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Lágrimas, revolta e medo marcam despedidas

A quinta-feira (8) foi dedicada a enterrar os mortos de mais uma chacina registrada em bairros da periferia de Belém. Desta vez, o alvo foram moradores da Condor e do Jurunas. Foram dois velórios na Rua Nova, palco da Chacina da terça-feira (7); um na sed

A quinta-feira (8) foi dedicada a enterrar os mortos de mais uma chacina registrada em bairros da periferia de Belém. Desta vez, o alvo foram moradores da Condor e do Jurunas. Foram dois velórios na Rua Nova, palco da Chacina da terça-feira (7); um na sede do Rancho; outro na passagem São Miguel e o último na travessa Tupinambá, todos próximos. A sensação é de que o lugar estava em uma guerra.

Choro, queixas contra as políticas públicas de segurança e medo, muito medo, de quem, apesar de tudo, tentava voltar à rotina após a noite de terror que terminou com 5 mortos e 11 feridos, entre eles duas crianças.

Da entrada da casa de Evandro dos Santos Sá, 38 anos, ouvia-se choro. Em volta do caixão, os quatro filhos de 21, 18, 16 e 15 anos; a mulher, a sogra e a mãe. Nem o mau cheiro do lixo acumulado na área em frente, há semanas sem coleta, afastava a multidão que foi velar o servidor do Hemopa. Torcedor do Paysandu, Evandro chegou do trabalho na terça-feira (6), por volta das 18h. Estava animado.

Naquela noite, seu time enfrentaria o ABC e ele queria assistir à partida, pela televisão, em um bar a poucos metros de casa na companhia dos amigos. Tomou banho, arrumou-se e não voltou mais. “A gente queria entender o que aconteceu, o porquê. Quem fez isso?”, indagava a cunhada, que não quis se identificar. Na saída do caixão, a família fez uma oração, falou na bondade humana e clamou por justiça. As perguntas continuam sem respostas. O desejo por justiça às vítimas também.

Agora, só restam as boas lembranças

A poucos metros, vizinhos, um tio e um irmão velavam o corpo de Sebastião de Souza Pereira, 46 anos. Sem emprego fixo, ele vivia de pequenos bicos. Uma das tarefas mais frequentes era levar as crianças da vizinhança para a escola usando uma velha bicicleta. Pereira morava sozinho com um irmão. Perdeu os pais cedo, não teve filhos.

Torcedor do Barcelona e do Remo, saiu de casa na naquela noite fatídica para “secar” o adversário. Numa brincadeira, tinha sido obrigado a se deixar fotografar com a camisa do Paysandu. A foto e as histórias contadas pelos vizinhos eram as poucas lembranças de mais uma vítima do tipo de crime que parece estar se tornando rotina.

Jairo Lobato, 37 anos, trabalhava como carregador em um supermercado no bairro do Guamá e morava com o filho de 14 anos nos fundos da casa dos pais, na travessa Tupinambá, bairro do Jurunas. Naquela noite, decidiu ir para a rua, onde encontraria a morte. “Ele era um excelente filho, bom pai. Organizado, gostava da casa sempre arrumada”, relembra uma prima. “O pior é que as pessoas ficam comentando que morreu porque estava envolvido com drogas. A gente sofre preconceito, mas aqui também mora gente de bem”, reclama.

Em frente à casa de Rodney Vasconcelos, 26 anos, o clima era de revolta. Usando camisetas com a foto do rapaz, que era casado e tinha dois filhos de 7 e 5 anos, a mãe desabafava: “A gente só quer que a Justiça seja feita. Estamos com medo, porque não sabemos quando haverá outro ataque desses” .

Na sede do Rancho Não Posso me Amofiná, o som da bateria de uma das escolas de samba mais tradicionais do Pará silenciou. Entre os mortos da chacina estava Ricardo Botelho, que tocava instrumentos na escola. “É uma dor que não passa. Parece que não aconteceu. Às vezes, acho que foi um sonho”, disse uma amiga.

Mais policiamento? Só nos bairros nobres

Dois dias após a chacina, a Polícia Militar do Pará anunciou uma operação batizada de “PM nas Ruas”. Em nota, enviada às redações, a corporação informa que o objetivo é “intensificar a presença do efetivo operacional nas ruas da capital para coibir a prática de ações criminosas”. Porém um detalhe chamou a atenção. Entre os bairros prioritários da ação estão os das áreas centrais da capital, como Nazaré, Batista Campos e Umarizal, para onde serão enviados, segundo a nota, 242 homens e mulheres dos Comandos de Policiamento da Capital (CPC), de Missões Especiais (CME) e de Policiamento Especializado (CPE).

Vale lembrar que as chacinas registradas até agora em Belém foram todas nas áreas periféricas da cidade, em bairros como Terra Firme, Guamá e agora Jurunas e Condor (ver box), lugares que, segundo fontes da própria Secretaria de Segurança Pública do Estado do Pará, estão dominados pelo tráfico. Tudo indica, contudo, que o objetivo da megaoperação pós-chacina é apenas mostrar presença e acalmar os ânimos de quem, nos últimos dias, tem usado principalmente as redes sociais para cobrar providências do poder público.

CHACINAS EM 2017

- 20 E 21 DE JANEIRO

Trinta pessoas foram assassinadas na Grande Belém entre a manhã do dia 20 de janeiro e a manhã do dia 21. As mortes ocorreram horas depois do assassinato do policial militar Rafael Costa, morto durante uma perseguição a suspeitos no bairro da Cabanagem, em Belém. As mortes ocorreram em 16 bairros da capital, além de Ananindeua e Marituba.

- 4 DE ABRIL

A Polícia Civil registrou 10 homicídios por arma de fogo na Região Metropolitana entre as 19h50 e as 23h55 do dia 4. Foram 7 em Ananindeua, 2 em Belém e 1 no distrito de Icoaraci. A onda de execuções teria ligação com a morte do policial militar cabo Adson Baia, assassinado em Ananindeua durante um assalto.

- 4 DE MAIOQuatro pessoas foram assassinadas no Conjunto Eduardo Angelim, no dia 4 de maio, em Belém, 24h após o assassinato do o soldado PM Ronivaldo Barreto, de 32 anos, no conjunto Eduardo Angelim.

- 6 DE JUNHODesta vez, no bairro da Condor, na terça-feira (6), cinco pessoas foram assassinadas. Os homicídios ocorreram por volta das 22h, na Rua Nova Segunda. Morreram no local Rodney Vasconcelos Silva, 26 anos; Jairo Lobato Pimentel, 38 anos; e Sebastião Souza Pereira, 46 anos. Já Evandro dos Santos Sá chegou a ser socorrido e levado ao PSM do Guamá, mas não resistiu aos ferimentos. Na manhã de quarta-feira (7), a quinta vítima, Ricardo Botelho, faleceu no PSM da 14 de Março.

(Rita Soares/Diário do Pará)

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