Jovens sob tutela do Estado lançam livros de bolso a partir de suas vivências

Escrever um livro é colocar um pouco de si para fora, e a própria jornada da escrita pode ser libertadora. Foi o que experimentaram seis jovens autoras que moram em um abrigo em Belém. Vindas de uma realidade de vulnerabilidade social, elas utilizaram suas vivências, memórias e sentimentos para produzir de autobiografias a romances ficcionais. Com uma tiragem de 100 exemplares, alguns livros ficarão disponíveis para profissionais do serviço social, outros para projetos sociais e familiares das autoras.

Sob a tutela do poder público, as escritoras, que têm entre 14 e 16 anos, não podem ser identificadas. Mesmo assim, se dizem felizes em saber que suas histórias chegarão a outras pessoas, em especial, àquelas que podem estar passando por situações como as que viveram. “Escrevi esse livro para essas pessoas”, diz a autora da ficção “Amor de Adolescente”. E conta que deseja ser escritora. “Eu sempre escrevia histórias em cadernos, mas nunca pensei que alguém poderia se interessar por elas. Eu fiquei feliz quando vi o livro, percebi que posso continuar escrevendo e um dia publicar como esses escritores que a gente vê”.

Também serão lançados os livros de bolso “Dor e Superação”, “Zoie! Segredo e Tragédia de Uma Vida”, “Onde Está Alexandra?”, “O Diário de Ewelen” e “A Menina Mãe”. Este último traz uma das histórias mais emocionantes, partindo da experiência de sua autora, que engravidou aos 15 anos, e, passando por problemas de dependência química, acabou perdendo a guarda da filha. “Depois que ela nasceu, eu percebi que a queria muito e, agora, luto pra que eu possa ficar junto dela, novamente. Escrever sobre essas coisas ainda me emociona, mas foi bom, porque eu entendi que poderia superar as dificuldades, com a ajuda das pessoas”, conta.

SEMENTES

O projeto literário começou de forma quase espontânea. A educadora Lécia de Sousa conta que usava cadernos para cada uma das meninas desenvolverem suas tarefas. Concluído o tempo normal de atividade, elas pediam para ficar com os cadernos e a professora percebeu que elas escreviam além do que fora pedido. “Foi uma surpresa e passei a estimular que elas escrevessem mais, sobre o que quisessem”, conta. “Algumas histórias acabam refletindo a convivência delas com as outras meninas do abrigo, as lembranças e relações com a família – ou a ausência desta -, além de sonhos e vivências extremamente pessoais”, completa.

O projeto deu tão certo que acabou recebendo o nome de “Sementes”, na intenção que continue a gerar frutos a serem colhidos por suas autoras ao longo de toda a vida. E foi também um marco para o Espaço de Acolhimento Dulce Accioli, mantido pela Fundação Papa João XXIII (Funpapa), local onde elas vivem. “Ver o desenvolvimento delas é uma grande alegria. Ler o que elas escreveram é uma vitória fantástica. Me emocionei muito com o que li, porque são histórias que nos tocam o coração”, comenta Carla Moraes, coordenadora do abrigo há 16 anos. A intenção é que o projeto continue produzindo publicações periodicamente e sirva de exemplo para outras instituições sociais.

Onde Achar

Os livros estão disponíveis por intermédio da Funpapa.

Onde: Av. Nazaré, 489- Nazaré

Informações: (91) 3073-1670/ 3073-1651

(Lais Azevedo/Diário do PArá)