A famosa sexóloga Laura Muller conversou com o DIÁRIO e fez grandes revelações

Quando o assunto é sexo, há muitos tabus que ainda existem e não foram derrubados. Seja na comunidade mais jovem, ou mesmo na conversa de adultos, as questões sobre sexo ainda chocam ou geram mais dúvidas. Com elegância e desenvoltura, a jornalista, psicóloga e sexóloga Laura Muller, 47 anos, se tornou referência no tema, desde que passou a responder perguntas picantes no Programa Altas Horas, da TV Globo. Hoje, ela tem seis livros publicados sobre o tema, como ‘Sexo para adultos - Tudo o que você sempre quis saber, mas não tinha coragem de perguntar’ e ‘Altos papos sobre sexo - Dos 12 aos 80 anos’, este já esgotado. Esta semana, a educadora sexual, mineira de Juiz de Fora, que há 30 anos mora em São Paulo, conversou com o DIÁRIO num bate-papo aberto sobre educação sexual e carreira.

Como falar de sexualidade com as pessoas?
Temos de entender o sexo com um conceito mais amplo: a forma da gente existir no mundo, de se relacionar com o interno e externo. Com nossos amores, valores e crenças. Temos que entender como uma forma mais ampliada e o quanto temos tabus para falar sobre tudo isso.

Quando você começou a falar sobre sexo?
Foi com uma vaga de emprego que surgiu. (risos). Eu comecei como jornalista na Folha de São Paulo cobrindo cidades, em 1991. Estava lá colocando o pé na lama, na buraqueira e num momento desejei algo mais leve. Aí comecei a fazer freela para revistas femininas até que, em 1997, eu fui chamada para ser editora de sexualidade da Revista Claudia, que na turma interna da Abril ninguém topou. Minha formação era, até então, do Jornalismo. Ai eu percebi o quanto era complexo o tema, e resolvi fazer uma pós-graduação no assunto. Apaixonei-me e comecei a escrever livros, e me chamavam para dar palestras. Aí fiz psicologia. Hoje atendo jovens, adultos e casais, além de participar de eventos e bate-papos.

E como você foi parar na televisão?
Também foi outra vaga que surgiu. O Serginho Groisman queria um quadro no Altas Horas sobre sexo, em 2007. Ele me chamou para bater um papo e fazer uma entrevista. Se fosse legal, ficaríamos 3 meses no ar. Acho que o negócio deu certo porque já rola há 11 anos. Fiquei marcada por falar com os jovens por conta do programa, que abre a vitrine para o mundo. Mas atendo todos os públicos.

Como a mídia deve lidar com o tema?
É fundamental o papel dela nesse assunto, para esclarecer e quebrar tabus. Antes de eu ser educadora sexual, sou comunicóloga, e isso ajudou a me expressar e passar às pessoas os conhecimentos contínuos que busco.

Falar de sexo te tornou uma celebridade?
As pessoas me param na rua, em vários locais. Elas fazem varias perguntas, desde gravidez, virgindade, posições. Tiram as dúvidas mesmo. Acham-me referência no Brasil no assunto e eu fico feliz. Eu não esperei que, quando eu fosse para TV, fosse acontecer tudo isso. Eu acho positivo!

O machismo no sexo ainda existe?
Sim. Mas temos outros preconceitos também. Por isso, a educação sexual é tão importante: falar da paternidade na adolescência, como se cuidar, a questão de dar e receber prazer, o uso de preservativo. Temos de incluir os meninos, pois temos uma cultura do sexo que agora vem se transformando. E não colocar em duelo os sexos. Hoje, por exemplo, cobramos uma ereção do homem, mas também, que a mulher tenha orgasmos. Tudo é complexo, porque continuamos vivendo com muitos tabus no sexo.

Qual é o papel dos pais na educação sexual dos filhos?
É tão importante quanto da escola. O tema sexualidade deveria aparecer em várias disciplinas a partir dos 6 anos de idade. Isso seria a transversalidade, proposta em 1997. Hoje, estamos em 2017 e não vivemos essa realidade. Para os pais também é complicado, pois o que eles tiveram de educação sexual? Como eles vão passar isso aos filhos? Temos de procurar mais informações e manter um campo aberto para o diálogo. Os pais são os principais modelos de como ser homem e mulher no mundo.

Quais foram os locais mais exóticos que já falou sobre sexo?
Pela farmacêutica Bayer, por exemplo, fui até para Alemanha. Mas, olha que interessante: já fui para o interior do Maranhão também, falar com homens e mulheres da lavoura antes do plantio. Falei sobre a importância de o homem fazer o exame de próstata e que isso não o torna homossexual, só porque fez o toque retal.

E como as pessoas costumam lhe abordar?
As pessoas sempre iniciam as perguntas dizendo: “um amigo queria saber...” (sorriu). Foram várias perguntas polêmicas, e que geram polemicas, porque as pessoas se preocupam com isso ou aquilo.

As pessoas ainda têm receio de falar de homossexualidade?
Ainda hoje, sim. Os jovens não sabem sua identidade, o que são no mundo. E, assim, têm várias dúvidas do assunto. Mas não tem nada de errado, nada feio. A pessoa pode ser e deve ser o que quiser. O que sua alma e essência pedem. Ainda sim, a gente vive uma grande confusão e não sabe lidar com tudo isso.