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A difícil rotina de quem espera para visitar presidiários

Amanhã de chuva é responsável por dificultar ainda mais o trajeto iniciado às 5h. Junto com as quatro sacolas recheadas de comida e mantimentos, pesam sobre o corpo os 64 anos de idade vividos sempre com muito sacrifício. Nas mãos, a carteirinha que dá ac

Amanhã de chuva é responsável por dificultar ainda mais o trajeto iniciado às 5h. Junto com as quatro sacolas recheadas de comida e mantimentos, pesam sobre o corpo os 64 anos de idade vividos sempre com muito sacrifício. Nas mãos, a carteirinha que dá acesso ao local de destino é também a evidência da condição que a mãe jamais pensou em enfrentar na vida, mas que, ‘sentenciada’ junto com o filho preso, segue já há quatro anos e meio. É dia de visita nas unidades prisionais da Região Metropolitana de Belém (RMB).

A sentença enfrentada pelo filho da aposentada Creuza (nome fictício, bem como das demais personagens desta matéria) passou pelo tribunal depois que, por volta dos 30 anos, o jovem, nas palavras da mãe, se “envolveu com o que não deveria”. Junto com a condenação dele, inevitavelmente veio a da mãe, a única familiar que lhe visita depois dele ir para o cárcere. No caso dela, a responsável pela sentença é a própria sociedade. “Ninguém sabe o que a família passa”.

Desde que o filho foi preso, os demais filhos de Creuza se mudaram de perto da mãe. A idosa não esconde o receio pela própria segurança, mas segue a luta imposta pela vida. “Ele era um rapaz que trabalhava, tinha a sua profissão e de repente se mete nessa situação”, lamenta. “Ele está com 35 anos. Já era para ter uma noção”.

A noção que ela esperava do filho ao chegar aos 35 anos não diz respeito unicamente à atitude que o levou a ser preso. Mas, sobretudo, à escolha que ele fez após já ter cumprido boa parte de sua pena. O filho passou 3 anos e 8 meses em regime fechado no Complexo Penitenciário de Santa Izabel. Porém, quando foi enviado para cumprir regime semiaberto, fugiu. Depois de recapturado, já está preso novamente em regime fechado. “Já está com 35 anos, era pra ter uma cabeça melhor”, repete, na medida em que a história é contada.

Creuza faz questão de visitar o filho aos finais de semana. Nas sacolas carregadas com dificuldade, ela leva lasanha, salada... “Não trago só para o meu. Tem muitos aí que a família abandonou, então eles se dividem”, explica. “Sempre que eu venho aproveito para conversar com ele, dizer que eu tenho esperança nele. Uma mãe não pode abandonar o filho”.

No caso da servidora Kenia, 50 anos, a situação já dura 13 anos e 8 meses. O marido dela chegou a cumprir parte da pena em uma das unidades do Complexo Penitenciário de Santa Izabel, porém, hoje segue no Presídio Estadual Metropolitano (PEM I), no Complexo Penitenciário de Marituba. Em um ou em outro, a senhora segue religiosamente a rotina de visitas aos finais de semana. “Eu nunca pensei passar por isso, mas foi o que a vida me reservou”.

Mais do que detalhar a atitude que levou o marido à prisão, Kenia faz questão de contar como o esposo se transformou dentro do presídio. Formou-se em teologia, virou pastor evangélico e casou-se com ela. “Às vezes a cadeia é boa para quem quer melhorar. O mundo em que ele vivia não é mais o dele. Hoje ele é realmente um homem de Deus”.

Pelo bom comportamento mantido ao longo desses anos e pelo trabalho, o esposo de Kenia está na expectativa de seguir para o regime semiaberto em 2019. Enquanto isso não acontece, ela segue a rotina de visitas, sempre preocupada em levar uma palavra de conforto e as comidas preferidas. “Ele adora tacacá e bolo”.

Na última visita, Kenia foi acompanhada pela filha Camilly, de 23 anos. A intenção da jovem, porém, não era necessariamente visitar o padrasto, mas sim o próprio marido que segue preso na mesma penitenciária que o marido da mãe. “Eu casei com ele aí dentro”.

RELACIONAMENTO

Diferentemente da mãe, no caso de Camilly a relação com o esposo iniciou quando o mesmo já se encontrava preso. Ela lembra que o casal chegou a manter um relacionamento anterior, mas que foi encerrado quando ela mudou de Estado. Na volta para Belém, Camilly encontrou o rapaz de 28 anos já preso, mas ainda assim ela decidiu iniciar a nova relação. “Eu não pensava que ia passar por isso, mas aconteceu”, diz. “É muito difícil, a gente sofre, mas acho que as visitas ajudam muito eles a mudar”.

Esta também é a aposta da autônoma Maria, 40 anos. O esposo dela segue na Central de Triagem Metropolitana III (CTM III) já há 9 anos. Assim como Camilly, ela também conheceu o companheiro depois de ele já ter sido preso. “Eu nunca tinha passado por uma experiência dessas. Eu conheci ele através de uma amiga, quando eu vim acompanhar ela em uma visita”, resume.

“Todos da família me criticaram e acham até hoje que eu sou louca, mas eu acredito na recuperação das pessoas e tenho certeza que o apoio da família faz a diferença”.
Apesar do companheirismo para com o marido, Maria não esconde o quão difícil é a situação. Até que se consiga entrar no presídio, é preciso passar por uma longa fila formada, não por acaso, exclusivamente por mulheres. Todo o esforço garante que Maria passe cerca de 7h por semana com o marido, de 9h às 16h de cada sábado.

“A revista é o mais difícil. Aqui é um lugar de sofrimento, mas eu passo por tudo isso por ele”, conta, ao revelar a expectativa de que, em breve, os encontros possam ser mais facilitados. “Como ele trabalhou todos esses anos e teve bom comportamento, teve revisão da pena e em 2019 vamos poder solicitar a remissão para o semiaberto”.

O esposo da Isabella, 28 anos, também deve seguir para a Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (CPASI) em janeiro. Até lá, o que resta é a angústia e a ansiedade de quem espera, já há três anos, do lado de fora. “É sempre difícil, principalmente nessa época do Natal”, relaciona. “Eu costumo passar o Natal em família, mas sempre falta ele”.

População carcerária

- O Pará é o 9º Estado brasileiro em população carcerária, com 228,67 presos por 100 mil habitantes;

- A projeção da Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe) era de que a população carcerária do Pará chegasse a 19.581 pessoas em dezembro de 2018. Em outubro deste ano, o número já era de 19.155.

- No Brasil, a média é de 306,22 presos por 100 mil habitantes;

Fonte: Susipe em números – Outubro de 2018.

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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