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Transporte alternativo em Belém é marcado por luta por direitos e risco de assaltos

A produtora cultural Priscila Duque, moradora de Icoaraci, distrito de Belém, já foi assaltada duas vezes, um dia seguido do outro, quando deslocava-se em uma van do centro de Belém para a sua casa, um percurso de cerca de 20 quilômetros. Era noite e, da

A produtora cultural Priscila Duque, moradora de Icoaraci, distrito de Belém, já foi assaltada duas vezes, um dia seguido do outro, quando deslocava-se em uma van do centro de Belém para a sua casa, um percurso de cerca de 20 quilômetros. Era noite e, da primeira vez, levaram o celular. Na segunda, ainda sem ter comprado outro aparelho, entregou a quantia em dinheiro que tinha na bolsa aos assaltantes.

“Para muitas pessoas que moram lá, esse é o único transporte disponível tarde da noite. Os ônibus que passam são poucos e demoram muito. Então, para nós, essa é por vezes a forma de voltarmos para casa. Depois desse episódio, ocorrido em 2016, deixei de pegar van. Mas meu gasto com transporte aumentou, costumo usar aplicativos de mobilidade. De ônibus demoro de duas a três horas para chegar em casa”, comenta.

O medo de assaltos em vans ronda a população que precisa usar esse tipo de transporte para poder andar pela Região Metropolitana de Belém (RMB), já que as rotas comuns percorrem a BR-316, a avenida Augusto Montenegro e os bairros do Jurunas, Guamá e São Brás. Roberto Filho, 20, também morador de Icoaraci, já precisou muito das vans, mas optou por não mais utilizar esse tipo de transporte.

“Andar de van é muito perigoso, pelos riscos de assalto. Nos ônibus também ainda é menos inseguro e eu posso pagar meia-passagem como estudante também”, conta, observando também a péssima estrutura do chamado transporte alternativo, que não fornecem cintos de segurança, conforto ou mesmo a circulação com a porta lateral fechada.

“É comum vermos as vans superlotadas. Param muito e enquanto não encher não anda”, detalha o estudante. Priscila Duque, que é mestre em Ciências Sociais, observa que este cenário de falta de opção de transporte para o cidadão e a violência está relacionada com a degradação da cidade em outros aspectos também.

Ela comenta que o transporte em Belém está deteriorado. “Para mim, vivemos em uma cidade em ruínas. O transporte coletivo não funciona, já são anos e anos para a construção do BRT. Há um claro inchaço populacional. É por isso que as vans têm espaço para crescer”, analisa. “Então, esse problema não se resolve apenas com segurança pública e infraestrutura, se não houver uma mudança na própria cidade com mais políticas de educação, saúde, moradia, lazer, cultura, saneamento”, completa.

PARADA

Na BR-316, ao lado de um shopping center e perto do Pórtico Metrópole, as vans e micro-ônibus têm até parada própria, diferente do ponto dos ônibus da linha regular. Moradora de Marituba, na RMB, Samara Pantoja, 23, trabalha como vendedora ambulante e é dessa forma que ela se desloca de casa, numa área de invasão, até lá, onde trabalha há cinco anos.

“O ônibus me deixa muito longe de casa, por isso acabo pegando as vans, mesmo sabendo que é pior, por conta dos assaltos. Fico com medo. Mas é mais rápido também, fico de 45 minutos a uma hora no trânsito”, comenta.

Talia Gonçalves, 19, estudante, moradora do Distrito Industrial, em Ananindeua, também prefere pegar a van no ponto das vans. “Ônibus demora muito e é lotado. É o jeito pegar van, mas acho perigoso. Já fui assaltada aqui na parada mesmo, pegaram a minha bolsa e levaram. Gostaria que tivesse mais ônibus e policiamento aqui. A prefeitura deveria tomar conta, mas não estão nem aí para o povo”, reclamou.


(Foto: Fernando Araújo/Diário do Pará)

Busca pela regularização do serviço

Um motorista que preferiu não se identificar por ainda estar na irregularidade, disse que a luta dos cooperados é constante pela regularização, pois o transporte de passageiros é a única forma de sustento de muitos que atuam no ramo. Ele conta que foi um dos primeiros a fazer o serviço com as vans. “Isso começou com os feirantes do Jurunas, Guamá e da Cremação que pediam para ir ao Ver-o-Peso comprar produtos e levar para suas vendas”, comenta.

Ele continuou contando que foi surgindo também a demanda pelo serviço de transportar outras pessoas que queriam sair de suas casas, nos bairros periféricos. A rota que a Cootrajur opera - saindo da Praça do Relógio e passando pela avenidas Dr. Assis, praça do Arsenal, Estrada Nova, Fernando Guilhon, Roberto Camelier, José Bonifácio até o Terminal - foi fruto desse percurso dos feirantes. Eles não transitam pela avenida Almirante Barroso, por exemplo, por correrem o risco de ter o carro apreendido pela Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob).

TRABALHO

“Nós lutamos pela nossa legalização porque abriram as portas de empregos, isso movimenta a economia e não nos deixa desempregados. Eu dependo disso, tenho filhos e netos”, disse o motorista, que começa a trabalhar às 6h da manhã e para às 19h e tem uma renda de R$ 250 a R$ 300 por dia, que sustenta a família e faz a manutenção do veículo.

Sobre os assaltos, os próprios trabalhadores das vans sentem medo também e anseiam que, com o serviço de transporte de acordo com a lei, a segurança possa melhorar no dia a dia. “A nossa vida também está em risco. Tem dias que não dá pra saber quem é quem. Já fui assaltado por pessoa bem vestida que entrou na van”, disse um dos cooperados.

Para Leide Coelho, presidente da União dos Proprietários de Vans (Uniprovan), criada há cinco anos, a regulamentação da atividade, por outro lado, deve aumentar os gastos com impostos. Ela diz que o assunto, por enquanto, está parado. “Esse diálogo com a Prefeitura até agora não está ocorrendo”, afirma.


(Foto: Fernando Araújo/Diário do Pará)

Regulamentação depende de licitação

Em nota, a Semob informou que o processo de regulamentação do serviço de transporte complementar de passageiros, contendo as regras para fiscalização e prazos de implantação, será formulada pelo órgão. No entanto, isso depende diretamente da conclusão da licitação de concessão do Sistema do Transporte Coletivo de Belém, uma vez que os alternativos funcionarão de forma complementar ao serviço.

A Prefeitura disse também que a licitação do transporte coletivo está ocorrendo dentro dos prazos legais e assim que essa etapa for concluída, o transporte complementar (hoje os clandestinos) será regulamentado.

“Até lá o serviço é fiscalizado não como transporte, mas do ponto de vista de trânsito como qualquer outro veículo e sempre que as vans são flagradas sem condições de trafegabilidade, com portas abertas, excesso de velocidade ou de passageiros, falta de cinto de segurança ou conduzidas por motoristas inabilitados, sofrem as penalidades previstas pelo Código de Trânsito Brasileiro, como multa e apreensão do veículo”, informa a Semob.

(Foto: Fernando Araújo/Diário do Pará)

Jurunas, Guamá e São Brás

Há uma circulação de vans no qual os cobradores denominam de “Jurunas, Guamá e São Brás”, que passa pelo Ver-o-Peso e ruas da Cidade Velha, como as vias Dr. Assis e Dr. Malcher, onde causam transtornos com paradas que causam engarrafamentos, na proximidade do Porto do Sal. A linha sai da Praça do Relógio e termina na rua Cipriano Santos, no bairro de Canudos.

Os motoristas que fazem esse circuito são os mais antigos de Belém, de acordo com cobradores e condutores. Eles fazem parte da Cooperativa de Transporte Rodoviário de Passageiros do Jurunas, criada em 2010, e contam que o trabalho das vans começou a se fortalecer em 2000.

Há também uma outra cooperativa que reúne os motoristas. Hoje existem cerca de 150 cooperados na Cootrajur com cerca de 400 a 500 pessoas envolvidas diretamente na prestação do serviço, com 125 vans - que circulam em rodízio. De segunda a sexta-feira, param 25 e sábado e domingo todas trafegam.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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