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Ação pede que a Hydro faça 20 mil exames em moradores

Os danos ambiental e social causados pela Hydro Alunorte em Barcarena e já comprovados pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) não devem ficar passar em branco. É o que pede a ação judicial com pedido de liminar com tutela de urgência da Associação dos Cabocl

Os danos ambiental e social causados pela Hydro Alunorte em Barcarena e já comprovados pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) não devem ficar passar em branco. É o que pede a ação judicial com pedido de liminar com tutela de urgência da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), através do advogado Ismael Moraes, protocolada na sexta-feira (16).

A ação pede que a Hydro Alunorte se responsabilize por mais de 20 mil exames clínicos para avaliar as condições de saúde da comunidade do entorno de sua planta industrial na cidade de Barcarena, a 150 quilômetros de Belém.

O pedido se baseia nos laudos do IEC e do Laboratório de Química Analítica e Ambiental (Laquanan), da Universidade Federal do Pará (UFPA), que descreve que 24 comunidades em Barcarena foram contaminadas, dado presente em pesquisas realizadas em 2009, 2013, 2016 e agora.

Segundo o advogado, “a associação busca na Justiça o custeio imediato dos tratamentos pela contaminação e as sequelas desse sistema de poluição instalado e mantido sob a prevaricação das autoridades da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas)”. O documento, segundo o advogado, destaca a “necessidade urgente de realização de exames específicos para atestar o grau de contaminação no sangue dessas famílias e as medidas a serem tomadas com vistas à preservação da própria vida dessas pessoas”, em especial após o vazamento de resíduos que deveriam ter sido contidos pelos Depósitos de Rejeitos Sólidos (DRS 1 e DRS 2) no local nos dias 17 e 18 de fevereiro, quando fortes chuvas atingiram a região.

COLETA

Ismael diz que os exames deverão partir da coleta e análise do sangue dos atingidos para atestar se há a presença de metais pesados em seu organismo, especialmente de chumbo, cádmio, mercúrio, arsênio, alumínio, bário, cobre, níquel e zinco. “Tais procedimentos deverão ser feitos por médicos toxicologistas que não estejam vinculados a nenhum plano ou empresa que preste serviço ao grupo Norsk Hydro e às empresas Alunorte e Albrás”, diz.

Mais que isso: como alguns exames só podem ser feitos em Belém, a Hydro deverá arcar ainda, ou com os custos de alimentação, transporte e estadia em hotéis até quando o material para o exame de cada pessoa possa ser colhido, ou custear a mobilização logística do laboratório a ser contratado com estrutura para que os exames sejam realizados em até 10 dias após a intimação.

"Tais procedimentos deverão ser feitos por médicos toxicologistas que não estejam vinculados a nenhum plano ou empresa que preste serviço ao grupo Norsk Hydro e às empresas Alunorte e Albras", afirmou o advogado Ismael Moraes. (Foto: Wagner Santana/Diário do Pará)

RISCOS SÃO GRANDES, MAS GOVERNO NÃO COBRA

Além de urgentes, os exames, segundo a ação, já serão feitos com certo atraso, resultado das práticas irregulares da Hydro e também da falta de ação efetiva por parte do Governo do Estado em cobrá-la. “A intenção é que a Hydro se responsabilize em cuidar da saúde da população e evitar prolongamentos de danos que podem ser irreversíveis e se perpetuem por gerações. Este é só o primeiro passo de um logo processo”, explica o advogado Ismael Moraes.

Para se ter ideia da gravidade do caso, um relatório do Laquanam de 2016 já destacava que o acúmulo de chumbo no organismo humano pode afetar as funções cerebrais, o sangue, os rins, os sistemas digestivo e reprodutor, inclusive com possibilidade de produzir mutações genéticas em descendentes e causar câncer.

DOENÇAS

Neste grave quadro, as pessoas podem então desenvolver a doença chamada saturnismo, cujos sintomas são dor de cabeça, febre, cólica e constipação intestinal, dores articulares, anemia, agressividade, alucinações, paralisias, cegueira,perda da fala.

É justamente por isso que o pedido de liminar protocolado por Ismael Moraes pede que a Hydro arque com o tratamento das pessoas contaminadas, mesmo que precisem ser levadas para tratamentos especializados em outros estados.

POLUIÇÃO E ASSASSINATO

“A Hydro continua contaminando justamente os rios de Barcarena, na Amazônia, um dos mais ricos ecossistemas do planeta”, argumenta Ismael Moraes. O quadro de poluição em Barcarena já é denunciado há mais de um ano pelo DIÁRIO.

Paulo Sérgio foi assassinado na segunda-feira (12). (Foto: divulgação)

Os danos ambientais causados pela Hydro Alunorte vem sendo também destacado em jornais pelo mundo, como o tradicional inglês The Guardian, as agências Reuters e BBC, e jornais da Noruega, como Dagens Naeringsliv (DN), um dos principais do País.

Foi no The Guardian, inclusive, que um forte e crítico panorama da Hydro em Barcarena foi apresentado na sexta-feira (16). Desde a manchete, o jornal já apresenta o “resumo” da situação: “poluição, doenças, ameaças e assassinato”, fazendo referência à execução de Paulo Sérgio Almeida Nascimento, 47 anos, morto a tiros na segunda-feira (12). Ele era um dos representantes da Cainquiama que, desde 2017, já vinha questionando a prefeitura de Barcarena se a empresa Hydro possuía autorização para construir as bacias de rejeito, como os Depósitos de Rejeitos Sólidos 1 e 2 (DRS 1 e DRS 2). O caso mostra também o descaso do Governo do Pará com a proteção dos denunciantes e vítimas da poluição na região. Apesar do promotor de Justiça Militar Armando Brasil ter solicitado proteção aos moradores, o pedido foi negado por Jeannot Jansen, então Secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará.

CADÊ A COMPAIXÃO

Em meio a tanto descaso e cientes dos danos ambientais causados há anos, em coletiva de imprensa realizada na última semana Svein Richard Brandtzæg, CEO da Hydro na Noruega, afirmou que tal crise é a maior que já enfrentou desde que assumiu o cargo naempresa, em 2009.

“Nós assumimos a responsabilidade e vamos avaliar os fatos para ajudar os moradores, independente dos seus problemas”, disse Brandtzæg. Foi ainda o CEO que afirmou que a empresa está “tentando dar o melhor para lidar com esta situação difícil. Temos a maior compaixão com os as pessoas afetadas por esta situação”.

A compaixão sem ação efetiva, no entanto, é nula. Também na última semana Svein Richard Brandtzæg já havia afirmado que a empresa não possui uma visão geral da situação na planta da Alunorte.

A afirmação preocupante foi destacada na publicação do portal no Facebook. “Nós não temos uma visão geral completa”. Ou seja: se não tem conhecimento da situação real, é impossível haver o controle e previsão de novos problemas a serem contidos, o que torna difícil vislumbrar no horizonte alguma melhoria efetiva na situação vivida pelos moradores em Barcarena e que pode se tornar ainda mais grave, caso alcance outras cidades no Estado e na região.

A Hydro também confessou, depois de reportagem exclusiva publicada pelo DIÁRIO no último dia 11, que despejava resíduos sem tratamento - através de um canal antigo – no Rio Pará, que banha a capital do Estado: Belém. Ela nunca informou aos moradores que cometia tal crime. O Governo do Estado do Pará, segundo a empresa, sabia. Porém, nunca tomou nenhuma atitude.

(Mauro Neto e Enderson Oliveira/Diário do Pará)

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