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Até 11h por dia na estrada para que produtos cheguem ao consumidor

Os produtos enfileirados nas prateleiras dos mercados, as verduras e frutas e até mesmo os combustíveis disponibilizados nos postos fazem um longo percurso rodoviário até que eles possam ficar à disposição dos consumidores. Para que uma variedade grande d

Os produtos enfileirados nas prateleiras dos mercados, as verduras e frutas e até mesmo os combustíveis disponibilizados nos postos fazem um longo percurso rodoviário até que eles possam ficar à disposição dos consumidores. Para que uma variedade grande de produtos chegue aos centros urbanos, caminhoneiros autônomos e empregados de empresas de transporte chegam a percorrer uma média de 9.561 km por mês em uma jornada média de 11h de trabalho por dia. Esses e outros dados que traçam o perfil desses profissionais foram revelados por pesquisa divulgada, neste mês, pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).

Para fazer chegar os insumos aos centros urbanos, a maior parte dos caminhoneiros entrevistados pela pesquisa - o correspondente a 19,3% do total – passa de 16 a 20 dias longe de casa. Com o caminhão baú carregado de molas para colchão, o caminhoneiro autônomo Elcio Ferreira, 45 anos, saiu de Curitiba, cidade onde mora, ainda no dia 26 de novembro de 2018. Já no dia 18 de janeiro de 2019, ele seguia em viagem, desta vez aguardando por um carregamento no município paraense de Benevides.

Os dias longe dos dois filhos e da esposa já somavam 53, muito acima da média registrada pelos colegas de profissão, segundo a pesquisa. Diante de uma jornada tão longa, ele não titubeia ao anunciar a principal dificuldade da profissão para ele. “O mais difícil mesmo é ficar longe da família”.

Para aliviar a saudade, o caminhoneiro carrega sempre na boleia do caminhão as fotos dos familiares. Além delas, é o celular conectado às redes sociais que permite que tal saudade seja atenuada. As estratégias utilizadas para driblar a falta são exercitadas já há 23 anos, período pelo qual Elcio está na profissão – acima da média apontada pela maioria dos caminhoneiros ouvidos pela pesquisa, que é de 6 a 10 anos de carreira. “O meu pai foi caminhoneiro a vida inteira. Apesar de ele sempre ter dito que não queria que os filhos fossem caminhoneiros, eu me tornei um porque gosto mesmo de dirigir pela estrada”.

Por depender exclusivamente do próprio trabalho, Elcio faz o seu roteiro particular. Depois da saída do Paraná, ele passou por vários estados, com carregamentos diferentes, até que chegasse ao Pará. Em Benevides aguardava um carregamento de motos que levaria até a Bahia. Depois do Estado nordestino, ele ainda avaliaria se já conseguiria seguir para Curitiba novamente.

Entre as principais diferenças percebidas entre um trajeto e outro, além das condições das estradas, está o preço do combustível, item apontado pela pesquisa como o segundo maior entrave enfrentado pelos caminhoneiros. “Em Curitiba eu abasteço a R$2,93 o óleo diesel. Aqui no Pará já fica por R$3,60”, exemplifica.

Em primeiro lugar entre os entraves inerentes à profissão, o correspondente a 64,6% dos caminhoneiros entrevistados pela CNT destacam o risco de assaltos e roubos. Com 37 anos de profissão, o caminhoneiro Adalto Pereira Soares, 58 anos, nunca sofreu assaltos, mas as histórias de companheiros de profissão que passaram por tal situação de perigo chegam pelo rádio de comunicação mantido, de forma legal e autorizada, no veículo. “Um colega foi roubado recentemente em Minas Gerais. Ele estava pernoitando no pátio do posto de combustível e abordaram o caminhão. Roubaram o celular e os pertences deles”.

ESPERA

Quando estão à espera de algum carregamento, Adalto conta que os caminhoneiros chegam a ficar até três dias parados. No caso dele, que é funcionário de uma empresa de transportes, a carga é fixa. Adalto traz produtos de beleza saídos de São Paulo e, do Pará, leva a matéria-prima utilizada na produção dos cosméticos. “Como eu sou empregado, a viagem é sempre certa”, explica, ao avaliar o seu futuro na profissão. “Esse mês eu dei entrada na minha aposentadoria, mas eu vou continuar trabalhando porque tem que completar a renda. Ficar só com a aposentadoria não dá”.

Assim como no caso de Adalto, a necessidade financeira é o que motiva boa parte dos caminhoneiros a enfrentar a rotina cansativa da profissão. Para 55,7% dos entrevistados pela CNT, a situação financeira melhorou com a profissão de caminhoneiro. Do total, 23,8% apontam que um dos pontos positivos da profissão é o fato de ela ser financeiramente rentável.

Apesar do desempenho positivo, o retorno financeiro figura na quinta colocação entre as principais vantagens da carreira. Acima dele, no segundo lugar o ranking, está a possibilidade de conhecer pessoas. “Amizade a gente faz bastante mesmo. Esse ano mesmo eu passei o Natal na estrada em São Paulo e o Ano Novo em Castanhal”, conta o caminhoneiro natural de Minas Gerais. “Se não fizer amizade, fica difícil”.No pátio de um grande posto de combustíveis localizado na rodovia BR-316, em Benevides, as relações construídas entre os caminhoneiros e seus familiares ficam evidentes quando presenciada a troca de experiências entre uma família da Paraíba e outra de Minas Gerais.

Há cinco dias no mesmo pátio, as duas famílias se identificaram tanto que já se preparavam para ‘unir’ as cozinhas dos caminhões. Natural de Uberlândia (MG), a vendedora Roseane de Paula, 43, estava com o marido que é caminhoneiro autônomo. Nem sempre a companhia é possível. Roseane aproveita o período das férias para tal. “Quando eu não estou viajando com ele, ele chega a passar de 15 a 20 dias longe de casa”, conta, explicitando a saudade sentida não apenas por ela, mas também pelos três filhos do casal. “Aí quando ele chega em casa passa no máximo três dias”.

Uma família na estrada

As experiências sobre o período distante são compartilhadas com a jovem paraibana Janiele dos Santos, 16 anos, que, acompanhada pela mãe e pela irmã, seguia viagem com o padrasto que é caminhoneiro empregado de uma empresa de transportes. A família de Janiele seguia viagem com o padrasto durante as férias escolares.A dona de casa Roseline dos Santos, 33, conta que faz questão de, pelo menos nas férias escolares, levar as filhas Janiele e Franciele, 6 anos, para acompanhar um período da rotina de trabalho do caminhoneiro. “Acho importante para que elas tenham noção da vida, de onde vem o dinheiro que coloca comida na mesa”.

Além da rotina de trabalho em si, guiando o veículo por horas, a parada para descansar não é menos cansativa. Roseline lembra que nem sempre o marido encontra um bom local de parada. Em muitos pátios não há onde lavar as roupas ou tomar um bom banho. Com a família, o caminhoneiro José Francisco parou em um posto de Benevides que oferece uma boa estrutura: além de tanque para lavar roupas e de um banheiro limpo, há um parque para as crianças, wifi e televisão.

Ainda assim, mesmo com estrutura, a família destaca o que não é difícil perceber: a rotina não é nada fácil. “Imagina você passar várias horas dirigindo e, quando para, ainda tem que preparar a sua própria comida em uma cozinha pequenina”, considera Roseline. “E para a família também não é fácil porque a gente fica em casa só na espera, preocupada”. Ao longo dos 15 anos de profissão, as dificuldades enfrentadas por Francisco e os outros milhares de caminhoneiros são grandes. Apesar de todo o esforço, 43,8% dos caminhoneiros entrevistados pela pesquisa acreditam que são pouco valorizados, se considerada a imagem que a sociedade tem dos caminhoneiros.

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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