A centenária fé sobre as águas do rio Caraparu

A comunidade de Caraparu, em Santa Isabel do Pará, celebrou na manhã de ontem o Círio de Nossa Senhora da Conceição, que chegou a sua 100ª edição. Além da procissão terrestre, os fiéis realizam primeiramente uma procissão fluvial, com a imagem de Maria em uma pequena embarcação puxada pela Canoa dos Marinheiros.

A romaria pelo Rio Caraparu iniciou às 6h, após a alvorada. Com o céu nublado e neblina entre as árvores, a imagem de Nossa Senhora foi conduzida em um percurso sobre as águas de duas horas até a capela localizada na vila do Cacau, que se localiza às margens do rio, no terreno de uma fazenda. A berlinda, enfeitada com flores rosas e azuis, foi conduzida até a capela pelas mãos dos fiéis e colocada no altar da capela, onde o padre Rúzevel do Socorro Ferreira celebrou uma cerimônia, com participação do grupo coral da igreja. Neste momento, muitos fiéis se emocionaram.

Foi o caso de Flávio Varjão da Cunha, 33, que levou a filha Maria Heloise, que completou quatro anos ontem mesmo, como pagamento de uma promessa. “A gravidez da mãe dela foi de risco. Os médicos disseram até para fazer um aborto induzido, mas ela nasceu saudável. A minha tia fez essa promessa, na época, de trazê-la quando ela completasse quatro anos. Como minha tia faleceu, vim cumprir”, disse. A funcionária pública Silvia Ribeiro, 50, também aproveitou o momento para agradecer.

Ela mora em Belém e a convite de amigas que moram no Caraparu, já participa do Círio há oito anos. “Interessante que esse ano o rio está muito cheio, deixando a procissão fluvial ainda mais bonita. Antes era possível até ir empurrando as canoas. Gosto muito de participar”, comentou.

Após a celebração na capela, a romaria fluvial voltou com o barco da berlinda de Nossa Senhora da Conceição à orla da comunidade de Caraparu, onde chegou por volta das 11h.

Os fiéis saíram das canoas e foram em romaria terrestre até a igreja da comunidade, onde foi celebrada uma Santa Missa. De acordo com Walker Rocha, da comissão organizadora do Círio, as homenagens à Nossa Senhora da Conceição iniciam ainda em outubro, com ações de evangelização e peregrinações pelas casas da vila. “Visitamos também outras comunidades próximas, nessa mobilização de fé a Maria. Esse ano foi importante por ser o centenário da nossa romaria fluvial”, disse, completando que o tema foi justamente sobre o assunto: “Nos 100 anos do Círio Fluvial, com Maria Vivendo o Batismo, sejamos sal da terra e luz do mundo”.

PARA ENTENDER

HISTÓRIA DE FÉ

- A devoção à Virgem da Conceição iniciou na Vila de Caraparú, em 1905, por Sabino Ferreira de Souza com a recitação do terço e ladainha. O primeiro Círio foi realizado somente em 8 de dezembro de 1918, por José Ferreira de Souza e a tradição segue até os dias atuais. Em 2018, a romaria completa a 100ª edição.

- As primeiras romarias eram realizadas em canoas chamadas “reboque”, após algum tempo passou a ser conduzido por uma gôndola puxada por escaler e remo, por homens vestidos de marinheiro. Os mesmos eram acompanhados por várias irmandades em suas embarcações, enfeitadas com bandeirinhas e banda de música, que tocavam hinos sacros.

Fonte: Fundação Nazaré

(Dominik Giust/Diário do Pará)