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Violência está descontrolada, diz especialista

Nos últimos 10 anos, as características dos crimes em Belém estão mudando. Hoje, a briga por território e poder sobre o comércio de entorpecentes, fez com que os criminosos se aperfeiçoassem e tivessem um poder de fogo nunca se visto antes. As afirmações

Nos últimos 10 anos, as características dos crimes em Belém estão mudando. Hoje, a briga por território e poder sobre o comércio de entorpecentes, fez com que os criminosos se aperfeiçoassem e tivessem um poder de fogo nunca se visto antes. As afirmações são feitas pelo pesquisador Jean-François Deluchey, 45 anos, doutor em Ciência Política e Políticas Públicas pela Universidade da Sorbonne, na França.

Com a bagagem de 20 anos estudando o cenário da violência urbana no Pará, o professor do programa de Pós-Graduação dos cursos de Serviço Social e Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA) é responsável por várias pesquisas, com entrevistas de quase 2 mil pessoas, entre elas, 700 policiais. O seu mais recente trabalho é o artigo científico “O governo das vidas que não valem nada: Capital humano e extermínio na Amazônia”.

O estudo detalha as chacinas ocorridas em Belém, desde o caso de Icoaraci, onde seis meninos, entre 14 e 17 anos, foram assassinados, em 2011. E, somente nos últimos 6 meses, foram registradas 4 ocorrências de mortes em sequência na Grande Belém, com 49 mortos (ver box). Diante do descontrole do Governo do Estado com a Segurança Pública, Jean-François conversou com o DIÁRIO.

P De quem é a responsabilidade por essas chacinas?
R Há um descontrole por parte dos órgãos de Segurança Pública, no Pará. Estão tratando cada caso como se fosse isolado. A gente sabe que, em Belém, existem grupos de extermínios, milícias organizadas e narcotraficantes com fortes esquemas. E eles brigam entre si.

P Você acha que há policiais envolvidos nos grupos de extermínios?
R Há suspeitas. Muitos aposentados ou outros na ativa. Meu posicionamento é de cientista, não de jornalista investigativo e não vou entrar nesta seara de denúncias. Mas temos indícios que sim, além de testemunhas. Primeiro, temos uma privatização da Segurança Pública. Oficiais estão tomando batalhões e delegacias como se fossem seu quartel próprio, como parte de uma empresa de segurança privada.

P As características dos crimes em Belém mudaram?
R Sim. Passamos, dos anos 2000 para 2010, de registros de pequenas gangues nas periferias para crimes organizados: disputas de território, o que têm criado esses ‘acertos de conta’. Isso profissionalizou esses grupos de extermínios, que estão agindo há quase 10 anos na capital. Em 2011, denunciamos isso. E, desde então, pouco mudou.

P Por que essas organizações estão ficando cada vez mais profissionais?
RQuando se entra numa carreira na delinquência, para se ter ‘sucesso’, tem de cerca-se, ou se ‘segurar’, junto a uma organização, para sobreviver e evitar a cadeia.

P Há registro de violência em toda a cidade. Porém, as chacinas ocorrem nas periferias. Por quê?
R Temos ricos muito ricos e pobres muitos pobres. Então, se estivéssemos chacinas nos bairros centrais de Belém, a Secretaria de Segurança Pública tomaria providências claras, e não essas feitas para imprensa ver. O Sistema de Segurança Pública do Pará protege os mais ricos. O resto é o resto: se não sobrar orçamento, tanto faz para o Estado. Na periferia, se trata a vida como se fosse descartável. Quando se abre um jornal e se vê 10 mortes na periferia, ninguém se surpreende. Na maioria são negros, pobres, moradores de periferias e favelas, que, não servindo ao capital econômico, são vistos como anormais, marginais, sujeitos perigosos ao convívio social. Aí reside a justificativa social do extermínio dos jovens negros nas periferias brasileiras.

P O que é preciso para mudar esta situação?
R A sociedade tem de reagir. Cada vida conta. Seja de ‘bandidos’ ou de cidadão de ‘bem’. Domingo (11) teve uma caminhada pela paz. Porém, é preciso mais. Fazer pressão. Ir às ruas. Temos de dizer ao Governo que queremos não ter medo. Queremos colocar as cadeiras nas portas de casa para conversar à noite.

P Em 20 anos de pesquisa, quantos homicídios desses você já viu ser solucionado?
R Deve ter um ou outro. Não há investigações sobre esses crimes. A taxa de resolução dos homicídios no Pará é baixa.

P Os locais do tráfico são conhecidos pela polícia?
R Eu já acompanhei, na pesquisa do meu doutorado, várias rondas policiais. Eles apontam as ‘bocas de fumo’, a casa dos assaltantes. Eles sabem de tudo. Mas não há um mapeamento para conter esses locais. Não tem esquemas de repressões bem organizados destes traficantes. E esse carro prata, que está rodando a cidade há 7 anos? Não me diga que uma cooperação de 12 mil homens não sabe quem é.

P Diante dos últimos acontecimentos, qual é sua avaliação sobre a Segurança Pública no Estado?R Temos uma polícia mal organizada. Todos sabem dos problemas e jogam a responsabilidade de um para o outro. Hoje, temos uma Secretaria de Segurança que só sabe dizer paciência, que é uma sensação de insegurança. Tem 7 anos que os secretários nos dizem isso, e não temos uma reação clara deles.

P A troca de comando da Secretaria de Segurança Pública é uma solução?
R Pode colocar qualquer pessoa, mas quem tem de enfrentar o problema é o governador Simão Jatene. Mudar de secretário não vai mudar a intenção dele de enfrentar a polícia e o crime organizado. O governador é que tem de tomar uma decisão. O secretário não tem força. Ele é apena um representante do governo nos assuntos de segurança. Eu nunca pensei que um general do Exército fosse indicado para fazer a segurança pública, porque militar é treinado para matar. Aniquilar o inimigo. E esta tem sido a maneira que a polícia tem trabalhado. Achando que o inimigo está na periferia.

P Quais são as soluções para conter a violência?
R Primeiro evitar a privatização da polícia. Dar meios e bons salários aos policiais e assim conter a corrupção da polícia e, também, evitar que o crime organizado possa chantagear os políticos e policiais (militares e civis), além de dar mais educação e oportunidades aos jovens.

(Roberta Paraense/Diário do Pará)

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