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Ver-o-Peso chega aos seus 391 anos de puro encantamento

Em um breve caminhar pelos mais de 25 mil metros quadrados de feira, os estímulos vêm de todos os lados. Seja pelo aroma do açaí com peixe frito que anuncia uma das grandes tradições locais, pelo burburinho das conversas que quase sempre resultam em longa

Em um breve caminhar pelos mais de 25 mil metros quadrados de feira, os estímulos vêm de todos os lados. Seja pelo aroma do açaí com peixe frito que anuncia uma das grandes tradições locais, pelo burburinho das conversas que quase sempre resultam em longas risadas ou mesmo pela cor viva do tucupi que preenche o olhar. Completando 391 anos de existência neste dia 27 de março, o Complexo do Ver-o-Peso é como um convite ao exercício dos sentidos.

Beirando a Baía do Guajará, o tucupi é destaque entre o amontoado de pessoas que trabalham desde as primeiras horas da manhã. Ainda antes que os olhos alcancem o colorido moldado pelas garrafas PET, é o cheiro do líquido fervente que prende os sentidos. Em um espaço quase improvisado, os caminhos que levam à extração do líquido estão postos, disponíveis à visão dos mais curiosos.

Na ponta final do processo que resulta no engarrafamento do tucupi, o feirante Josiel de Souza Silva, 37 anos, dá continuidade à história entrelaçada com o Ver-o-Peso há cerca de um ano. Antes funcionário de uma transportadora de cargas, quando se viu desempregado, Josiel recorreu ao mercado mais famoso de Belém. “A oportunidade que eu tive foi no Ver-o-Peso”, conta, sem interromper o derramar do tucupi fervente pelo funil para a garrafa.

Antes de se tornar um dos 5 mil trabalhadores ocupados na feira livre, o contato de Josiel com o Ver-o-Peso se restringia às lembranças da época da infância. Quando ia até o local na companhia dos pais, as barracas espalhadas pelo espaço ainda eram de madeira.

A época também é lembrada pelo feirante Manoel da Luz, 64. Ele trabalha descascando a mandioca, que é moída para a extração do tucupi. Ocupando o início do processo que resulta no trabalho de Josiel, Manoel guarda uma história que se assemelha à do funcionário mais novo, diferenciada apenas pelo tempo. “Eu comecei a trabalhar no Ver-o-Peso porque fiquei desempregado. Vim trabalhar como carregador e não saí mais daqui”, recorda. “Nisso, já se vão 20 anos.”

Diante da experiência conquistada ao longo de tantos anos de feira, Manoel tem uma explicação para o fato de o Ver-o-Peso, muitas vezes, ser o refúgio de quem se vê fora do mercado de trabalho. “Pouco ou muito, aqui a gente sempre ganha”, garante. Um levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima que a contribuição conjunta de todas as atividades do Ver-o-Peso injete R$1 milhão na economia paraense todos os dias.

Denise e o irmão herdaram o trabalho no Ver-o-Peso do pai e da mãe, na venda de castanhas. (Foto: Fernando Araújo/Diário do Pará)

RENDA

Para que as oportunidades de renda sejam aproveitadas ao máximo, Manoel da Luz aponta que o movimento da feira é frenético quase 24 horas por dia. A partir das 20h, inicia-se a descarga de mercadorias, trabalho que entra pela madrugada até se encontrar com a movimentação de pescado na Pedra do Peixe. Por volta das 4h, começa a rotina de trabalho com o tucupi. Já no início da manhã, às 8h, são os boxes de refeições que começam a ‘abrir as portas’.

Em meio às diversas texturas proporcionadas por variados tipos de castanhas que vende, a feirante Denise Almeida, 28, conhece bem a relação de proximidade formada pelos que trabalham no ‘Veropa’, como o complexo é carinhosamente apelidado. Ela conta que se sente em família quando chega ao local de trabalho. “Tem algumas pessoas que me veem e comentam que me viram criança correndo por aqui”.

A possibilidade de brincar pelos corredores do mercado foi gerada pelo trabalho desenvolvido primeiramente pelos pais. Denise e o irmão herdaram o trabalho no Ver-o-Peso do pai e da mãe, que iniciaram a venda de castanhas. “Eu sempre me imaginei trabalhando aqui”.

Tendo sido criada com o trabalho duro desenvolvido pelos pais no complexo, Denise segue o mesmo exemplo. Também é da lida no Ver-o-Peso que cria os dois filhos. Mais do que um meio digno de ganhar dinheiro e sustentar a família, o cartão-postal ensinou a ela uma grande lição. “Foi a partir do Ver-o-Peso que a minha mãe me mostrou o que é ser uma mulher guerreira, trabalhadora”, lembra, emocionada. “O Ver-o-Peso é a minha história. É a história da minha família.”

VER-O-PESO EM NÚMEROS:

Quase 50 mil pessoas circulam diariamente pelo Complexo do Ver-o-Peso

No local, trabalham aproximadamente 5 mil pessoas, distribuídas em cerca de 12 atividades comerciais

Estima-se que 30 toneladas de açaí são comercializadas em média, por ano, somente na Feira do Açaí

Entre 80 a 100 toneladas de pescado são comercializados por dia através do complexo. São mais de 40 tipos diferentes de pescado

Entre 4 mil e 5 mil quilos de farinha de mandioca são comercializados por dia

Estima-se que sejam comercializadas aproximadamente 30 toneladas de hortaliças, legumes e produtos de granjas mensalmente no Complexo do Ver-o-Peso

Fonte: Dieese-PA - números referentes ao ano de 2017

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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