O tiro que deu início ao martírio do flanelinha Jhonny Higson saiu da pistola de um policial militar no dia 20 de novembro de 2001, mas o tiro de misericórdia quem deu foi o Governo do Estado. O ex-flanelinha, que ficou paraplégico aos 12 anos, após levar um tiro do então militar Darlan Carlos Silva Barros, morreu nesta quarta-feira (22), em decorrência de vários problemas de saúde adquiridos após o crime. Jhonny estava internado desde o último dia 8 no Hospital Ophir Loyola, em Belém, com um grave quadro de infecção generalizada.
A vítima encontrava-se acamada em condições precárias e só foi internada após uma decisão judicial que obrigava o Estado a se responsabilizar pelo tratamento. A audiência aconteceu no último mês de outubro, e teve que ser realizada no térreo da 3ª Vara da Fazenda de Belém, devido a vítima estar em uma maca na frente dos juízes.
"Jhonny lutou muito, denunciava, exigia. Na última audiência ele estava lá, em uma maca, com falta de ar e muito debilitado lutando pelos seus direitos", declarou Walmir Brelaz, advogado do ex-flanelinha.
O ex-flanelinha, que chegou a publicar um livro contando sua história, perdeu um rim e ficou com o outro debilitado após o tiro. Jhonny também utilizava uma sonda e um cateter, que servia para impulsionar o seu órgão enfraquecido. A família da vítima acredita que o Estado, que era o responsável pela instalação e troca regular do aparelho, assim como de todo o restante do tratamento, seja o principal responsável pela morte do rapaz.
Jhonny Higson exibe o livro que conta a tragédia de sua vida (Foto: arquivo/Diário do Pará)
"O cateter tinha que ser de um tipo especial, de titânio, foram os próprios médicos que recomendaram. Depois de muito tempo o Estado forneceu o aparelho, mas não tinha a máquina para instalar. Quando instalaram, a peça ficou sem ser trocada além do tempo máximo, e acabou calcificando dentro do corpo do Jonhhy, o que foi crucial para sua morte. Trágico demais", lamenta o advogado.
Ainda segundo Walmir Brelaz, a falta de manutenção e troca da peça acabou estragando 19% do único rim de Jonnhy Higson, que foi internado já bastante debilitado.
REPERCUSSÃO NACIONAL
O caso de Jhonny Higson repercutiu nacionalmente. Na época, Jonnhy, que trabalhava em um semáforo de Ananindeua, foi tentar limpar o vidro do veículo de Darlan, que teria se exaltado e ameaçado a criança. Em seguida, o policial teria sacado de uma pistola e atirado pelas costas de Jonnhy.
A família da vítima enfrentou várias batalhas judiciais para responsabilizar o ex-PM e o Estado pelo ocorrido, e somente 13 anos após o crime, Darlan Barros foi julgado e condenado a 11 anos, dez meses e seis dias de prisão em regime fechado. Entretanto, o ex-soldado está em liberdade, pelo menos até que a sentença seja confirmada em instância superior.
O velório de Jonnhy Higson será realizado as 16h, em Ananindeua, e o enterro será nesta manhã de quinta-feira (23) em Vigia, a pedido de Jonnhy.
(Igor Wilson/DOL)
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