motivos, pela sobrecarga de trabalho, resultado de um contingente reduzido nas ruas.

P: Com poucos policiais, isso acaba expondo a integridade física dos agentes?

R: Mostramos para os governantes que o efetivo é inferior para uma segurança de qualidade para a sociedade. Um exemplo disso são os municípios com 60 mil habitantes e que têm de 4 a 5 policiais militares trabalhando. Então, o PM fica a vida toda se dedicando à polícia e trabalhando com uma carga super elevada, reduzindo a qualidade de vida e o tempo de lazer com a família.

P: Como combater a violência com um efetivo tão reduzido?

R: Hoje o trabalho de um PM é enxugando gelo: prende o meliante, manda pro xadrez e com dois ou três dias estão soltos. E esse meliante persegue o PM e mata. Não tem como ele dar segurança nem para sua família.

P:De imediato, qual a solução para este caso? Mais concursos? Quando foi o último concurso?

R: Uma das nossas maiores exigências, a qual o governo já é ciente desde o ano de 2010, é uma qualidade digna de moradia para o profissional e local de trabalho, para toda a área de segurança pública do Estado, mas até agora não tivemos nenhuma resposta. Nossa cobrança é diária. O índice de criminalidade só aumenta, o povo clama por segurança, quem deveria resolver não toma medidas e o policial que espera, acaba sendo o que carrega a responsabilidade nas costas.

Nos anos anteriores nós tínhamos uma mesa de negociação, mas agora, em 2015, ninguém quis falar com a gente. Os órgãos de segurança não querem receber a gente, pois queremos solução para as inúmeras dificuldades que enfrentamos e estamos na luta para mudar. Cobramos o que é certo. Cobramos dignidade, qualidade de vida e valorização do profissional que coloca a sua vida a serviço da segurança pública.

P:Qual seria o efetivo ideal?

R:O efetivo ideal para hoje seria de, no mínimo, 30 mil homens, mas não temos nem a metade, pois se contarmos com os policias que entram de férias e licença, o efetivo não chega a 15 mil. Fica com apenas 12 e no máximo 13 mil policiais.
O governo formou 2 mil em 2012, época em que ocorreu o último concurso público para a Polícia Militar. De lá pra cá, aproximadamente mil homens já pediram reserva (aposentadoria). Então, a solução seria que o governo fizesse um levantamento para saber qual o número exato de policiais suficientes para dar maior segurança para a população e de fato realizar novos concursos públicos, mas recursos para a segurança pública nunca tem.

P: Não tem nenhuma previ são de concurso?

R: O governo tá anunciando o concurso há quase dois anos e até agora não saiu. O PM passa de seis meses a um ano pra se formar. Não existe uma meta do Governo. Cada vez fica mais difícil. A população aumenta e a segurança fica com o mesmo quantitativo.

P: Quanto ganha um PM no PA?

R: Com auxílio o soldado recebe R$ 2.800. Hoje nós trabalhamos em cima do fundo da segurança pública, com o objetivo de melhorar a condição do policial militar, na tentativa de igualar ao salário dos profissionais de Brasília, que chega a quase 7 mil, já que são regidos pela mesma lei.

(Camila Barreto/Diário do Pará)