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Museus pedem socorro: Goeldi opera no limite

Em setembro do ano passado, a direção do Museu Paraense Emílio Goeldi publicava uma carta à sociedade detalhando a situação de desespero em que se encontrava. O museu pedia desesperadamente por socorro.  Além do congelamento de investimentos no setor por

Em setembro do ano passado, a direção do Museu Paraense Emílio Goeldi publicava uma carta à sociedade detalhando a situação de desespero em que se encontrava. O museu pedia desesperadamente por socorro.

Além do congelamento de investimentos no setor por 20 anos imposto pelo Governo Federal, havia sofrido um corte de quase metade do orçamento previsto para 2017 de R$ 12,7 milhões e não tinha recursos para se manter em funcionamento. A ameaça de fechamento era mais real do que nunca.

Os pedidos de socorro do Goeldi foram atendidos em parte e sua sobrevivência garantida. Um ano depois, no Rio de Janeiro, o final da história seria bem pior.

O Museu Nacional do Rio de Janeiro, que já havia emitido vários alertas ignorados pelo poder público, foi atingido por um incêndio e grande parte de seu acervo, um dos maiores do mundo, com 20 milhões de itens, foi queimado para sempre. A tragédia anunciada expunha o desleixo do Poder Público com o setor.

Infelizmente foi preciso um museu ser destruído para ser criado um debate nacional sobre a maneira que cuidamos de nossa memória. Museus de todos os estados brasileiros passaram a expor publicamente a degradação destes espaços e cobrar respeito dos governantes.

Em Belém, a situação mais assustadora foi justamente a do Emílio Goeldi, uma pérola amazônica mal tratada de todas as maneiras pelo poder.

Falta Dinheiro Até Para Pagar Energia Elétrica

Na capital paraense, existem cerca de 20 museus espalhados pela cidade. Destes, seis são administrados pelo Governo do Estado através da Secretaria de Estado de Cultura (Secult): o Parque da Residência, onde estão localizados o casario em estilo eclético, que é sede da secretaria, o Teatro Estação Gasômetro, o anfiteatro, o orquidário e o Cadilac ano 50, veículo oficial utilizado pelo governador Magalhães Barata e, posteriormente, por outros dirigentes; o conjunto urbanístico e arquitetônico Feliz Lusitânia, que compreende a Igreja de Santo Alexandre, parte do casario da rua Padre Champagnat, Casa das 11 Janelas, Corveta Solimões, Forte do Presépio e o entorno urbanístico; o Palácio Lauro Sodré, onde está instalado o Museu do Estado do Pará; o Arquivo público do Estado do Pará; o Theatro da Paz e o Palacete Faciola.

O Emílio Goeldi, que recebe cerca de 215 mil visitantes por ano e possui quatro bases físicas, incluindo um campus avançado no estado do Mato Grosso, possui administração própria e está ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), um ministério dilapidado pelo atual Governo Federal.

Com a falta de investimentos o desespero é generalizado e por mais que o poder público tente de alguma forma omitir a real situação, pesquisadores, trabalhadores e frequentadores do museu fundado no final do século XIX denunciam o descaso.

De voz firme e determinada, uma pesquisadora bolsista, que prefere não se identificar, contou à reportagem a lastimável situação do Emílio Goeldi.

O relato expõe de forma impactante a triste situação. Não há dinheiro sequer para pagar a conta de energia elétrica e comprar lâmpadas.

“Durante o período em que estive lá presenciei momentos em que faltava luz. Em alguns casos faltava luz por dois dias e era necessário mover os freezers com tecidos de animais de um departamento para o outro. Alegava-se que esses cortes ocorriam por falta de pagamento das contas. Em uma das conversas entre os trabalhadores do departamento, um dos técnicos responsáveis comentou que dívida chegava a R$ 100.000,00”, conta a pesquisadora, que teve sua bolsa cortada pelo Governo Federal.

Nem lâmpadas adequadas existem no local e os pesquisadores precisam andar com lanternas em alguns setores do prédio. A situação era tão constrangedora, que segundo a pesquisadora a curadora do museu cogitou pagar por conta própria pelas lâmpadas.

“O laboratório de herpetologia do MPEG é bastante espaçoso, contém salas separadas para os estudantes de mestrado e doutorado, bolsistas e orientadores. A limpeza é feita diariamente. O problema encontra-se nas lâmpadas da sala de triagem de material (proveniente de todo o Brasil e do mundo) e do local onde fica armazenada a coleção herpetológica. Na primeira, somente uma lâmpada funcionava, havia mais de seis. Na segunda, das mais de dez lâmpadas somente duas funcionavam e, por isso, o uso de lanternas era imprescindível. Pela falta de incentivo governamental, as lâmpadas não eram trocadas e em alguns momentos a curadora cogitou tirar do próprio bolso o pagamento da troca de lâmpadas”.

Cássio Albuquerque, paraense que mora e frequenta o museu há vários anos, diz à reportagem que a situação é pior do que se imagina, e atinge não apenas os pesquisadores, mas todos os paraenses.

“O negócio tá tão feio que até os criminosos entram a vontade lá. Teve um caso que lembro, eu estava dentro do museu nesse dia, em que uma estudante foi assaltada dentro do museu às 8h da manhã, e o criminoso ainda conseguiu fugir. Teve também outro caso, quando três homens invadiram lá, e sem falar nos arrastões que rolam a tarde nas proximidades, afastando os visitantes”, conta.

Cássio também fala sobre a falta de cuidado com a paisagem botânica. Apesar do museu ter passado recentemente por uma pintura, resultado de uma parceria entre o Governo Jatene e uma empresa de tintas, o lixo jogado em grande quantidade ao lado do museu acaba com a beleza local.

“A frente do museu pode ser chamada de lixão a céu aberto. A população do entorno joga lixo na calçada do museu, de dia mesmo, na frente dos seguranças do local e ninguém faz nada. Além do cheiro insuportável, a presença de urubus é constante”, diz Cássio.

Futuro

A direção do Museu Emílio Goeldi reconhece as dificuldades e vem lutando para que os cortes recentes não prejudiquem gravemente a instituição. O local não passa por uma reforma integral há vários anos (apenas algumas reformas pontuais segundo a direção) e opera no limite estrutural.

Após a pressão feita pelos membros do Emílio Goeldi e pela sociedade, a instituição conseguiu junto ao MCTIC manter seu orçamento (que havia sido cortado quase pela metade) de R$ 15.426.022,00, pouco para um museu com a importância do Emílio Goeldi.

(Igor Wilson/DOL)

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