O Memorial da Cabanagem, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e construído em Belém em 1985, está abandonado pela Prefeitura de Belém, que agora está intimada pelo Ministério Público do Estado a cuidar do espaço, que guarda um pedaço importante da história do Pará.
A portaria que aciona a Prefeitura foi publicada no Diário Oficial do Estado, assinada pelo promotor de justiça Nilton Gurjão, da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Patrimônio e Cultura, Habitação e Urbanismo. Ele pede que o órgão administrado por Zenaldo Coutinho seja investigado para esclarecer a situação da conservação do monumento, que é alvo de pichadores e de pessoas que ocupam o local inclusive para consumir drogas.
Segundo o promotor, antes de instaurar o procedimento, ele solicitou informações à Secretaria de Estado de Cultura (Secult). “Estamos acionando a Prefeitura de Belém porque o Governo do Estado repassou a administração do espaço para a Prefeitura, para que fosse possível a construção da obra de trânsito que hoje passa pelo local”, explica, em referência ao BRT, que ainda segue incompleto ao longo da rodovia Augusto Montenegro.
Segundo Gurjão, o procedimento de investigação ainda está na fase inicial. “Nesse momento, a Prefeitura terá um prazo de 15 dias para prestar as informações necessárias, e a partir da resposta que obtivermos faremos a condução para que o resultado seja o melhor para a população, já que esta é uma obra que tem para Belém uma grande importância histórica e também urbanística”, afirma.
Por enquanto, a imagem do local é triste. Pela manhã, um casal ocupava o espaço com se fosse uma residência particular. No entorno, muita sujeira e pichação. Nas árvores próximas, um grupo parecia consumir drogas.
Morador do entorno, o vendedor Eliazar Mendes, 64, conta que à noite a situação é mais crítica. “É um risco grande você passar a pé. Ocorrem assaltos e outras violências, e infelizmente a polícia, o Estado e a Prefeitura também não fazem nada para mudar isso”, acusa.
HISTORIADOR LAMENTA ESTADO DO MEMORIAL
“O abandono do Memorial da Cabanagem é político e proposital”. A afirmativa é forte, mas o historiador Michel Pinho afirma que, infelizmente, essa é a realidade do monumento. “Por ter sido feito no governo de Jader Barbalho, há um abandono político proposital do monumento pelo grupo que o sucedeu no governo, que não leva em consideração que a Cabanagem guarda parte da história do Pará, pela representatividade do movimento, e parte da história urbanística do país, por ter sido construído por Niemeyer, que é o mais expressivo nome da arquitetura brasileira”, afirma.
Pinho diz ainda que a iniciativa do MP é muito bem vinda, dada a importância de devolver o monumento para a cidade é para as pessoas. “ O BRT isolou o monumento, e hoje se faz necessário devolver aquele espaço como local de conhecimento histórico, mas também como parte da paisagem urbanística de Belém, de valorização da entrada da cidade e de local de passeio, de lazer para seus moradores, que hoje, pelas condições de abandono e até de periculosidade, estão impedidos de ter acesso a esse importante espaço público”, avalia.
PARA ENTENDER
O Memorial da Cabanagem é um monumento de 15 metros de altura por 20 de comprimento, todo em concreto, erguido no complexo do entroncamento, em Belém.
Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer a pedido do então governador do Pará Jader Barbalho, o monumento foi construído para compor as comemorações do sesquicentenário da Cabanagem, que aconteceu em 7 de janeiro de 1985.
Esteticamente a obra é uma rampa elevada em direção ao céu com uma inclinação acentuada apontando para um ponto sem fim, que alguns afirmam ser o distrito de Icoaraci, onde foram enterrados muitos participantes do conflito.
O Memorial, segundo a concepção de Niemeyer, representa a luta heroica do povo cabano, que foi um dos movimentos mais importantes de todo o Brasil.
(Cléo Soares/Diário do Pará)
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