Com o gás mais caro, o jeito é usar lenha

Desde o início do mês, o preço do gás de cozinha, distribuído em botijões de até 13 kg, aumentou em até 8,9%. Um reajuste que, quando repassado ao consumidor, pode aumentar o preço final em até 4% ou R$2,53, dependendo do ponto de venda. Essa mudança impacta não apenas a rotina doméstica do brasileiro como também os negócios de muitos trabalhadores autônomos que vendem alimentos na rua.

Este é o caso de Raimunda Brasil, 72, por exemplo, que há muitos anos possui um ponto fixo no cruzamento da travessa Angustura com a avenida Visconde de Inhaúma. Muito conhecida na região, Brasil vende café, tapioca, sanduíches e outros alimentos típicos da primeira refeição da manhã e que precisam de muito gás para a produção. Ali, segundo a vendedora, um botijão não dura um mês sequer. “E com esse aumento está complicado, mas o que a gente pode fazer? Infelizmente, no Brasil é assim”, critica.

Ela conta que tem comprado um botijão a R$65,00 e que por isso, quando o movimento é fraco, acaba saindo no prejuízo. Já a cozinheira Cláudia Oliveira, 43, que possui um ponto atrás do Bosque Rodrigues Alves, no Marco, ainda não aumentou os preços, mas está pensando. “O preço do gás está absurdamente elevado. Não queríamos aumentar, mas está pesando muito”, explica.

Antigamente, ela costumava ter um botijão de reserva, porque costumava sobrar no fim do mês. Agora, no entanto, um botijão dura apenas 20 dias. “É uma injustiça com o trabalhador que depende disso para sobreviver”, comenta.

LEVANTAMENTO

R$70 - é a média do botijão em Belém, segundo a ANP.
R$90 - é a faixa de preço no Estado, como em Xinguara, no sul.

Além de economizar, John conquista clientes com o sabor defumado do churrasco (Foto: Mauro Ângelo)

Colombiano foge do aumento do gás assando carnes a lenha

Já o colombiano John Sacro, 38, que há quase 3 anos se mudou para o Brasil procurando melhores oportunidades de emprego, encontrou no churrasco a lenha a solução para aumentar a renda familiar. Ao contrário de seus colegas de ofício, no entanto, Sacro não depende do gás da cozinha para fazer suas vendas e pouco sentiu o impacto da mudança de preço. Isso porque sua especialidade é o churrasco gaúcho, feito no fogo a lenha, que, segundo ele, fica muito mais gostoso por causa do sabor defumado que ele adquire. Faz apenas três meses que Sacro está trabalhando com a venda de alimentos, em um ponto fixo na Visconde de Inhaúma, entre as travessas Barão do Triunfo e Angustura, e tem dado cada vez mais certo devido à divulgação boca a boca. Ele conta que trabalhou em rodízios de comida brasileira na Colômbia. Aqui, após ter o churrasco muito elogiado pelos amigos e vizinhos, ele percebeu a oportunidade de oferecer um alimento diferente do que as pessoas normalmente encontram na rua.

“Eu primeiro acendo o fogo de manhã cedo e deixo esquentando. Vou preparar a carne e salgar, deixo ela descansar, e então levo ao fogo. Depois disso, normalmente, são umas 4 horas para ficar pronta”, explica. Ele trabalha apenas de quinta-feira a domingo no horário do almoço, oferecendo vários tipos de carne: costela, fraldinha, frango e o prato feito. O método de preparo da carne usado por Sacro é muito próximo de uma forma tradicional de assar carne da Colômbia, conhecida como “carne a la llanera”.

(Arthur Medeiros/Diário do Pará)