A alegria se espalha no meio da lama em Curuçá

Em Curuçá, na região nordeste do Estado, o bloco “Pretinhos do mangue” arrastou 20 mil pessoas pela principal avenida da cidade, ontem (3). Com os corpos cobertos de argila, os brincantes que se destacaram foram aqueles que usaram a criatividade para fazer algum adereço que completasse a fantasia.

Desde que foi criado, há 30 anos, o bloco tem a proposta de despertar a consciência ambiental e a preservação das áreas de mangue da região do salgado paraense. Este ano, a organização do evento optou por levar o tema para além do limite do município e fez uma crítica aos crimes ambientais de Brumadinho, em Minas Gerais. Nem mesmo a chuva tirou a magia da brincadeira no município.

Ainda não era nem 15h quando um grupo de carimbó começou a tocar num palco montado em frente ao porto - construído na área de mangue. O batuque do tambor anuncia para os foliões que está na hora de mergulhar e se lambuzar com a argila para sair no bloco.

(Foto: Fernando Araújo/Diário do Pará)

Contagiados pelo ritmo, muitos brincantes entram na roda de carimbó. Natural de Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó, o agricultor Lucival Filho, de 55 anos, decidiu conhecer o carnaval de Curuçá e levou a família e um pouco da cultura de sua região para os pretinhos. Ele cobriu com argila um pedaço de madeira para simbolizar o mastro de São Sebastião. “Em Cachoeira do Arari acontece a festa de nosso padroeiro e um dos momentos mais emocionantes é quando a gente ergue o mastro “, disse o folião.

CARROS

O coordenador do bloco, Edmilson Santos, o “Cafá”, lembrou que há 30 anos quando o bloco começou não chegava a reunir 20 pessoas. Hoje, o Pretinhos do mangue tem 20 mil brincantes - segundo dados repassados pela Polícia Militar. “A gente tem colhido muitos frutos. Conseguimos, de verdade, trabalhar a preservação do mangue na nossa região e precisamos fazer que isso seja feito por outras cidades aqui próximas”, comentou Cafá.

Ele ressaltou que o Pretinhos do Mangue já foi tombado como patrimônio imaterial de Curuçá. “Estamos aqui, mas hoje somos assistidos no mundo todo. Estamos com brincantes fazendo transmissão ao vivo pelas redes sociais e a imprensa fazendo uma grande cobertura”, celebrou Cafá.

(Foto: Fernando Araújo/Diário do Pará)

O bloco é puxado por um carro alegórico que tem um caranguejo gigante, porém outras alegorias retratam a fauna e flora da região. Em um carrinho de mão todo ornamentado com folhas e galhos um morador levou um boneco de uma ave guará. Porém, o que mais chamou a atenção, depois do caranguejo gigante, foi o carro alegórico do “avoado” - no qual peixes eram assados na brasa durante o cortejo.

“A ideia de trazer esse carro surgiu ano passado quando eu estava num bar assistindo a passagem do bloco e me deu fome. Passou um rapaz carregando carvão num carrinho de mão e logo atrás um pescador carregando um paneiro com peixe. Fizemos a brasa ali mesmo no carrinho e assamos o peixe”, explicou o comerciante Rosemiro Trindade, de 47 anos. Nesta terça-feira (5), o ‘pretinhos do mangue’ volta ao corredor da folia novamente para encerrar a programação de carnaval em Curuçá.

(Denilson D'Almeida/Diário do Pará)