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Moradores falam sobre problemas e medos causados por rejeitos da Hydro

“Quando chegamos lá, nossa surpresa: a água tava toda avermelhada.” As palavras da líder comunitária Ângela Maria Vieira, 59 anos, rememoram os transtornos causados, no dia 17 de fevereiro passado, pelo transbordamento de rejeitos tóxicos das bacias da mi

“Quando chegamos lá, nossa surpresa: a água tava toda avermelhada.” As palavras da líder comunitária Ângela Maria Vieira, 59 anos, rememoram os transtornos causados, no dia 17 de fevereiro passado, pelo transbordamento de rejeitos tóxicos das bacias da mineradora Hydro Alunorte, no município de Barcarena, nordeste do Pará. Uma semana após o ocorrido, a forte chuva que desabou sobre o município desde as primeiras horas da manhã de ontem (25) levou consigo o medo de que um novo acidente causasse ainda mais contaminação.

Ângela é moradora de uma das comunidades mais atingidas pelo vazamento de rejeitos, a Vila Nova. Sobre o dia em que constataram o transbordamento das bacias, a líder comunitária conta que foi acordada pelos gritos dos demais moradores que pediam por socorro diante dos alagamentos. A cor avermelhada que a comunidade afirma ter visto nos igarapés seria proveniente de rejeitos de bauxita.

A confirmação da contaminação foi feita por laudo emitido pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), no dia 22 de fevereiro. “Esse igarapé era o balneário da comunidade. Nós íamos para lá no domingo para tomar banho e agora não tem mais condição para nada”, conta Ângela, que também é presidente do conselho fiscal da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), da qual a comunidade de Vila Nova faz parte.

O igarapé a que Ângela se refere é a cabeceira do Rio Murucupi, que passa praticamente ao lado da casa da catadora Maria Lúcia Marques, 42 anos. Ela conta que, após o transbordamento da bacia da Hydro, no dia 17 de fevereiro, os moradores da área começaram a apresentar alguns sintomas que se repetem, como dor de barriga e coceira pelo corpo.

Além do sinal marcado na pele das próprias pessoas, Maria Lúcia conta que os animais que criava também começaram a morrer após o transbordamento do dia 17. Sem qualquer motivo aparente, galinhas e patos começaram a expelir uma espuma branca pela boca e morreram. “Eles desceram das árvores (onde eles ficam durante a noite) e começaram a mariscar no chão. De repente, começaram a morrer. Tiramos duas sacas de bichos mortos do meu quintal”. Apesar de a contaminação ter sido confirmada pelo IEC no último dia 22, Maria Lúcia conta que só recebeu o galão de água mineral no dia 24. Segundo os moradores, a entrega dos galões estaria sendo realizada pela Prefeitura de Barcarena.

Área da Hydro uma semana após vazamento. (Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

O problema é que o galão recebido é suficiente apenas para a família de Lúcia beber e fazer a comida. Porém, diante da coceira que já vem sendo sentida por muitos vizinhos, ela teme até mesmo tomar banho com a água do poço artesiano que abastece sua casa. “Se já contaminou o lençol freático, essa água toda está ruim”, diz. “A gente nem tá conseguindo dormir com medo disso.”

Em outra parte da comunidade Vila Nova, a água encanada que chega na casa do ajudante de cozinha Gleison Mesquita, 28, preocupa. O jovem conta que há cerca de uma semana começaram a surgir bolhas em sua pele. Ele atribui a coceira à água que utiliza para tomar banho. “Essa água é encanada, mas também deve estar contaminada porque a gente sente muita náusea, dor de estômago, febre e essa coceira que começou a aparecer”.

A dona de casa Fátima Lima, 54, conta que na área onde ela e o vizinho Gleison vivem, os moradores até hoje não receberam garrafões de água. “Disseram que só iam entregar a água para quem tem poço artesiano e a gente aqui tem água encanada. Mas como é que a gente tá sentindo os mesmos sintomas? O lençol freático de onde vem a nossa água é o mesmo e está contaminado.”

Maria Lúcia Marques relatou problemas como dor de barriga e coceira pelo corpo. (Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

COMUNIDADES

Além de Vila Nova, o Rio Murucupi também corta dezenas de outras comunidades tradicionais e quilombolas, como as vilas do Bom Futuro, Burajuba, Jardim Independência, Quilombo Sítio Cupuaçu, dentre outras. Também nessas localidades os sintomas reclamados são os mesmos.

O pedreiro e motorista Antônio Pereira, 53, é morador da Bom Futuro e conta que muitas pessoas começaram a apresentar diarreia, coceiras e fraqueza nas pernas. Lá a água que chega às casas também é encanada, mas a proximidade com a barragem de rejeitos da Hydro preocupa. “Então, a situação é de calamidade”, diz, ao informar que na vila moram de 600 a 700 famílias. “Está todo mundo com medo de, com uma chuva dessas – como a que caía no domingo (25) -, qualquer hora essa bacia romper. Alguém precisa fazer alguma coisa.”

"A HYDRO EXECUTOU, MAS O GOVERNO AUTORIZOU"

A liderança da comunidade quilombola de Burajuba e presidente da Cainquiama, Maria do Socorro Costa da Silva acredita que os responsáveis por solucionar o problema ambiental não são apenas a Hydro, mas também o Governo do Estado. “A Hydro executou, mas o governo autorizou. O Simão Jatene também é culpado!”, criticou. “Cadê a licença ambiental da Bacia 2 da Hydro? Queremos reparos por danos ambientais, morais e cívicos.”

Maira do Socorro, presidente da Cainquiama, questiona ausência do Governo na questão. (Foto: Maycon Nunes/Diário do Pará)

ENTENDA O CASO

No dia 17 de fevereiro passado, moradores de Barcarena denunciaram a suspeita de vazamento de rejeitos da bacia da Hydro Alunorte. A cor da água do rio tinha ficado avermelhada, o que indicaria a presença de rejeitos de bauxita

No dia 22 de fevereiro, o Instituto Evandro Chagas (IEC) confirmou o vazamento e a presença de uma ligação clandestina que eliminaria os rejeitos para fora da área industrial

O laudo do IEC apontou, ainda, um alto nível de chumbo nas amostras.

No dia 23 de fevereiro, o Ministério Público do Estado, o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública pediram embargo de uma das bacias de rejeitos da Hydro Alunorte. A medida se deu porque a bacia DRS2 estava funcionando sem licença ambiental para a operação.

(Cintia Magno/Diário do Pará)

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