Realizada este ano, pesquisa mostrou como se comportam as famílias brasileiras quando o assunto é desperdício de alimentos. A iniciativa faz parte do projeto Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil, liderado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com apoio da Fundação Getúlio Vargas.
O interesse da União Europeia no tema surgiu a partir da iniciativa Sem Desperdício, uma parceria da Embrapa com a WWF Brasil e FAO. A pesquisa reforçou que o gosto pela fartura aumenta a propensão de ocorrer desperdício porque, em uma parcela das famílias, as sobras são consideradas “comida dormida”.
Especialista em comportamento do consumidor da Secretaria de Inovação e Negócios da Embrapa, Gustavo Porpino explicou que a pesquisa foi dividida em três etapas. No primeiro momento, pós-graduandos de mestrado em Gestão Internacional da FGV entrevistaram 62 consumidores em supermercados, lojas de conveniência e feiras livres na cidade de São Paulo. Em seguida, 1.764 famílias responderam um questionário sobre consumo de alimentos e desperdício.
Deste total, 638 famílias enviaram fotos de seus hábitos alimentares. “Por exemplo, hortaliças e verduras são desperdiçados mais pelas classes A e B. Isso demonstra que as classes mais baixas pouco consomem esses itens. Além disso, as famílias não se veem como parte do problema. Elas sempre apontam que isso é feito por conhecidos e parentes”.
Na terceira etapa, foi avaliado como o tema desperdício de alimentos está alinhado a outros. “Na internet foram identificados 6.595 conteúdos diretamente relacionados a desperdício de alimentos. Desse total, 75% eram postagens de instituições públicas ou privadas. Serve de indício para mostrar que o Brasil não tem problema só no início da cadeia, mas no final”.
PROJETO
A Embrapa desenvolve, através do Núcleo de Responsabilidade Sócio-Ambiental (Nures), a ação denominada Gerenciamento de Resíduos. Criado em 2009, o Nures surgiu para garantir o tratamento e a destinação adequada dos resíduos produzidos dentro da empresa - como lata, papel e outros. Em 2017 a Embrapa iniciou um processo de transformação de resíduos orgânicos em adubo orgânico, utilizando as sobras de alimentos que seriam descartados.
Diariamente, o restaurante produz uma média de 6 quilos de resíduos orgânicos que se transformam em adubo orgânico. “Calculando a sobra dos alimentos preparados, tivemos uma redução de mais de 20% nas compras”, explica a engenheira de produção e gerente administrativa do restaurante, Auxiliadora Prestes.
Segundo o agrônomo do Setor de Transferência de Tecnologia da Embrapa, Silvio Levy, a destinação mais adequada é o processo de compostagem. “Coletamos esses resíduos no restaurante, pesamos e mandamos para a composteira. Na composteira calculamos uma relação de 17 para 1, que é a matéria seca (serragem), mais o material úmido (resíduo orgânico), mais o inoculante que pode ser esterco bovino, bubalino, de aves, para transformar esses resíduos e formar o composto orgânico”, explica.
Segundo Silvio, esse resíduo produzido pelo restaurante, seria enviado para o aterro de Marituba. “No ano passado fizemos uma coleta de 4 meses e impedimos que fosse para Marituba quase uma tonelada de resíduos orgânicos do restaurante. Foram transformados em compostos orgânicos para serem utilizados tanto na pesquisa quanto na transferência”, diz.
O objetivo é gerar consciência ambiental para que empresas, donas de casa, feirantes, agricultores, sejam capacitados e atuem como multiplicadores. Essa capacitação é ofertada pelo Nures. Basta procurar a Embrapa para solicitar a capacitação.
Embrapa tem projeto que transforma resíduos orgânicos em adubo. (Foto: Wagner Santana/Diário do Pará)
Comerciantes da Ceasa querem transformar resíduo orgânico em adubo
Na Ceasa – Centrais de Abastecimento do Pará, todos os dias vão para o lixo, quase 40 toneladas de alimentos. Para mudar essa realidade, os membros da Associação dos Comerciantes e Usuários da Ceasa- PA (Assucepa) buscaram junto à Embrapa a capacitação para destinar corretamente os resíduos com o processo da compostagem.
“As compactadoras suportam 4 toneladas de resíduos que depois de comprimidos, sem o chorume, o material será catado para separar o que não for orgânico. Só então ele receberá uma camada de folhas secas para se tornar um adubo de qualidade. Depois de separado na área vamos vender a preço baixo para os pequenos produtores da Ceasa”, explica César Renan, membro da associação.
Com o projeto, Renan afirma que haverá a diminuição de custos para a Ceasa. “Estamos com uma expectativa muito boa para que o projeto seja aprovado. Cerca de 15 pessoas que trabalham com coleta na Ceasa participaram da capacitação, em julho. Atualmente temos um custo de quase R$ 126 mil para jogar fora os resíduos orgânicos. Com a aprovação do projeto, além de diminuir os custos, criaríamos emprego e renda e ainda contribuiríamos com o meio ambiente”.
(Pryscilla Soares e Josiele Soeiro/Diário do Pará)
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