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Entrevista com o consultor educacional Sérgio Boggio

A quarta revolução industrial não se limita aos espaços das fábricas ou outros locais de trabalho: ela demandará também mudanças nas dinâmicas da educação e aprendizado, dentro e fora das salas de aulas. Não se trata apenas de ensinar o uso das tecnolo

A quarta revolução industrial não se limita aos espaços das fábricas ou outros locais de trabalho: ela demandará também mudanças nas dinâmicas da educação e aprendizado, dentro e fora das salas de aulas. Não se trata apenas de ensinar o uso das tecnologias às crianças e jovens ou mudar a grade curricular, mas reformular os modos de ensino e a relação aluno-professor a partir desses novos processos.

Um dos especialistas que estuda essa mudança na educação é Sérgio Boggio, engenheiro eletrônico, professor de Ciências e Tecnologia, pesquisador de Tecnologia Educacional e Neuroeducação e Consultor Educacional da empresa paulista Humus.

Nesse novo contexto da educação, a disponibilidade do conhecimento é uma das maiores mudanças: com o acesso a uma quantidade quase infinita de informações, diariamente, os alunos precisam aprender a desenvolver um potencial crítico e "filtrar" os saberes que podem de fato ter uma utilidade no dia-a-dia.

Cada vez mais, os professores terão papéis essenciais como "guias" dos estudantes nessa nova era de informações abundantes, não mais como detentores únicos do saber. O aprendizado também será cada vez mais colaborativo, com os alunos se ajudando na resolução de tarefas e na proposição soluções, e menos competitivo.

Fala-se muito sobre o perfil do profissional do futuro: um ser humano com aprendizagem constante, autogerenciável, com capacidade para resolução de problemas. Que papel a escola tem nesse processo? Como incentivar esse perfil nas crianças e jovens dessa e das próximas gerações, dentro das escolas?

Com o advento da Internet na sua forma Web, o conhecimento se tornou altamente disponível, fazendo com que a importância do conhecimento acadêmico perdesse espaço para outras habilidades tais como: pensamento crítico, criatividade na solução de problemas, comunicação, colaboração e inovação.

Um estudo publicado na Psychological Science , um jornal da Association for Psychological Science em Julho/2013, conduzido pelo pesquisador David Lubinski e seus colegas na Universidade de Vanderbilt, mostra a correlação entre o desenvolvimento da habilidade espacial e a criatividade.

A habilidade espacial desempenha um papel único na assimilação do conhecimento pré-existente e no desenvolvimento de novos conhecimentos. Sem habilidade espacial, o apoio psicológico ao pensamento criativo e inovador fica abaixo do ideal.

A habilidade espacial é desenvolvida em atividades concretas (John Dewey:1859-1952) e pela incorporação de novas ideias, sobre as já existentes (David Paul Ausubel:1918-2008). Segundo eles, o espaço onde o aluno estuda tem de ser estimulante tais como: Sala de aula com recursos multimídia acessando a Internet, ateliê, laboratórios, oficinas, museus, teatros, shoppings, redes sociais na web e a própria residência, com atividades propostas que despertem curiosidade, que sejam possíveis de realizar e interativas para manter a atenção.

Nessa linha de pensamento, diversas instituições de ensino vem trabalhando os espaços STEAM (Science, Technology, Engineering, the Arts and Math). Estes espaços são oficinas onde os estudantes se envolvem em soluções de problemas reais de forma multidisciplinar. Os alunos envolvidos nesses ambientes se tornam mais criativos e colaboradores, características importantíssimas no mundo atual.

Com as atividades desenvolvidas nessas oficinas, os alunos aprendem a planejar, exercitam a tentativa e erro, a colaboração e a perseverança, lições muito úteis, independentemente da carreira que venham a seguir. Na educação tradicional, quando punimos o erro, tolhemos a criatividade. Não se propõe aqui ignorar o erro, mas estimular o estudante a reconhecê-lo e utilizá-lo como aprendizado.

A preocupação atual em formar este novo tipo de jovem se deve ao fato que grande parte deles irão trabalhar em "empregos" que ainda não foram inventados. Quanto mais opções estas oficinas oferecerem, mais personalizado se tornará este ambiente de ensino, permitindo ao estudante optar por áreas de seu maior interesse.

Neste “ensino personalizado”, deve-se ter um currículo mínimo comum a todos e um conjunto de atividades eletivas onde o aluno, após optar por elas, deverá cumprir metas e ser avaliado.

Esta proposta de ensino que se contrapõe ao modelo “industrial” (linha de montagem) do ensino tradicional será possível devido a tecnologia da informação e comunicação estar se tornando disponível no ambiente escolar e doméstico.

Por meio de ferramentas computacionais, os professores conseguem com maior rapidez identificar os pontos fortes e fracos de cada um de seus alunos, permitindo a personalização do ensino. Tal personalização não significa que o aluno irá estudar sozinho, mas sim em grupos com demandas e interesses semelhantes, em um trabalho altamente colaborativo.

Para estimular essa interação, os professores devem propor projetos onde os estudantes tenham de resolver problemas reais aplicando os seus conhecimentos. Desafio, cotidiano e realidade são palavras chaves em qualquer proposta de trabalho.

Antes do “WWW” (World Wide Web) o aprendizado ocorria principalmente nas escolas e bibliotecas e um pouco através dos outros meios de comunicação. Estes meios tais como jornais, revistas, rádio, cinema, televisão, correios etc. são lentos e pouco interativos. A Web trouxe velocidade e interatividade, criando uma conexão global. Esta mudança tecnológica impactou com as clássicas teorias da educação, sem destruí-las, mas agregando uma nova característica: conectividade.

É um longo caminho, que terá de ser perseguido com muito investimento em capacitação contínua dos professores e recursos tecnológicos na infraestrutura educacional.

Sem dúvida essas metodologias melhoram muito o processo educacional, porém tem-se grandes desafios:

1) Alteração dos espaços, mobiliários, equipamentos e horários na Escola;

2) O professor que precisa ter uma postura mais holística, o que não é trivial;

3) O ambiente educacional (oficinas) terem profissionais que darão o suporte tecnológico aos alunos e professores. Tais profissionais deverão ter um amplo conhecimento da área científica e tecnológica e disponibilidade de tempo para manter as oficinas com tudo que precisarem para atender os projetos educacionais. Sem esse suporte, tais oficinas correm o risco de continuarem sendo os tradicionais laboratórios onde cada professor trabalha a sua especialidade.

Esse é um erro que já está acontecendo, pois na pressa de a escola mostrar para seu cliente que já está se atualizando, executa o mais fácil que é transformar seus laboratórios em ambientes STEAM, porém fica para depois criar a equipe de suporte e preparar o professor.

Uma sugestão é: começar pela série inicial da escola, montando a equipe de suporte, capacitando os professores e com a proposta deles criarem os ambientes educacionais.

É um procedimento de “formiguinha” mas que garante o sucesso. Por se desenvolver mais lentamente, pode-se errar sem grandes prejuízos. Liberdade para errar de forma responsável é decisivo para podermos ser criativos e inovadores.

(DOL)

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