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Documentário sobre arte dos abridores de letras é exibido no Marajó

As letras pintadas em muros, barcos, faixas de aparelhagem e qualquer outro suporte que sirva para a comunicação visual na Ilha do Marajó foram catalogadas, após pesquisa e entrevista, pelas designers Sâmia Batista e Fernanda Martins, da Mapinguari Design

As letras pintadas em muros, barcos, faixas de aparelhagem e qualquer outro suporte que sirva para a comunicação visual na Ilha do Marajó foram catalogadas, após pesquisa e entrevista, pelas designers Sâmia Batista e Fernanda Martins, da Mapinguari Design. É o projeto “Letras que Flutuam”, que mostra como essas marcas da caligrafia e da arte gráfica, muito peculiar na região, são símbolos da identidade local. Após passarem por Soure, Salvaterra, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista, Breves e Ponta de Pedras, elas retornam a esses locais para apresentar o documentário resultante da pesquisa sobre essa arte gráfica popular da Amazônia.As exibições começaram na semana passada e seguem desde ontem por novos roteiros.

“Marajó das Letras - Os Abridores de Letras da Amazônia Marajoara”, contemplado pelo Programa Rumos Itaú Cultural, tem 29 minutos e apresenta a história das pessoas por trás das tradições do “abridor de letras” profissional da pintura que cuidadosamente imprime sua estética às embarcações da região, desenhando as letras dos nomes dos barcos. E como hoje os novos recursos, como as pistolas para grafite, e as demandas pelo serviço em menos tempo, mudaram esse cenário.

“Os abridores mais antigos possuem técnicas tradicionais ligadas à região dos campos do Marajó, onde as tradições são mais vivas, e as técnicas atuais, como grafite, são aplicadas nas rabetas, que servem para locomoção rápida e são mais ligadas ao jovem, trazem a visualidade da internet e das faixas de aparelhagem, são consideradas mais modernas. Mostramos essas duas perspectivas de linguagem que convivem, e como o pincel vem sendo substituído pela pistola, por uma questão do tempo e velocidade, e pela dinâmica de trabalho. Se em cinco dias se faz no pincel, em dois se faz na pistola”, explica Sâmia Batista, coordenadora do projeto.

O roteiro do vídeo, que tem direção de Marcelo Rodrigues, som direto de André Mardock, e Lucas Escócio como assistente de câmera, foi feito de forma coletiva, a partir das próprias histórias coletadas ao longo do projeto, e mostra o cotidiano das famílias dos abridores de letras, a forma de aprendizado e de ensino de técnicas, e como essa manifestação se liga ao rio. Na primeira parte do projeto, que passou por Belém, Barcarena, Abaetetuba e Igarapé-Miri, as designers focaram mais na técnica. Desta vez privilegiou-se as pessoas por trás das tintas.

“Agora fizemos questão de contar um pouco mais sobre quem faz, então, selecionamos os personagens e escolhemos as histórias mais marcantes. Essa é a terceira fase do projeto, planejada como a devolução do que estamos realizando aos marajoaras. E a exibição retorna para mostrar algo que está no dia a dia deles, mas que eles não veem com tanta importância, a visualidade própria deles. Serve também para debater sobre a comunicação visual como demarcadora cultural. Estamos acostumados com arquitetura, moda, e as pesquisas não se debruçam sobre o efêmero em si, os cartazes, faixas, fachadas, que também demonstram uma época para a gente”, explica Sâmia.

A ideia agora é inscrever o documentário em festivais de cinema. Um já está garantido: em setembro, o filme será apresentado em Portugal.

VEJA

Documentário “Letras que Flutuam”
15/7, às 19h - Salvaterra - Praça das Comunicações
16/7, às 20h - Soure - Praça da Independência
22/7, às 18h, e
25/7, às 16h - Belém - Sesc Boulevard.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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