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PARÁ

Ambulantes buscam nos ônibus a oportunidade de conseguir uma renda extra

Aluno do curso de Tecnólogo em Segurança do Trabalho de uma faculdade particular de Belém, José Carlos Júnior, de 51 anos, não consegue emprego. Há mais de 10 anos sem ter a carteira assinada, ele resolveu trabalhar como ambulante há cerca de um ano e sei

Aluno do curso de Tecnólogo em Segurança do Trabalho de uma faculdade particular de Belém, José Carlos Júnior, de 51 anos, não consegue emprego. Há mais de 10 anos sem ter a carteira assinada, ele resolveu trabalhar como ambulante há cerca de um ano e seis meses vendendo chopp de fruta nos ônibus da capital. Essa é a realidade de centenas de pessoas que todos os dias pegam carona nos coletivos para tentar vender os mais variados produtos.

No caso de José, além de se manter em suas necessidades básicas como: alimentação, moradia, água e luz, o trabalho como ambulante lhe garante o pagamento da mensalidade de R$ 240 no curso que frequenta todas as noites, depois de vender seus chopps nos ônibus. “Tenho curso de radiologia médica completo. Já espalhei currículo por todos os lugares dessa cidade, mas ninguém me dá oportunidade alegando que já passei da idade. Por isso estou tentando um novo curso para ver se consigo alguma coisa”, diz.

Morador do bairro do Tapanã, ele conta que todos os dias acorda antes das 6h para pegar os chopps produzidos por outra pessoa, arrumar o isopor e seguir para pegar o primeiro coletivo antes das 8h. Ao preço de R$ 1 cada, ele diz conseguir um “bom lucro”, no final do mês, trabalhando de domingo a domingo. O problema, segundo ele, é encarar a rotina dura, sem pensar em desistir. “Não sei dizer em quantos ônibus
subo por dia”, afirma.

Essa também é a rotina enfrentada por Denior Conceição, de 35 anos. Casado há mais de 15 anos e com dois filhos, ele conta que viu a vida mudar após perder o emprego de vigilante. “Depois que fui demitido, há cinco anos, não consegui mais arrumar emprego nessa área. Tenho somente o ensino fundamental completo. Então fui vender chopp no Centro Comercial de Belém, mas meu freezer quebrou e não tive como consertar, por isso estou há cerca de um ano e meio vendendo amendoim nos ônibus. Acho que ninguém faz isso porque gosta, mas sim porque precisa. No meu caso, eu faço por amor a minha família, que depende desse trabalho aqui”, afirma.

O saquinho de amendoim custa R$ 1 e o ambulante diz conseguir uma média de R$ 1.000 por mês, trabalhando de segunda a sábado. “Dá para pagar o aluguel, comprar gás, comprar comida, pagar as contas de água e luz. O problema é que a gente não pode parar, porque senão passa fome. É muito difícil”, diz ele.

Morador do município de Marituba, na Região Metropolitana de Belém (RMB), ele começa suas atividades às 8h da manhã, mas não tem hora para terminar. “Minha meta é conseguir vender 100 pacotes por dia. Tem dias que consigo e tem dias que não. Muita gente se sente incomodada com a venda nos ônibus. Entendo essas pessoas, mas também gostaria que elas entendessem a nossa necessidade de trabalhar”, alega.

PICOLÉ

Aos 24 anos, Wallace Cruz trabalha como ambulante nos coletivos de Belém vendendo picolé desde os 10. Com uma rotina de mais de nove horas seguidas de trabalho, sem parar nem para comer, ele sonha em se tornar um técnico em conserto de celular. “Estou fazendo o curso. Atualmente tudo o que ganho na rua, tenho procurado investir nisso para ver se consigo sair dessa vida. Trabalho desde os 10 anos e gostaria muito de sair da pista (gíria usada por eles para identificar o trabalho de ambulante nos ônibus)”, conta.

Foto: Ney Marcondes

A pressa que não permite nem se alimentar enquanto trabalha é justificada. “Como trabalho com picolé, não posso passar muito tempo parado com esse produto, porque ele derrete e o prejuízo é todo meu”, explica ele que vende cada unidade que revende por R$ 1.

Para ele, o investimento para sair da venda nas ruas também leva em conta a volta aos estudos. “Nunca fiquei verdadeiramente sem estudar, mas sempre tive dificuldade para frequentar as aulas. Faltava muito, por isso me atrasei demais. Agora que estou fazendo a terceira etapa (que equivale a 7ª e a 8ª séries). Sei que se não tiver estudo nunca vou sair dessa vida, mas é difícil conseguir ir para a aula depois de um dia de trabalho como esse”.

A estratégia usada para vender o seu produto, segundo ele, é a simpatia. “Procuro primeiro mostrar que estou ali para trabalhar. Explico por que estou ali e, aos poucos, tento ganhar a simpatia das pessoas”, revela. A simpatia do vendedor, lembra ele, já valeu bem mais que nos dias atuais. “Antes eu conseguia tirar até R$ 80 por dia, mas com o crescimento do desemprego e o aumento da concorrência agora só consigo tirar no máximo R$ 40 por dia”, diz.

Brendo Silva, de 21 anos, também se esforça para voltar a estudar, mas a rotina de quase 10 horas nos coletivos na cidade vendendo jujuba não tem permitido. “É cansativo, quando chego em casa, já não tenho ânimo para estudar. Sei que preciso pelo menos para tentar mudar de vida, mas não estou conseguindo”, conta ele, que ainda não completou o ensino fundamental.

A estratégia de Brendo para conseguir cativar os clientes dentro do ônibus é mostrar “humildade e respeito”. “As pessoas não são obrigadas a comprar nada de mim. Por isso, quando entro no ônibus, procuro me apresentar, explicar que estou ali porque preciso me sustentar e procuro ser o mais sincero possível”, ressalta ele, um pouco antes de demonstrar como é feito seu trabalho em mais um coletivo.

Entre os usuários de ônibus é difícil encontrar quem simpatize com o trabalho dos ambulantes. “Me incomoda um pouco, porque são muitos, um desce e outro já sobe (no ônibus). Sei que muitos são pai de família e dependem desse trabalho para se sustentar, mas às vezes incomoda”, opinou a dona de casa, Joelma Ferreira.

(Alexandra Cavalcanti/Diário do Pará)

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