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Retrato do abandono em escolas estaduais

Nos últimos dias, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp) percorreu algumas escolas de Belém para constatar quais são os problemas nessas unidades. Entre as principais demandas levantadas está a ausência de carteiras para que o

Nos últimos dias, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp) percorreu algumas escolas de Belém para constatar quais são os problemas nessas unidades. Entre as principais demandas levantadas está a ausência de carteiras para que os alunos possam estudar.

Na segunda-feira (14), na Escola Estadual Paulo Fonteles, bairro da Pratinha, alunos vestiram seus uniformes e se dirigiram até a entrada da escola, mas o objetivo era protestar. Através de mensagens grifadas em cartazes, os estudantes pediam por melhores condições de aprendizado, por uma quadra de esportes para prática de educação física e até mesmo por carteiras para sentar.

Um dos professores do colégio, que pediu para não ser identificado, explicou que, durante o período de provas, é preciso ter revezamento de carteiras. “Cerca de 10 alunos fazem a prova, enquanto os 30 restantes aguardam do lado de fora da sala. Quando os 10 terminam a prova, entram mais dez para começar a prova deles e por aí vai”, aponta. “Isso tudo porque não tem carteiras suficientes para que todos façam a prova ao mesmo tempo”.

Pelos corredores da escola é possível ver uma quantidade considerável de carteiras quebradas, sem encostos ou sem assentos. Nas salas de aula, cadeiras de madeira se misturam às carteiras, deixando evidente a situação de improviso. Ainda nas salas, a situação absolutamente precária dos ventiladores instalados no teto preocupa.

Para o estudante do terceiro ano do ensino médio, Melquezedeque Maia dos Santos, 26 anos, tais condições atrapalham, e muito, o aprendizado. “É difícil estudar sem carteira, ou em carteira que não tem o encosto, ou não tem o apoio para o caderno”.

Em preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Melquezedeque aponta ainda outros graves problemas. “Não temos professores para algumas disciplinas, como a de artes por exemplo. Como eu vou fazer o Enem esse ano se não tenho todas as aulas que são cobradas?”, questiona. “Também não temos merenda porque não tem a pessoa que faça a comida, não temos aula de educação física porque não tem quadra e ano passado tivemos de fazer uma gincana para arrecadar material de limpeza para a escola”.

Mato alto toma conta da área externa da Escola Prof. Temistocles de Araújo (Foto: Maycon Nunes)

Há apenas um bebedouro para a escola toda e foi adquirido pelos professores (Foto: Maycon Nunes)


Pelos corredores da escola Paulo Fonteles é possível ver carteiras quebradas (Foto: Fernando Araújo)


Alunos da Paulo Fonteles protestaram (Foto: Fernando Araújo)

PROBLEMAS

Na Escola Estadual José Alves Maia, no Telégrafo, os alunos enfrentam problemas estruturais com relação aos banheiros e bebedouros, que estão em condições precárias. O professor de artes Gilmar Pinheiro aponta que também faltam servidores para áreas de apoio. “Enfrentamos falta de funcionários para atuar como inspetores, orientar os alunos. Não temos laboratório de informática e os bebedouros e banheiros estão em péssimas condições”, apontou. “A categoria está em greve justamente para lutar por um ensino de melhor qualidade”.

Professores precisam fazer coleta

Jeedi Gomes criou projeto para o plantio de hortaliças na escola (Foto: Maycon Nunes)

O sindicato voltou a percorrer, na tarde de quinta-feira (17) escolas estaduais na capital. Novamente, foram encontrados vários problemas. Falta de merenda escolar, goteiras e iluminação precária estão entre as situações encontradas.

Nesse dia, a greve dos professores da rede pública estadual de ensino tinha completado 16 dias. Secretária de formação do Sintepp, Silvia Letícia da Luz explicou que a visita nas escolas é uma forma de mobilizar a comunidade escolar para o movimento e, também, de saber com os pais, alunos e professores quais são os problemas em cada instituição.

Para além disso, o Sintepp está elaborando um dossiê detalhando a situação de cada escola para entregar a órgãos como o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e outros para cobrar do Governo do Estado ações efetivas para resolver os problemas. Com mato alto em toda área externa, na Escola Estadual Prof. Temistocles de Araújo, bairro da Marambaia, funciona uma Unidade Seduc na Escola (USE) e deveria oferecer atividades em tempo integral. Porém, a instituição não dispõe de estrutura adequada.

HORTA

Tanto é que o diretor da instituição, Jeedi Gomes, criou o Projeto Horta, no qual alunos e professores se uniram para fazer o plantio de hortaliças na área da escola, como uma maneira de suprir parte da carência de alimentos que há na instituição.

“A horta é uma estratégia porque não recebemos hortaliças e leguminosas da Seduc. Os professores fazem coleta para comprar os temperos, legumes, feijão e o gás de cozinha porque nem isso a Seduc manda. E a horta visa transformar a escola em auto-sustentável”.

Situação de abandono

A escola passou por reforma e foi entregue em outubro passado. Mas, a quadra não foi feita, continua sem cobertura. Espaços como biblioteca, auditórios e laboratórios de informática não funcionam. Na biblioteca, os próprios professores conseguiram algumas estantes para arrumar os livros. Além disso, há apenas um bebedouro para a escola toda e foi adquirido pelos professores com a renda de um festival de açaí que a comunidade escolar realizou.

Reclamações

Aluno do 2º ano do ensino médio, Heverton Diamantino, 18, abraçou o projeto da horta. “A gente só tem uma refeição e é sempre sardinha com macarrão. A gente não consegue passar o dia todo na escola, que é de tempo integral, só com uma refeição”. Com a falta de limpeza e manutenção, não é difícil encontrar bichos como caracóis, ratos e baratas. “Às vezes as aulas são interrompidas por causa das goteiras nas salas”, diz. “ A gente quer uma merenda digna e uma escola adequada para o ensino”, afirma.

“É uma péssima alimentação, não tem biblioteca, sala de informática, quadra é descoberta. Quando chove acaba não tendo a educação física. A própria sala de aula muitas vezes tem goteira”, pontua o professor de história Eurico Júnior.

Escola está sem merenda

Na Escola Francisco da Silva Nunes, alunos sofrem com o calor (Foto: Maycon Nunes)

Na Escola Estadual Integrado Francisco da Silva Nunes de ensino médio e técnico, também na Marambaia, os alunos precisam dar seu jeito de comprar ou levar lanche de casa porque a instituição não recebe merenda escolar da Seduc.

Nas salas de aulas há somente ventiladores e alguns não funcionam. Alunos e professores padecem com o calor. Também há goteiras e a iluminação é precária.

“Comecei a estudar esse ano aqui, fui percebendo os problemas e fui reclamar para a direção. Eles dizem que a merenda será normalizada, mas não quando. E sobre o calor nas salas, dizem que é falta de dinheiro para colocar centrais”, diz Jackson Souza, 31, aluno do curso técnico em vigilância e membro do conselho estudantil da instituição.

Segundo ele, a merenda parou de chegar há cerca de duas semanas. “Os alunos têm de comprar. A gente sofre com o calor, principalmente a tarde. As salas estão com infiltrações, goteiras e a iluminação da escola também não é boa”.

(Cintia Magno e Pryscila Soares/Diário do Pará)

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