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Especialista diz que falta de política pública são causas de incêndios no Pará

Apenas nos últimos 40 dias, pelo menos 60 pessoas perderam suas casas em incêndios ocorridos em Belém - um no bairro do Jurunas, outro na Pedreira e o terceiro no Telégrafo. Os dois últimos foram registrados em um intervalo de apenas três dias entre um e

Apenas nos últimos 40 dias, pelo menos 60 pessoas perderam suas casas em incêndios ocorridos em Belém - um no bairro do Jurunas, outro na Pedreira e o terceiro no Telégrafo. Os dois últimos foram registrados em um intervalo de apenas três dias entre um e outro. Nos três casos, a proximidade entre as casas e o fato dos imóveis serem feitos de madeira – material altamente combustível - contribuíram de forma significativa para que o fogo se alastrasse rapidamente.

Na manhã de quarta-feira (7), os moradores de oito casas localizadas na passagem Rosa Lemos, no bairro do Telégrafo, ainda contabilizavam os prejuízos do incêndio ocorrido no início da tarde do dia anterior. Quem estava no local lembra da rapidez com que o fogo consumiu as moradias de várias famílias. “Primeiro pegou fogo no fio elétrico da rua e depois foi pra minha casa”, lembra a autônoma Rosineide Doralice, 33 anos. “Só deu tempo de chamar o meu filho, pegar a bebê e sair”.

Felizmente, ninguém ficou ferido no acidente. Porém, a maior parte das famílias atingidas perdeu tudo o que tinha – inclusive todo o enxoval da filha caçula de Rosineide, que tem apenas três meses de vida. Muitos moradores são da mesma família e moravam no local desde o nascimento, incluindo a matriarca da família, Maria do Socorro, 60 anos. “A gente nunca desconfiou que pudesse acontecer uma coisa dessa”, considera Rosineide. “Queimou tudo e agora o que nos resta é reconstruir a vida”.

Irmão de Rosineide, Beto Melo, 31 anos, também morava na residência da frente, a que ficava mais próxima do meio fio. Além dele e da irmã, moravam no local mais cinco pessoas: outro irmão, a matriarca da família e três netos. “Eu estava trabalhando quando o fogo começou. Não deu para salvar nada”, lembra Beto. “A vizinhança que abriu as suas casas para dar abrigo para a gente”.
Assim como Rosineide e Beto, cerca de 26 pessoas de doze famílias do bairro da Pedreira também tentavam reconstruir a vida na última semana. Elas perderam suas casas em um incêndio ocorrido apenas três dias antes do registrado no Telégrafo. Da mesma forma, todas as casas destruídas eram de madeira.

Para a coordenadora dos cursos de Engenharia Civil 4.0 e Arquitetura e Urbanismo do Cesupa, a engenheira civil Andreia Conduru, o material utilizado em algumas construções e a ocupação desordenada do território urbano pode contribuir para o risco de ocorrências como incêndios, por exemplo. “A gente vê muitas casas de madeira, às vezes com coberturas até de plástico e esses são materiais altamente combustíveis”, relaciona. “Uma bagana de cigarro que caia pode levar a um foco de incêndio até de grande proporção, como os que têm acontecido na cidade”.

OCUPAÇÕES

A professora destaca que as ocupações desordenadas são formadas, na maioria das vezes, por construções feitas de forma irregular, o que acaba aumentando os riscos para ocorrências de acidentes. O centro do problema, porém, é que tais ocupações ocorrem justamente porque existe uma carência de políticas públicas habitacionais e de planejamento urbano.

“Precisaríamos de uma política de planejamento urbano implementada para definir o uso e ocupação do solo”, aponta. “Isso feito precisaríamos de um acompanhamento dos órgãos públicos na execução dessas habitações, que o Governo ao menos disponibilizasse engenheiros e arquitetos para acompanhar essa execução, indicando quais os materiais corretos, a melhor forma de execução daquela habitação”. Até mesmo uma orientação básica já contribuiria para que tais moradias fossem construídas de maneira mais adequada. Andreia lembra que, na maioria das vezes, a população não tem condições de contratar profissionais da arquitetura e engenharia para projetar e construir a moradia. “Quando a pessoa não tem todos os materiais adequados, muitas vezes faz o reaproveitamento de material elétrico. Isso tudo acaba contribuindo para a ocorrência de incêndios”.

Apesar do risco, para a professora, a tendência é de crescimento de ocupações desordenadas não apenas no Pará, como no Brasil como um todo. “As ocupações desordenadas tendem a aumentar até que a gente tenha uma política de planejamento urbano, uma política habitacional implementada e que dê conta dessa demanda”, considera. “Além de uma política econômica, claro, que ajude também essas pessoas em uma inserção profissional para conseguirem um espaço melhor”.

Já são 3.836 ocorrências de incêndios no Pará este ano

Quando considerado o total de incêndios registrados no Pará em 2018, os números chamam a atenção. De janeiro a até o último dia 5, o Corpo de Bombeiros Militar do Estado atendeu a 3.836 ocorrências de incêndio, sendo que 932 ocorreram em edificações. Diante de tal número, órgãos de proteção apostam em ações educativas para prevenir novas ocorrências.

Comandante operacional do Corpo de Bombeiros, o coronel Roger Teixeira aponta que a corporação não tem uma atuação voltada para cobranças de cumprimento de protocolos em residências, já que o dispositivo legal dos Bombeiros aponta que sejam realizadas vistorias principalmente em habitações multifamiliares, área comercial e industrial.

De qualquer modo, o comandante destaca que a forma de promover a prevenção a incêndios junto às comunidades está, justamente, através de campanhas educativas. “O programa ‘Comunidade Mais Alerta’ faz esse mapeamento de risco na comunidade, aponta as áreas e faz a visita nas comunidades, levando palestras às escolas, centros comunitários”.

O alerta é necessário porque, segundo Teixeira, a ação humana pode diminuir os riscos de ocorrência de incêndios. Apesar de não terem nenhuma ligação entre si, os últimos incêndios registrados em Belém têm mantido uma característica: ocorrem quando as residências estão vazias. “Seria muito importante se a população, na ausência de pessoas em casa, procurasse desligar os eletrodomésticos”, alerta. “Quando estiverem em casa, que sejam vigilantes e, diante de qualquer fuga de normalidade – como superaquecimento ou faísca -, que procurem desligar o aparelho e deixar o local o quanto antes”.

IMPACTO

É pela presença do material altamente combustível que os incêndios ocorridos em vilas com casas de madeira costumam apresentar um grande impacto. Após a ocorrência de algum sinistro do tipo, a Defesa Civil do Município atua no sentido de neutralizar os prejuízos e avaliar a proporção do dano para que as vítimas possam recorrer aos programas sociais.

Presidente da Defesa Civil do Município, Carol Rezende aponta que muitos incêndios atendidos são provocados por pessoas, seja de forma acidental ou não. Também por isso, ela diz que o órgão promove a prevenção através de ações educativas. “Fazemos cursos de capacitação e qualificação de voluntários da Defesa Civil e essas pessoas atuam também na conscientização da população”.

Sobrecarga de energia elétrica

- Outro fator de risco é a sobrecarga da rede elétrica. Nesse sentido, o coronel dos Bombeiros alerta que o uso de adaptadores de tomada com mais de uma entrada – conhecidos como benjamins - não é recomendável. “Uma rede de energia é dimensionada para uma tensão e carga elétrica. Quando a pessoa utiliza um benjamim, conectando vários aparelhos em uma única rede, vai ocasionar uma sobrecarga”, explica Roger Teixeira. “Isso pode ocasionar um princípio de incêndio e, se houver a presença de material combustível no local, vai aumentar a propagação do fogo”.

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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