Água de Mosqueiro é imprópria para consumo

Dos 4 postos de abastecimento de água da Ilha de Mosqueiro, em apenas um, no Murubira, a água é tratada pela Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa). A denúncia é grave, alarmante e foi constatada pelo Ministério Público Estadual (MPE), que, em abril, verificou in loco a qualidade da água que serve os cerca de 40 mil moradores de um dos balneários mais famosos e visitados do Pará, distante apenas 76 quilômetros de Belém.

A pedido do MPE, o Instituto Evandro Chagas coletou 11 amostras da água dos poços de Mosqueiro para análise. O DIÁRIO DO PARÁ teve acesso ao laudo de avaliação com exclusividade: em 6 das amostras (54,55%), o instituto apontou a contaminação por coliformes fecais. De acordo com o IEC, a presença de coliformes indica a necessidade de realizar a cloração da água antes do consumo.

Abaixo-assinado

No parâmetro cor, 7 das amostras (63,64%) estavam fora do padrão estabelecido, relacionados à falta de manutenção (limpeza). Em relação à quantidade de ferro, 5 amostras (45,45%) não estavam com quantitativo aceitável, devido a problemas no tratamento. “Na própria sede da promotoria em Mosqueiro percebemos que a água saía amarelada da torneira, com uma aparência fora do normal.”, diz o promotor de Justiça Mauro José Mendes de Almeida, que até mês passado atuava na 2º Promotoria da ilha e esteve na fiscalização. “Por isso pedimos o auxílio técnico do Instituto Evandro Chagas para fazer a análise da água”.

A promotoria estuda o resultado do laudo. “Caso seja constatada a impossibilidade da utilização da água, podemos ajuizar uma Ação Civil Pública contra a Cosanpa para obrigá-la a fornecer água de qualidade à comunidade, além da aplicação e multa”, adiantou o promotor. A gota d’água para a ação foi o recebimento pelo promotor de um abaixo-assinado com a assinatura de cerca de 250 moradores da Praia Grande denunciando que estavam há 45 dias sem água nas torneiras.

Líquido sai direto do poço para as torneiras

A fiscalização ocorreu em 4 postos de abastecimento da ilha, nos bairros do Murubira, Vila, Carananduba e Baía do Sol. Nesses três últimos, a água não passa por qualquer processo químico que a torne potável. Em todos, foram coletadas amostras de água pelo Instituto Evandro Chagas para apurar a qualidade do serviço. “Foram constatadas várias irregularidades nos postos: as instalações físicas são precárias e a água sai diretamente do poço para a caixa d’água sem o tratamento adequado. É amarelada e suja tudo” afirmou o promotor de justiça Mauro Almeida. A visita se estendeu à administração da Cosanpa, onde os técnicos do instituto condenaram o sistema de tratamento, que é inexistente.

No posto da Vila, localizada na Quinta Rua, os técnicos encontraram o caos. “É a pior das unidades. Inexiste manutenção e as estruturas estão totalmente corroídas pelo tempo. O sucateamento é total. Não admira que a água saia de lá e chegue às torneiras daquele jeito...”, critica o promotor.Mauro Almeida afirmou que a situação prejudica não apenas os moradores, mas os turistas que visitam a ilha. “Nas férias de julho e de final e início do ano a população e Mosqueiro se multiplica por 10 e o abastecimento, que já é ruim, entra em colapso”, lembra.

Resposta

Cosanpa

Em nota a Cosanpa informou que os sistemas visitados pelo promotor pertenciam ao extinto Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Beléim (Saaeb ) e hoje fazem parte da administração da companhia. A companhia garante que “eles passarão por adaptações, onde receberão um tratamento mais adequado da água, como já é feito nos sistemas do Chapéu Virado, Ariramba e Murubira”. A companhia informa ainda que o “distrito está incluído em uma linha de crédito do Governo do Estado para revitalização de pontos turísticos do Estado ainda este ano”, mas não informou o valor dessa linha de crédito e tampouco como será aplicada.

(Luiz Flávio/Diário do Pará)