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Fornecimento de água da Cosanpa está cada vez pior

A psicóloga Michelle Mendes, 41 anos, e a empresária Bernadete Verderosa, 49, moram em pontos distantes de Belém, mas enfrentam o mesmo problema há muitos anos. A primeira mora no bairro da Sacramenta, na rua Alferes Costa, e a segunda mora no Guamá, na t

A psicóloga Michelle Mendes, 41 anos, e a empresária Bernadete Verderosa, 49, moram em pontos distantes de Belém, mas enfrentam o mesmo problema há muitos anos. A primeira mora no bairro da Sacramenta, na rua Alferes Costa, e a segunda mora no Guamá, na travessa Castelo Branco. Ambas passam apuros constantes por causa do fornecimento falho de água da Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa).

Assim como elas, outros milhares de moradores de Belém e do interior lidam com a constante falta de água. Só essa semana, vários bairros da Região Metropolitana de Belém enfrentaram esse tipo de dificuldade, e dessa vez com aviso prévio feito pela própria distribuidora, que justificou manutenção na rede. Mas no dia a dia, cada tentativa de abrir a torneira pode trazer uma surpresa.

Não é exagero dizer que baldes e bacias já meio que fazem parte da decoração das duas casas, onde os moradores precisam arranjar um jeito de se virar com a água que tem. Na casa da Michelle, são duas caixas d’água de 500 litros cada uma e mais um pequeno poço artesiano na tentativa de suprir o que a Cosanpa não cumpre. Ela afirma que a interrupção na distribuição ocorre sempre pela parte da manhã, mas que os oito moradores, incluindo três crianças, já estão tão acostumados que ninguém mais fica sem banho ou sem comida por isso. Quando a reportagem foi ao local, a psicóloga estava em um dia de sorte: tinha água nas torneiras e funcionavam tanto a máquina de lavar quanto o pequeno sistema que abastece os reservatórios improvisados pela família.

“A gente nunca foi na Cosanpa porque acaba se acostumando, vendo na TV notícia quase todo dia de falta de água em vários pontos da cidade”, diz. A conta de água, segundo a consumidora, vem no mesmo valor quase sempre, e acabou que, por terem arranjado uma forma de “superar” o problema, acabaram por desistir de cobrar da Companhia. “Mas de vez em quando ainda ficamos sem água, porque tem dia que as caixas e o poço não dão conta”, revela.

À tarde é o horário da agonia na casa de Bernadete. É quase sempre nesse turno que a torneira costuma ficar seca. Por causa disso, as cinco pessoas que moram lá correm para fazer as tarefas domésticas logo cedo, nunca deixando de guardar uma reserva para atividades extras. Mesmo assim, às vezes até a água da geladeira acaba.

“Acho que a pior parte é na hora de lavar a roupa porque às vezes a água volta, mas está escura, barrenta e eu não posso lavar nada”, relata Bernadete. “A gente já sabe que a louça do almoço vai ficar na pia a tarde toda, porque quando falta água, só volta quase de noite. Que se tiver compromisso à tarde, tem de tomar banho de manhã. Não dá para deixar só para a hora de sair”, conta a empresária. O poço artesiano ainda não foi providenciado por uma questão orçamentária, mas já deve virar uma prioridade para a família em breve.

Na casa de Michele a situação melhorou após ela colocar caixa d´água (Foto: Irene Almeida)

PRECARIEDADE

A precarização do serviço oferecido pela Companhia é, no entendimento de especialistas, técnicos e sindicais, resultado da estratégia de sucateamento do órgão para justificar a privatização - uma pauta que o governo de Simão Jatene (PSDB) tenta fazer passar desde 2015.

Diretor do Sindicato dos Urbanitários do Pará, Antônio Carlos Sabóia faz questão de reforçar que o descontentamento que a população hoje tem com o órgão por causa do serviço de baixa qualidade oferecido tem causas ligadas principalmente à falta de investimento do Governo nos últimos oito anos. “Temos um déficit de pelo menos R$ 550 milhões em arrecadação, uma tarifa que passou muitos anos congeladas, déficit de pessoal, em leitura, em recadastramento. Hoje a Cosanpa tem cerca de 742 mil ligações, mas só fatura 440 mil. É claro que tem gente consumindo sem pagar, e ninguém vai atrás disso. E o Governo faz isso, deixa o servico ficar cada vez pior para poder dizer que o melhor é vender mesmo”,
dispara o sindicalista.

Para a presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Pará (Senge), Eugenia Von Paumgartten, a curto ou a longo prazo, a privatização vai tornar o serviço ainda pior. “Privatização só visa uma coisa: o lucro, e aqui vai virar fonte de dinheiro para campanha eleitoral. Além de ser um atestado de má gestão de qualquer Governo. E a empresa que levar a Cosanpa vai se preocupar de levar água para onde der lucro”, avalia
a engenheira civil.

Eugenia e Sabóia reforçam que o grande problema do saneamento básico em Belém tem a ver muito mais com gestão do que com falta de recursos. “Se não contrata, não investe, não fiscaliza as ligações. Como que vai oferecer um serviço de qualidade? A Celpa foi vendida por R$ 450 milhões com status de falida, mas em pouco tempo deu lucro bilionário para seus compradores, como que pode?”, indaga a engenheira. “Buscamos instâncias superiores, oferecemos planos de recuperação da Companhia, mas de alguma maneira essa movimentação emperra em algum momento. Não sabe até onde o governador vai querer levar a privatização em frente, ainda mais em ano eleitoral. Mas se quiser, pode”, lamenta o diretor.

"E o Governo faz isso, deixa o serviço ficar cada vez pior para poder dizer que o melhor é vender mesmo”, Antônio Carlos Sabóia, Diretor do Sindicato dos Urbanitários

SAIBA MAIS

DESESTATIZAÇÃO

O processo de desestatização da Cosanpa teve início em março do ano passado, quando o Consórcio Aqua, formado pelas sociedades BF Capital Assessoria em Operações Financeiras Ltda, Aecom do Brasil Ltda, e Azevedo Sette Advogados Associados, todas com sede em São Paulo, venceu a licitação para fazer a elaboração de estudos da viabilidade da venda da estatal.

COSANPA EM NÚMEROS

- 390.060: é o total de clientes da Cosanpa em Belém, Marituba e Ananindeua
- 2.192.179: é a população atendida pela Cosanpa em 53 cidades com os serviços de água e esgoto
- O déficit na arrecadação da Cosanpa supera os R$ 550 milhões por problemas de falta de fiscalização, segundo o Sindicato dos Urbanitários
- O mesmo sindicato afirma que das 742 mil ligações de água ativas, somente 440 mil são faturadas.

(Carol Menezes/Diário do Pará)

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