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Transporte de urna no Pará tem helicóptero, barco na madrugada e até búfalo

A cidade de Belém com seus altos prédios fica para trás, assim como o sinal de celular, e o barco que carrega seis urnas de votação avança pelo Rio Guamá. São 6h10 de domingo, e o sol ainda é ameno. A equipe se aproxima da primeira ilha, uma das comunida

A cidade de Belém com seus altos prédios fica para trás, assim como o sinal de celular, e o barco que carrega seis urnas de votação avança pelo Rio Guamá. São 6h10 de domingo, e o sol ainda é ameno.

A equipe se aproxima da primeira ilha, uma das comunidades ribeirinhas do município que vão receber as urnas para a eleição. A paisagem muda rapidamente: costas verdes e palmeiras de açaí, casas de palafita, garças e canoas.

Neste trajeto, os técnicos e o barqueiro levam os equipamentos para três pontos: Ilha do Combu, Piriquitaquara e Ilha Grande. Segundo o secretário de tecnologia do TRE do Pará, Felipe Brito, o estado tem a eleição mais cara e complexa do país. Neste ano, o custo foi de R$ 40 milhões.

A logística vai desde helicóptero, barco e avião até carro de mão, canoa, búfalo e carroça de boi.

Apesar de ser o segundo maior estado em extensão, atrás do Amazonas, o Pará é o mais populoso da região Norte, com 5,5 milhões de eleitores. "Ao contrário do Amazonas, a população está muito dispersa, o que dificulta a logística", diz Brito. Em 2018, são 3.552 seções eleitorais rurais, 1.334 ribeirinhas e 63 indígenas.

Em muitas localidades, como as ilhas Combu e Grande, não há acesso à internet. Por isso, a equipe transporta também um aparelho de comunicação por satélite para a transmissão do resultado. Para que as urnas cheguem até essas ilhas, o trabalho começa ainda na madrugada, na área urbana de Belém.

Às 4h42, Nazareth Pereira, 60, e seus colegas já circulavam atarefados pelo 29º cartório eleitoral, em um clima de euforia e ansiedade.

Ela não dormiu na noite de sábado, assim como muitos dos funcionários do local. "É cansativo, mas gratificante. Tem uma alegria de participar desse momento importante para o país", diz.

Nazareth é a chefe do cartório, há 38 anos, no TRE do Pará. Neste domingo, comanda 54 pessoas, encarregadas de preparar e enviar as urnas para três bairros da cidade, além das ilhas. Antes da viagem, a equipe se reúne para um farto café da manhã, com tapioca, bolos, ovo, lanches e frutas. "Fazemos uma vaquinha", explica Nazareth. Com alguns quitutes já devorados, ela avisa que é o momento de fazer a tradicional oração pelo sucesso das eleições.

O grupo se reúne ao redor da mesa, e o operador de sistemas Victor Eymard, 35, inicia as preces: "Senhor, guarde o nosso dia e a nossa estrada. Que a gente seja uma ponte entre o eleitor e os candidatos, que tudo corra bem".

A equipe se dá as mãos e reza um Pai Nosso. Ao final, fazem uma selfie e aplaudem. Os funcionários que vão para as ilhas precisam sair mais cedo e comem apressados.

Às 5h39, começa a clarear, e as primeiras urnas são colocadas em dois carros, que seguem de comboio.

No porto, o barqueiro Luiz Ribeiro, 54, em sua quinta eleição na função, aguarda com uma lancha. Os técnicos entram com os equipamentos.

Às 6h23, a equipe chega à sua primeira parada. Amarram o barco em um porto rústico, em uma escola municipal no Combu e passam as urnas de mão em mão. Um dos técnicos desembarca, e o resto segue viagem por outro rio, o furo da Preguiça.

As casas ficam mais dispersas, e o sinal de celular some de vez em quando. Às 6h48 a equipe chega ao segundo local de votação, uma escola na comunidade de Piriquitaquara. O último técnico no barco se despede do colega, Samuel Silva, 26. "Bom trabalho, Samuca!", grita.

Samuel vinha empolgado no caminho, era a primeira vez que trabalhava nas eleições. "Estou eufórico, essa agitação, a logística toda... Definitivamente é a festa da democracia", diz ele, que ganhou R$ 1.800 por mês pelo trabalho, que se estende até o segundo turno.

Foi ele quem reparou que as cabines de votação –aquele papelão que garante a privacidade do eleitor– estavam faltando. Luiz grita do seu barco para o da reportagem: é preciso voltar a Belém. São 7h10.

A equipe segue até o Rio Guamá, em busca de sinal de celular. Comunicam o problema ao cartório, que se compromete a enviar as cabines até o porto.

Mas voltar para Belém significaria atrasar a votação, na Ilha Grande, que ainda não havia recebido as urnas. Luiz propõe então usar o barco alugado pela reportagem.

Um voltaria até Belém, enquanto o outro faria a entrega da última urna. No meio do rio, trocamos de lancha e liberamos uma para o serviço.

Às 7h22, a equipe chega à Ilha Grande, depois de uma hora de viagem. O último técnico, Carlos Rodrigues, 27, é recebido na beira do rio pelos mesários e a presidente da seção.

Entre eles, Norberto Marques, 27, estava ansioso há três dias. "Fico com vontade que chegue logo, porque é uma data especial", diz o mesário, que trabalha na extração de açaí e mora na ilha.

Ali, como a internet é fraca e instável, a maioria dos eleitores ainda se informa pela televisão. É o caso da dona de casa Raimunda Silva, 61, e o agricultor aposentado Manuel Isidorio Pereira, 66. O casal chegou às 5h30, de barco. Apesar de ser a primeira da fila, Raimunda não estava animada. "A gente vota para melhorar, mas as coisas só pioram", afirma. Para ela e o marido, a experiência foi sofrida.

Raimunda ficou tensa para colocar o nome nos papéis. "Ela não escreve, tem muita dificuldade com a assinatura", explicou a presidente da seção, uma professora da ilha.

Na vez de Isidorio, a biometria falhou quatro vezes. Ele esfregava os dedos na camisa, tremendo. "Não sei o que está acontecendo", dizia. "Respire, seu Isidorio, respire", aconselhou a presidente da seção, sua conhecida. Após vencer a biometria, Isidorio penou na urna. "Fiquei muito nervoso", admite, ao sair da seção.

A Unidade Pedagógica São José, escola onde ocorreu a votação, ficou movimentada. Vários barquinhos e canoas atracavam na beira do rio, para desembarque dos eleitores. Dentre eles, por volta de 8h20, uma lancha trouxe a cabine, que foi rapidamente instalada. Cercada de mata e de palmeiras de açaí, a escola de madeira é simples, como a comunidade. Galinhas, patos e cachorros andam soltos pelo local, enfeitado com uma bandeira desbotada do Brasil.

Durante a votação, o técnico Carlos Rodrigues instalou e testou o equipamento de transmissão por satélite. "É uma grande responsabilidade", diz. Assim como Combu e Ilha Grande, 396 localidades no estado precisam enviar os resultados por esse tipo de aparelho.

Para o gerente técnico do TRE do Pará, Wagner da Silva, a eleição funciona porque há apoio da população. Em comunidades afastadas, em que não é possível chegar de barco, os ribeirinhos aguardam os técnicos na beira dos rios com búfalos, para ajudar na distribuição das urnas. "O povo gosta de participar. A comunidade acolhe, dá lugar para dormir, mata um boi ou uma caça, faz uma festinha para receber o pessoal", conta.

Quando há algum imprevisto, diz Silva, a população se mobiliza para resolver. "Eles têm interesse em eleger alguém que olhe por eles, a eleição é uma esperança".

(Folhapress)

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