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POLÍCIA

Morte de agressor não basta para apagar as marcas

Como era costume, às 5h, a estudante Ivana Palheta, 23 anos, cedo tomava banho para ir trabalhar. O banheiro foi construído fora da casa. Fechado apenas por uma cortina, a jovem viu a sombra de alguém. Sem esperar, um homem entra e tenta estuprá-la.  “El

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Como era costume, às 5h, a estudante Ivana Palheta, 23 anos, cedo tomava banho para ir trabalhar. O banheiro foi construído fora da casa. Fechado apenas por uma cortina, a jovem viu a sombra de alguém. Sem esperar, um homem entra e tenta estuprá-la.

“Ele entrou, veio para cima de mim e colocou o dedo na minha vagina. Eu gritei pela minha mãe e ele correu. Eu não consegui vê-lo porque estava escuro. Eu me lembro pouco. Sei que ele era moreno e forte. Na hora a gente fica nervosa e acaba não lembrando. A minha mãe apareceu e viu ele de costas. Chorei muito. Foi uma experiência terrível”, conta.

Traumatizada, a estudante passou três meses longe de casa. Durante esse período, precisou de acompanhamento psicológico. Ivana soube por uma amiga que o homem já a observava. “Eu fiquei sabendo por uma amiga que o conhecia que ele era usuário de drogas e já me observava. Eu não conseguia voltar para casa. Ficava com medo. Achava que ele fosse voltar lá”, diz.

Ela foi à delegacia e registrou boletim de ocorrência. Meses depois, foi informada sobre o assassinato do estuprador. O medo que ele retorne não existe mais. Entretanto, as recordações deixaram marcas. “Colocaram porta no banheiro, mas, se não tiver ninguém em casa à noite, eu não tomo banho”.

SILÊNCIO NÃO!

Em geral, as pessoas que sofrem esse tipo de violência se sentem responsáveis. Cada vez que a vítima vê, ouve ou sabe de algum caso, automaticamente a mente recorda a experiência traumatizante vivida. Muitas preferem não tocar no assunto.

Para a psicóloga Jureuda Guerra, é um erro não colocar para fora o que viveu. “A gente precisa falar do assunto para amenizar a situação. O fato de não poder falar faz com que as pessoas sofram muito mais. O silencio não é o melhor caminho. A pessoa não pode sair do lugar de vítima e ser coautora do crime’’.

A melhor forma de ajudar uma pessoa que foi violentada é não questionar o porquê de ela não ter gritado, tentado fugir, ou quem sabe reagir.

“A família ajuda muito se não ficar fazendo as perguntas: ‘Por que que você não gritou?’ A vítima diz: ‘eu tentei’, mas ninguém sabe o que é estar na mão de um doente. Ficar questionando a situação que envolveu a violência. Isso que faz com que a pessoa fique calada.”

E quando o estuprador é preso, condenado e solto?

Uma mãe, que prefere ter a identidade preservada, pediu para a filha de 12 anos ir à casa do tio buscar um objeto. Eram 15h de um sábado. A poucos metros, a garota precisava passar por um beco para chegar à residência do tio. A rua estava deserta, mas a menina foi assim mesmo. Um rapaz moreno, com aproximadamente 1,40m de altura, magro, sentado próximo a um supermercado desejou “boa tarde”. Ela não respondeu.

Apreensiva com a saudação inesperada, decidiu retornar para casa com o pedido da mãe cumprido. Ao passar novamente pelo beco, próximo a quitinetes abandonadas, o mesmo rapaz que havia desejado boa tarde saiu de trás de um muro e a amedrontou com uma chave de fenda.

“Quando ela voltava para casa, olhou na rua e não o viu. Ele estava escondido no canto do muro, na entrada da porta de uma quitinete. Quando ela foi passando, ele colocou uma chave de fenda na barriga dela e entrou para uma das quitinetes”, relata a mãe.

Segundo o depoimento da vítima, o estuprador perguntou como se chamava. Para intimidá-la, disse que, se contasse algo, mataria todos da família dela. Ela foi forçada a ter relações com ele. A tortura só acabou quando uma mulher apareceu em frente ao local.

“Foi uma mulher enviada por Deus. Na hora chegou uma pessoa à porta da quitinete. Nesse momento, ele pediu para ela se limpar e se vestir. Ainda disse para saírem de mãos dadas e não dizer nada. A mulher não desconfiou, porque pensou que fosse um casal de namorados.”

Quando conseguiu retornar para casa, desmaiou no colo da mãe. Muito nervosa e aos prantos, a menina contou o que havia acontecido. “Sentei com ela, conversamos. Ela dizia: ‘Pelo amor de Deus, não faça nada’. Ela só queria ficar escondida. Eu disse: ‘De jeito nenhum, minha filha. Vamos à delegacia’.”

AGRESSOR AO LADO

Ao relatar as características do estuprador, a mãe descobriu que ele morava atrás da casa delas. “Pela descrição, soubemos que era ele. Fomos para a delegacia. Os policiais invadiram a casa dele e ele não estava mais lá. A mãe o protegia. Ela disse que não poderia ter sido o filho porque há sete dias tinha deixado o presídio sendo acusado de estupro e ter matado a sobrinha. Só que não conseguiram provar a culpa dele, por isso estava livre.”

Naquela noite, a família e os vizinhos souberam pela mãe do estuprador que ele participaria de uma vigília em uma igreja. A irmã da vítima foi ao local. “Ele estava numa igreja de roupa social, gravata, com bíblia e tudo. A irmã dela foi atrás dele. Na hora vinha passando um carro da polícia. Levei o boletim de ocorrência até lá para que os policiais pudessem prendê-lo”, contou.

O que a mãe dela sabe é que o estuprador pegou uma pena de 14 anos, mas não cumpriu nem dois anos. Segundo ela, a mãe dele recebeu uma indenização da justiça e usou o dinheiro para tirá-lo da cadeira. Hoje ele está solto, ao contrário da vítima, que permanece presa às recordações.

“Se ela está assistindo TV e passa alguma reportagem de estupro, ela sai da sala. Ela nunca fica quando alguém comenta algo. Ela nem gosta de falar sobre o assunto’’, diz a mãe.

(Diário do Pará)

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