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Turismo em Belém vai ficando para trás

Enquanto capitais como o Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador despontaram na economia brasileira durante o Carnaval por causa de seus atrativos, Belém, mais uma vez, ficou na lanterna. A capital paraense parece mesmo só ter seu potencial turístico lembrad

Enquanto capitais como o Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador despontaram na economia brasileira durante o Carnaval por causa de seus atrativos, Belém, mais uma vez, ficou na lanterna. A capital paraense parece mesmo só ter seu potencial turístico lembrado pela Prefeitura de Belém e Governo do Estado durante o Círio de Nazaré, para o lamento de quem trabalha com o setor e até mesmo dos próprios turistas.

A fotógrafa gaúcha Mariana Zarth passeava pelo Ver-o-Peso no dia 15 passado. Ela contou ter vindo a Belém para passar três dias depois de passar por Manaus (AM) na tentativa de fugir da folia de momo. “Fui também à Ilha do Combu, que adorei, à Estação das Docas e ao Mangal das Garças. Muito bonito, mas a falta de segurança e o transporte público ruim daqui dificultam”, diz. “Andar a pé pela cidade com bolsa, celular também é arriscado. Em Manaus, eu fiz isso com muito mais tranquilidade”.

Um dos maiores cartões-postais de Belém, o Ver-o-Peso não está vivendo seus melhores dias. Durante a reportagem, foi possível atestar a situação de abandono do complexo, com crateras no chão e falhas na cobertura, além da sujeira. O mesmo vale para o Portal da Amazônia, inaugurado há pouco mais de 5 anos, na orla de Belém, cujo nível de deterioração inclui o desabamento de parte do piso de pedra.

Erveira há pelo menos 50 anos, a comerciante Edna Santos, 60, até disse ter visto alguma “animação” na movimentação do Ver-o-Peso durante o Carnaval. “Parece que quem não gosta muito de folia veio para cá”, contou ela, comemorando a venda de “cheirinhos” e remédios caseiros, principalmente para visitantes do Sul e Sudeste. “Mas nem chega perto do que é o Círio. Difícil trazer esse pessoal para cá mais vezes durante o ano com uma cidade tão abandonada e tão suja”, alfinetou.

INSEGURANÇA

Paulista casada com paraense e morando em Belo Horizonte (MG) há dez anos, a advogada Gabriela Veras, 39, visita a família do marido uma vez por ano. No passeio pelos pontos turísticos deste ano, passou por uma experiência nova: saindo do Ver-o-Peso para a Estação das Docas, foi abordada por um policial militar que lhe aconselhou a retirar do pescoço o cordão dourado que usava. Para não atrair ladrão.

“Ainda bem que não aconteceu nada, eu provavelmente teria sido roubada se tivesse andando com o cordão em determinados pontos turísticos de BH”, diz, fazendo uma comparação com a violência que também é um problema onde mora. “O que mais me incomodou dessa vez foi a sujeira. Eu e meu filho, de cinco anos, enfiamos o pé em uma poça de lama lá no Ver-o-Peso e eu tinha lenço umedecido na bolsa para limpar. Mas quem disse que achamos um lixeiro para jogar?”, lamentou a turista, que, apesar das mazelas, se declara apaixonada por Belém por causa da culinária e do acolhimento dos moradores.

Ver-o-Peso é um ponto turístico muito visitado, mas recebe pouca atenção do poder público (Foto: Irene Almeida)

Capital não tem política de turismo, diz especialista

Duas questões podem mudar o cenário turístico na capital paraense, segundo a doutora em Desenvolvimento Socioambiental Sílvia Helena Cruz, também professora da Faculdade de Turismo, da Universidade Federal do Pará (UFPA): uma mudança na gestão e a criação e efetivação de um Plano Municipal de Turismo.
A docente critica a forma como a Prefeitura de Belém rege o setor, por meio de um órgão diretamente ligado ao gabinete do prefeito Zenaldo Coutinho e com uma dotação orçamentária de menos de R$ 30 mil. “Isso não é orçamento, é troco. Não se faz política que exige planejamento, capacitação técnica e capacidade material e de gestão com tão pouco. Belém não tem política de turismo”.

Sílvia foca na importância do Plano Municipal de Turismo como instrumento primordial para traçar as ações e estratégias do turismo de uma cidade e, a partir dele, ter o ordenamento, o envolvimento da comunidade, a manutenção dos espaços, das rotas turísticas, entre outros. E claro, com o envolvimento de um conselho atuante, formado pelo poder público e pela sociedade civil organizada enquanto fiscais.

CARNAVAL

Ela entende a situação do Carnaval na capital como uma consequência desses problemas que afetam Belém em todas as datas festivas durante o ano. “Nosso Carnaval sumiu, foi retirado do local criado para lhe receber e jogado em um espaço sem a menor estrutura. Não dá para fazer turismo no caos que faz até mesmo o belenense não gostar da própria cidade”, critica, apontando ainda a necessidade de haver parcerias entre as secretarias para que uma estratégia turística consiga ser colocada em prática.

“Cultura e turismo precisam andar de mãos dadas, mas aqui os grupos estão desarticulados porque não há incentivo. Por onde você anda, há muito buraco e sujeira. Não dá para se chegar a Icoaraci de forma prazerosa. O resultado disso é a orla abandonada, com restaurantes fechando porque as pessoas desistem de ir para lá. Nos últimos 20 anos e quatro, cinco mandatos, o turismo encolheu, não temos nada”, enfatiza Sílvia. “O Plano Municipal de Turismo seria o primeiro passo e, para além disso, só dá para mudar nas urnas”, conclui.

Empresários se mobilizam para consolidar o setor não apenas no Círio

Presidente em exercício da Associação Brasileira de Agência Viagens do Pará (Abav/PA), do Sindicato das Empresas de Turismo e dono de agência de viagens, o empresário Joacyr Rocha entende que Belém precisa de atuação para ter o seu potencial turístico consolidado para além do Círio de Nazaré, que é um atrativo visto como natural para o setor.

“O que se vê aqui nesse período é um movimento interno de quem já mora aqui e vai a Salinas, Cametá, Vigia, Marajó. Carnaval não vende pacotes para quem vem de fora, até mesmo porque nosso Carnaval sofreu um verdadeiro decréscimo nos últimos anos. É um período chuvoso e sem atrativos”, afirma. Ele antecipa que está, em nome da Abav/PA,formando uma aliança com entidades diversas ligadas ao turismo - hotelaria, restaurantes, bares, guias turísticos, realização de eventos e etc - no intento de criar um movimento que possa dialogar com as gestões estadual e municipal.

MELHORIAS

“Precisamos melhorar nossa cidade em termos de mobilidade urbana, sinalização turística. A Praça Princesa Isabel, que serve de embarque e desembarque para a Ilha do Combu, um grande atrativo, está sem condições. Não tenho como mandar turista para lá. O mesmo ocorre em Icoaraci, que recebe os navios de cruzeiro”, cita. “Temos muito a sugerir aos governantes em termos de estrutura para que a gente consiga fazer um movimento durante todo o ano, e não só no Círio”, detalha o empresário, informando que há 18 agências de turismo trabalhando com o receptivo e oferecendo rotas que destacam do queijo do Marajó à estrada
de ferro de Bragança.

“O turista que vem aqui dificilmente não gosta da cidade, porque é uma cidade bonita. Mas reclama dos problemas do trânsito, da segurança, da sujeira. Se a gente consegue uma parceria entre população e governantes para cuidar mais de Belém, a gente consegue, por exemplo, convencer o visitante que vem para um congresso de chegar um dia antes ou ficar um dia a mais, e isso vai movimentando o setor”, avalia Joacyr.

(Carol Menezes/Diário do Pará)

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