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Avanços no tratamento permitem que a pessoa com HIV tenha qualidade de vida

Ainda em 1993, quando descobriu que era portadora do vírus HIV, Amélia Coelho Garcia chegou a pensar que não conseguiria viver com a qualidade de vida que tem hoje, aos 56 anos de idade. Na época, os medicamentos antirretrovirais – principal tratamento de

Ainda em 1993, quando descobriu que era portadora do vírus HIV, Amélia Coelho Garcia chegou a pensar que não conseguiria viver com a qualidade de vida que tem hoje, aos 56 anos de idade. Na época, os medicamentos antirretrovirais – principal tratamento destinado a quem vive com o HIV – ainda não eram distribuídos. Passados 30 anos da criação do Dia Mundial de Luta contra a Aids, comemorado neste 1º de dezembro, a eficácia dos medicamentos acumula avanços inegáveis, mas também há um alerta em Amélia e demais integrantes da sociedade civil organizada: não se pode banalizar a gravidade da Aids.

A descoberta da sorologia positiva para o HIV foi um grande susto para Amélia, que estava em uma relação estável. O exame que confirmou a condição foi realizado quando a então policial militar tentava fazer uma doação de sangue. De imediato, Amélia pensou que teria a vida encurtada. Mas, os avanços conquistados no tratamento para a Aids lhe possibilitam manter uma vida com qualidade até hoje, 25 anos depois.

“De 1993 a 1996 não havia ainda os antirretrovirais. Nessa época eu cheguei a pesar 46 quilos porque tive algumas doenças oportunistas”, lembra. “Mas eu tomo os antirretrovirais desde 1996, faço o tratamento todos esses anos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e hoje a minha carga viral é indetectável”.

Apesar desse histórico de vitória proporcionado pela adesão adequada ao tratamento, Amélia faz questão de destacar que viver com HIV não é uma missão fácil. A afirmativa se faz necessária, segundo ela, porque algumas vezes a eficácia do tratamento acaba por gerar, na sociedade, a falsa ideia de que viver com HIV não é tão grave assim – constatação percebida ao longo das diversas palestras, bate-papos e acompanhamento de pacientes que ela faz desde que decidiu militar em prol da prevenção da Aids.

“Tem tratamento, mas toda medicação é invasiva. Muita gente morre mesmo tomando remédio porque, muitas vezes, as pessoas não têm condições de manter toda a cadeia de prevenção positiva que é necessária”. Essa cadeia a qual Amélia se refere inclui, além da ingestão da medicação nos horários corretos, o acompanhamento médico periódico com verificação frequente da carga viral; prática de exercícios físicos regulares; a necessidade de evitar o consumo de bebidas alcoólicas; a manutenção de uma boa alimentação e cuidados auxiliares para evitar a contração das chamadas doenças oportunistas.

Além da medicação voltada para fortalecer a imunidade, os antirretrovirais, Amélia lembra que ainda precisa fazer uso de remédios para proteger o seu organismo de possíveis reações adversas. “Eu tenho que proteger o meu fígado e o meu estômago, por exemplo, porque são mais de 20 anos tomando remédio todos os dias”, considera. “Não é fácil fazer a adesão ao tratamento”.

No centro do desafio que é seguir à risca o tratamento, desponta outra grande dificuldade enfrentada pelas pessoas que vivem com HIV desde a descoberta do vírus, 35 anos atrás: o preconceito. Presidente do Grupo para Valorização, Integração e Dignificação do Doente de Aids (Paravidda), Jair Santos aponta que, muitas vezes, a pessoa que vive com HIV enfrenta dificuldades em manter ou conseguir um emprego, o que causa efeito direto na dificuldade de manutenção do tratamento.

PRECONCEITO

“Muitas vezes o indivíduo não consegue manter uma boa alimentação porque, quando ele se descobre com Aids, ainda tem o preconceito que faz com que ninguém lhe dê emprego e ele vai viver, em muitos caos, em situação de miséria”. Tal realidade é constatada, segundo Jair, na própria rotina de atendimento do Paravidda ao longo dos 27 anos de existência da entidade. Ele lembra que, até mesmo com os cuidados necessários, não é garantido que todas as pessoas com HIV terão a mesma reação ao tratamento. “As pessoas acabaram banalizando, romantizando a epidemia, mas nem todo mundo que faz uso da medicação, o organismo reage da mesma maneira para ficar com a carga viral zerada”, alerta. “Ainda se morre por Aids no Brasil e isso precisa ser dito”.

Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), 384 pessoas morreram em decorrência da Aids no Pará apenas em 2018. No acumulado de 2014 a até julho de 2018, o número de pessoas que morreram por complicações relacionadas à doença chegou a 3.004. O registro ainda preocupa, apesar de o Ministério da Saúde apontar uma redução de 4,8% no coeficiente de mortalidade por Aids, no Estado, no período acumulado de 2014 a 2017. Nesse intervalo, a taxa passou de 8,2 para 7,8 mortes por 100 mil habitantes no Pará.

Paravidda tem 1.500 usuários inscritos

Jair Santos preside casa de apoio. (Foto: Irene Almeida)

Diante de uma taxa de mortalidade ainda elevada, o presidente do Paravidda Jair Santos avalia que é necessário retomar a parceria entre Governo do Estado e a sociedade civil organizada. Jair lembra que o Paravidda atua como uma casa de apoio às pessoas que vivem com HIV, onde eles podem ter, gratuitamente, atendimento psicológico, de assistência social e participar de grupos de adesão, onde têm a oportunidade de falar sobre as suas experiências e, sobretudo, receber orientações sobre a adesão ao tratamento.

A entidade tem 1.500 usuários inscritos, sendo que, destes, cerca de 400 frequentam a instituição com maior regularidade. “Estamos na ponta do serviço, ouvimos as histórias de pessoas que vivem com HIV todos os dias, então temos o conhecimento de como promover a prevenção ao vírus”, destaca Jair. “Apesar disso o Governo não tem a sensibilidade de sentar com a gente para discutir a política de Aids”.

Jair destaca, ainda, que não adianta promover a construção de mais hospitais ou a capacitação de mais médicos, se não houver um trabalho intenso voltado para a prevenção ao HIV. “Precisamos falar mais de Aids e não esperar que aconteça o Dia Mundial ou a campanha do Carnaval para isso”, critica. “Parece que a Aids só acontece na época do Carnaval e das campanhas pontuais, mas não é. A Aids está todos os dias na vida da sociedade, influenciando comportamentos e a gente precisa desmistificar isso”.

Sede do Paravidda, em Belém. (Foto: Irene Almeida)

CAMPANHA

Coordenador de referência técnica de IST/Aids e Hepatites Virais de Secretaria Municipal de Saúde de Belém (Sesma), Cledson Sampaio destaca que a mais recente campanha de prevenção ao HIV, promovida pela gestão municipal iniciou no último dia 30 e deve seguir até o término do Carnaval, em março de 2019. “Por ocasião do ‘dezembro vermelho’ estaremos distribuindo material educativo para as ONGs e unidades de saúde”.

Cledson aponta que, pela rede municipal, todas as unidades de saúde já dispõem do teste rápido para a detecção do HIV, Sífilis e Hepatites B e C. Nas próprias unidades ou mesmo no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), o indivíduo pode solicitar o 1º teste e, caso positivo, é feito um novo teste para confirmar a sorologia e, dando positivo novamente, o paciente é encaminhado para a referência do atendimento a portadores do vírus, a Casa Dia.

De acordo com a coordenação, desde que o serviço da Casa Dia foi criado, há 18 anos, 10.400 pessoas foram matriculadas, sendo que 7 mil fazem tratamento atualmente. Desse montante, 65% estão fazendo a medicação chamada de ‘3 em 1’, antirretroviral considerado de primeira linha para o tratamento do HIV. “A medicação é encaminhada pelo Ministério da Saúde conforme o número de casos notificados”, explica Cledson.

Com relação à parceria do Governo com a sociedade civil organizada, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) afirmou, através de nota, que “a coordenação estadual do Programa de IST/Aids informa que sempre esteve disponível para diálogos permanentes com membros das Organizações Sociais, em sua sede situada no prédio da Sespa na avenida Padre Eutíquio, e que tem atendido com normalidade os pacientes que demandam atendimento
e tratamento”.

(Cíntia Magno/Diário do Pará)

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