Presidente do PT Pará fala de estratégias após a condenação de Lula

“Tranquilo e sereno” foram as palavras usadas pelo presidente do PT no Pará, João Batista Barbosa da Silva, 59 anos, para definir o estado de ânimo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a condenação pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Curitiba. A sentença pode levar Lula à prisão e abalar a carreira política de uma das mais polêmicas e populares lideranças do Brasil.

Filiado ao PT há 36 anos, João Batista sempre ocupou cargos de direção e está no terceiro mandato de presidente da legenda. No último dia 26, ao desembarcar de São Paulo, onde havia participado de um encontro de lideranças de todo o País com Lula, ele recebeu o DIÁRIO para conversar sobre os rumos da legenda no Pará.

Contou que, em São Paulo, encontrou um Lula surpreendentemente calmo, mas determinado. Negou que o ex-presidente tenha intenção de fugir do País ou de pedir asilo político e confirmou que a ordem é botar, mais do que nunca, a pré-candidatura de Lula nas ruas, mesmo com a ameaça de prisão. “É uma forma de mostrar que não concordamos com a decisão (do TRF da 4ª Região ). Vamos fazer a luta política porque o julgamento e a decisão foram políticos”, diz. Por luta política entenda-se uma intensa campanha para convencer os eleitores de que o julgamento foi feito sem base jurídica com a intenção apenas de tirar Lula da campanha presidencial deste ano.

Para as eleições de outubro, serão pelo menos 30 nomes na disputa aos cargos de deputado federal e estadual. A ideia é preparar os pré-candidatos para reforçar o discurso de que “sem Lula, a eleição presidencial será uma fraude”. Hoje, já existem 40 grupos batizados de comitês pela democracia. A intenção é ampliar esse número e reforçar a divulgação da campanha pela presença de Lula nas eleições. Com a condenação em segundo instância, no último dia 24, o ex-presidente está inelegível. Pode fazer o registro da candidatura, mas certamente o caso chegará ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

ELEIÇÕES 2018

No Pará, o PT já definiu também a pré-candidatura do senador Paulo Rocha ao governo do Estado. O deputado federal Zé Geraldo foi o nome escolhido para concorrer ao Senado. O partido busca alianças com partidos alinhados historicamente com a esquerda como o PSol e o PC do B. Descarta alianças com os tucanos, mas deixa em aberto uma possível conversa com o MDB de Helder Barbalho no segundo turno.

Para o PT hoje, tão importante quanto a batalha nos tribunais é a luta para preservar a imagem de Lula como líder popular e realizador de mudanças que, segundo os petistas, mudaram a cara do País em favor dos mais pobres. “Estão usando todos os meios necessários para interditar Lula e, para isso, transformou-se o que era processo jurídico em processo político. Não há impedimento para o registro de candidatura. Então, vamos até o limite porque, além de Lula ter um peso eleitoral grande, a presença dele tem peso para a disputa política que precisamos enfrentar”, diz Batista.

Vista até agora como improvável, a prisão de Lula já é tratada como cenário a ser analisado. “É uma possibilidade real, mas mesmo que isso ocorra, não vamos sair das ruas”, diz João Batista, afirmando também que se a prisão for decretada, a militância tentará resistir. “Não tem nenhuma orientação por parte do PT, mas se tentarem prender, vai ter resistência. A militância certamente pode ocupar a frente de um prédio. O pior é que não sabemos como isso vai acontecer. Prisões não podem ser feitas à noite, mas esse pode ser mais um ato de exceção”, diz.

(Rita Soares)