Como se não bastasse ter sido cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), em maio deste ano, por compra de votos com dinheiro do programa Cheque Moradia, o governador Simão Jatene vive seu inferno astral e o nome de sua família está num lamaçal de corrupção, crime e nepotismo, transformados em processos em várias esferas da Justiça.
Para aumentar ainda mais a dor de cabeça do governador cassado, seu filho, Beto Jatene, foi indiciado e chegou a ser detido pela Polícia Federal (PF) por envolvimento num esquema de corrupção e desvio de imposto sobre mineração, que teria alcançado R$ 66 milhões. A PF assegura que o filho do governador Jatene recebeu R$ 750 mil de um dos escritórios com participação no esquema.
Beto também é acusado de ter sido beneficiado no chamado “Esquema Beto Card”, de venda de combustível a órgãos do Governo do Estado. O rombo chega a R$ 5 milhões e, segundo o Ministério Público Estadual, foi fechado com aprovação do pai, Jatene, que aceitou que os postos de combustível do filho participassem da licitação.
DINHEIRINHO
A filha de Jatene, Izabela, que, em 2014, teve seu nome envolvido no “Caso Dinheirinho”, quando foi gravada em um telefonema no qual pedia ao então secretário da Fazenda, Nilo Noronha, a lista das maiores empresas do Pará para buscar um “dinheirinho deles”, é a personagem de um dos maiores escândalos de nepotismo no Estado. Depois de ganhar do pai o programa Pro Paz, Izabela foi elevada a secretária extraordinária de Integração de Políticas Sociais no ano passado. Já neste ano, Jatene a presenteou com a Secretaria Extraordinária de Estado de Municípios Sustentáveis, que espera administrar um orçamento de R$ 500 milhões caso um empréstimo - que hoje espera aprovação da Assembleia Legislativa -seja efetivado.
Cassado por compra de votos com Cheque Moradia
Simão Jatene é o núcleo de um escândalo de compra de votos com o dinheiro do Cheque Moradia e que culminou com sua cassação e inelegibilidade por 8 anos. A decisão é do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e foi tomada no dia 30 de maio passado. Pela denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Jatene torrou R$ 113 milhões a mais do que os R$ 32 milhões previstos no orçamento de 2014 para conseguir votos para a sua reeleição.
Segundo o MPF, a maior parte desses recursos foi aplicada justamente nos meses de agosto, setembro e outubro de 2014, ou seja, em plena campanha eleitoral. Somente neste período, foram disponibilizados R$ 56,3 milhões para o programa, segundo dados fornecidos à Justiça Eleitoral pela própria Companhia de Habitação do Estado do Pará (Cohab) e que consta do processo de cassação do governador.
“Os gastos com Cheques Moradia ultrapassam 361% do valor previsto para 2014”, disse a juíza federal Luciana Said Daibe, ao proferir seu voto a favor da cassação de Jatene, por abuso do poder econômico.
FICHA SUJA
Segundo a Justiça, nos 7 primeiros meses de 2014, foram concedidos 2.739 benefícios, o que dá uma média de 391 por mês. Apenas em agosto, esse número saltou para 1.282 e disparou para 2.526 em setembro.
A investigação do MPF começou com o então procurador regional eleitoral, Alan Mansur. Ele apurou que, nesse período, centros comunitários foram utilizados para a efetivação da compra de votos por meio do Cheque Moradia. Para o atual procurador eleitoral, Bruno Valente, “foi uma decisão produtiva por parte do TRE, dando uma resposta justa ao fato ocorrido na campanha de 2014: a prática de poder político, em prol do governador que concorria à reeleição”.
STJ: Jatene será denunciado
Simão Jatene vai ser denunciado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) pela ministra Maria Thereza de Assis Moura por corrupção passiva e ativa, falsidade ideológica e crime contra a fé pública. Jatene é acusado de ter recebido propina de mais de R$ 16 milhões no esquema conhecido como Caso Cerpasa.
Considerado um dos maiores escândalos tributários do Pará, ocorrido durante a campanha eleitoral de Jatene em 2002, o esquema causou prejuízos de mais de R$ 83 milhões aos cofres do Estado, com o perdão da dívida do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da Cerpasa.
Nova relatora do caso, Maria Thereza promete cumprir à risca a determinação da presidente do STJ, Laurita Vaz, de dar celeridade aos casos envolvendo governadores.
No STJ está prevalecendo a tese de que, com a atual situação política que o Brasil enfrenta, dificilmente os ministros darão no julgamento definitivo de Jatene um voto diferente do que foi dado durante a decisão sobre o não arquivamento do processo. “A população está de olho naqueles que estão a julgar homens públicos por mau uso de dinheiro público”, adverte um ministro do STJ.
Em dezembro do ano passado, Beto Jatene chegou a ser preso pela Polícia Federal (Foto: Frame/RBATV)
Filho de governador é investigado
Além de correr o risco de ver frustrado seu intuito de sair impune do julgamento do Caso Cerpasa, Simão Jatene também pode ver o próprio filho condenado pela mesma corte. Um inquérito aberto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) apura o envolvimento de Beto Jatene em uma organização criminosa que desviou mais de R$ 66 milhões em um esquema de corrupção em cobranças judiciais de royalties da exploração mineral, chamada Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). Indiciado pela Polícia Federal (PF), Beto Jatene é acusado de ter se beneficiado de pelo menos R$ 750 mil, repassados como parte da propina distribuída entre os que participavam da organização criminosa. Segundo a PF, contratos fraudulentos com prefeituras eram usados para desviar recursos de arrecadação da mineração.
Beto chegou a ser preso em dezembro do ano passado e só está livre por causa de um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça Federal (TRF 1ª Região). O filho do governador, de acordo com a PF, intermediava contratos fraudulentos junto a dois escritórios de advocacia de Brasília, que também são investigados no inquérito.
De corrupção eleitoral a formação de quadrilha, o que não falta é processo para o governador cassado Simão Jatene e seus filhos, Izabela (na imagem) e Beto (Foto: Bruno Carachesti)
Izabela: símbolo do nepotismo de Jatene O Diretório Estadual do PMDB no Pará ingressou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a nomeação de Izabela Jatene, filha do governador Simão Jatene (PSDB), para o cargo de titular de secretária extraordinária de Estado dos Municípios Sustentáveis. A pasta criada especialmente para a filha do governador deverá movimentar um orçamento estimado em R$ 500 milhões. Como titular da secretaria, Izabela receberá salário de R$ 21 mil. Mais que o excelente salário, contudo, o cargo teria o objetivo de colocar a filha de Jatene na linha de frente dos contatos com prefeitos dos 144 municípios paraenses e, com isso, cacifá-la a disputar um cargo eleitoral no ano que vem. A ação do PMDB é chamada de Reclamação Constitucional. A legenda pede que o STF reconheça a ilegalidade da nomeação com base em decisão da corte máxima do País, que condena a nomeação de parentes, o chamado nepotismo. Além da súmula vinculante, a ação cita decisão do ministro do STF Marco Aurélio Mello, que suspendeu a nomeação do filho do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, para o cargo de secretário-chefe da Casa Civil do município. AÇÃO “A nomeação vai de encontro com a própria gestão implantada pelo Governo do Estado, que pregava a diminuição dos Órgãos da Administração Pública do Estado do Pará”, ressaltou na ação enviada ao STF, o advogado André Bassalo. Segundo o advogado, a criação de uma secretaria para a filha do governador afronta a impessoalidade do poder público. Antes da pasta de Municípios Sustentáveis, Izabela ganhou do pai a Secretaria Extraordinária de Integração de Políticas Sociais, de onde foi exonerada para assumir a nova função. (Mauro Neto e Luiza Mello/Diário do Pará) |
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