Coincidências? 22 mototaxistas foram assassinados na Grande Belém este ano

Nos últimos dez meses, 22 mototaxistas foram assassinados na Região Metropolitana de Belém (RMB). Um levantamento realizado pelo DOL mostra que, em sua maioria, as mortes foram registradas nos bairros próximos da avenida Augusto Montenegro, sendo treze os executados: Mangueirão (6), Cabanagem (3), Marambaia (1), Parque Verde (1), Tenoné (1) e Castanheira (1).

Uma fonte da Polícia Civil informou ao DOL que a polícia investiga a ação de um "esquadrão da morte" financiado pelo tráfico de drogas e que tem vendido proteção aos mototaxistas. Ou seja, quem não paga, morre. Os cobradores do esquadrão surgem nos pontos de serviço dos mototaxistas, munidos de uma lista e afirmam que a cobrança estaria visando melhorias do espaço.

Segundo uma fonte residente no bairro da Cabanagem, o tráfico tem cobrado de todos os mototaxistas, que atuam na Augusto Montenegro, uma taxa no valor de R$ 10 por semana. Enquanto isso, uma outra vertente da investigação aponta que, além de serem cobrados em seus postos de trabalho, mototaxistas estão envolvidos também com o transporte de drogas - modalidade conhecida como "aviãozinho".

"Eu desconheço [a cobrança do tráfico]. Se isso acontece, com certeza não é com mototaxista legalizado", diz Aroldo Moreira da Silva, conhecido como "Nei", presidente da Associação de Moto Taxi Express (Amex). Há seis anos trabalhando na categoria, ele afirma que a classe "não é bem vista pela elite", mas que pessoas "de má indole estão em todas as profissões".

LISTA DE MORTES

O primeiro crime da capital foi em abril. Rafael Henrique de Oliveira, de 24 anos, foi executado por ocupantes de um carro preto na avenida Independência, esquina com a avenida Brasil, no bairro Cabanagem. Rafael estava no ponto de trabalho quando foi surpreendido pelos seus algozes.

Também no referido mês, um outro mototaxista foi executado. O crime aconteceu no dia 23 de maio, na rua principal do conjunto Panorama 21, próximo a avenida Augusto Montenegro, no bairro Mangueirão.

A sequência de mortes continua com Marcelo da Silva Tenório, de 26 anos, assassinado também próximo ao conjunto Panorama 21, no Mangueirão. As motivações do crime, até então, não tinham sido divulgadas.

Outro mototaxista foi executado com, pelo menos, dois tiros na nuca. O crime aconteceu na rua da Mata, conjunto Médici, bairro da Marambaia. O mototaxista estava no posto de trabalho quando foi rendido por um dos integrantes do carro preto e alvejado sem a menor chance de defesa.

Também em maio, outro mototaxista foi executado. Hamilton Marques Pereira, de 35 anos, estava na na avenida Transmangueirão, no posto onde trabalhava. Um carro cinza se aproximou da vítima e três homens desceram do veículo, efetuando os disparos logo em seguida. Hanilton não tinha passagem pela polícia e morreu no local.

A quarta vítima em menos de um mês foi identificada apenas como "Jean". Ele foi assassinado na avenida Augusto Montenegro, também na entrada do conjunto Panorama 21. As motivações do crime não foram relevadas.

Fagner Macedo Machado, de 29 anos, foi assassinado na madrugada do dia 16 de agosto. Além de mototaxista, ele era proprietário de uma loja de conveniências no bairro Parque Verde. A vítima estava em frente o local quando foi alvejada com mais de 40 tiros disparados por homens que estavam em um carro modelo Honda City.

Um outro mototaxista, não identificado, foi morto em frente o conjunto Natália Lins, na avenida Augusto Montenegro, no bairro Mangueirão. Além da morte, outras duas pessoas ficaram feridas com os disparos. Os responsáveis pelo crime não foram identificados.

Jeferson Nascimento, de 34 anos, trabalhava como mototaxista e foi executado a tiros no bairro Tenoné. Dois homens são os autores do crime. Eles aguardavam a chegada da vítima no final da sexta linha. A dupla chegou atirando e não deu nenhuma chance de defesa à vítima, que não tinha envolvimento com o crime e nem sofria ameaças.

Diego da Silva Modesto, conhecido como "Gordo", era mototaxista e foi assassinado no conjunto Catalina no bairro Mangueirão. Diego estava cercado de amigos, aproximadamente 15 pessoas, quando um veículo parou e dois homens desceram, pedindo para que se afastassem. A execução foi imediata. Segundo informações, a vítima tinha envolvimento com crimes.

Rodolfo Cavalcante de Souza foi morto a tiros por uma dupla na passagem Álvaro Adolfo, próximo a passagem Péricles Guedes, atrás do shopping Castanheira, em Belém. Rodolfo trabalhava em um ponto de mototáxi em frente ao banco Banpará e não tinha passagem pela polícia.

Jackson Martins de Oliveira, de 26 anos, foi assassinado na manhã do dia 5 de novembro em frente à delegacia da Cabanagem, na avenida Independência. A vítima estava a caminho da freira quando um veículo se aproximou, um homem desceu e efetuou os disparos. Jackson foi alvejado na cabeça e morreu na hora. Os suspeitos fugiram. Ele não tinha passagem pela polícia, nem envolvimento com drogas.

O último homicídio levantado foi com a vítima Ederson Silva da Conceição, de 31 anos. Ele estava na avenida Independência e foi surpreendido por dois homens em uma moto. Ederson era mototaxista e não tinha passagem pela polícia.

OUTRAS MORTES

O levantamento mostrou também que foram registradas mortes de mototaxistas em Ananindeua (4), Marituba (2), Altamira (1) e Santa Izabel do Pará (1). Sendo a mais recente o caso de Ronilson dos Reis Ferreira, sequestrado por encapuzados no Jaderlândia, em Ananindeua. Ele foi encontrado morto três dias depois do sequestro.

(DOL)