É possível que pouco da história arqueológica do Pará também tenha se perdido junto com boa parte do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, atingido por um incêndio de grandes proporções na noite de domingo (2). Em uma análise preliminar, a assessoria do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) estima que pelo menos 100 peças de coleções marajoaras que estavam no prédio, em exposição. Por terem em comum o fato de que os dois são os museus de Pesquisa e Ciência Natural mais antigos do Brasil, o desastre chama a atenção também para os riscos diários enfrentados pela infraestrutura do MPEG, erguida há 152 anos, e que por pouco não fechou as portas no ano passado por falta de orçamento para custeio e manutenção. Hoje, a fachada do Goeldi amanheceu com uma grande faixa preta escrita “Luto”. A coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação do Museu, Dra. Ana Vilacy Galúcio, afirma que não tem o conhecimento detalhado sobre o que mais do acervo paraense estava lá. No entanto, ela admite que as dificuldades enfrentadas pelas duas instituições não são muito diferentes. “Estamos desolados, é essa a palavra. Muito se perdeu, mas a sociedade não pode permitir que o Museu Nacional se destrua por inteiro”, avalia ela, que se recusa a falar no passado ao se referir ao prédio bicentenário carioca. Mesmo assim, agora o Goeldi se tornou o museu de ciências mais antigo do Brasil em atividade. Ela adianta que desde que souberam do ocorrido os pesquisadores e curadores já falam em uma espécie de força-tarefa para ajudar a recompor o espaço - tal e qual ocorreu no Instituto Butantan (SP), em 2010, quando a comunidade científica mundial se uniu para fazer doações a fim de ajudar refazer o acervo. “Museu é um testemunho de conhecimento, de biodiversidade social e cultural. Pode auxiliar na criação de políticas públicas ao indicar a validade de investimentos em determinadas espécies, seja por raridade, ou ameaça endêmica”, reforça a pesquisadora. A Cultura Santarém (ou Cultura Tapajônica), que se desenvolveu entre o século X e o século XV, estava representada em estatuetas antropomorfas de estilo naturalista. O local também contava com diversos exemplares de muiraquitãs, pequenas estatuetas em pedra verde na forma de animais (sobretudo rãs) utilizados como adornos ou amuletos, da Cultura Konduri, originária da região entre os rios Trombetas e Nhamundá, bem como a do Rio Trombetas, no Baixo Amazonas.
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(Carol Menezes)
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