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Comoção no enterro das vítimas da chacina

Revolta e tristeza marcaram o velório e enterro de 8 das 10 vítimas da chacina da fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’Arco, na região Sul do Pará. No velório, que aconteceu no ginásio de uma escola municipal de Redenção, o que não faltou foram denú

Revolta e tristeza marcaram o velório e enterro de 8 das 10 vítimas da chacina da fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’Arco, na região Sul do Pará. No velório, que aconteceu no ginásio de uma escola municipal de Redenção, o que não faltou foram denúncias de assassinatos sem chance de defesa, que teriam sido cometidos pelos policiais no último dia 24, depois que 29 policiais entraram no acampamento dos sem-terra, no começo da manhã.

Os familiares também estavam indignados com a forma como foram entregues os corpos, levados a uma funerária de Redenção e sem embalsamação. Ou seja, em estado de putrefação (Veja mais na matéria abaixo). “Este Governo não tem vergonha na cara. Prometeu embalsamar o corpo e não o fez. Nos entregam nesse estado”, criticou Mônica Souza, prima de Nelson Souza Milhomem, uma das vítimas.

VELÓRIO

Mônica acredita que houve uma chacina na fazenda Santa Lúcia. “Como se pode acreditar que houve um confronto se ninguém saiu ferido do lado dos policiais? Impossível acreditar nisso!”, disse, entre lágrimas. Manoel Pereira Milhomen era um dos mais indignados. Ele perdeu no conflito 2 filhos e também acredita que pode ter havido uma chacina.

Depois de uma missa de corpo presente, os corpos das 8 vítimas - sendo 7 de uma mesma família-, foram levados em cortejo fúnebre até o cemitério São Geraldo, onde foram sepultados, no final da manhã. Outras duas vítimas também foram enterradas ontem de manhã, em Pau D’Arco.

Mônica Souza chora sobre o caixão de seu primo (Foto: Mauro Neto)

Manoel Pereira perdeu 2 filhos na tragédia (Foto: Mauro Neto)

PARA ENTENDER - FAZENDA SANTA LÚCIA

- A fazenda Santa Lúcia tem 3.500 hectares e está ocupada desde 2012 por diversos movimento de sem-terra, incluindo a Liga dos Camponeses Pobres do Pará, de onde são oriundas as 10 vítimas da chacina do último dia 24.

- A propriedade pertence à família Bambisky, tradicional no município e uma das pioneiras na região.

- Há aproximadamente um mês foi executada uma ação de reintegração de posse, mas os camponeses voltaram a ocupar o local, o que culminou com a morte, no último dia 30 de abril, do vigilante Marcos Montenegro.

- Na sexta-feira (19), os ocupantes da fazenda atearam fogo e depredaram alguns prédios do local.

- Munidos de mandados de prisão, na segunda-feira (22), a polícia tentou chegar na Fazenda para cumpri-los, mas teria sido impedida por barricadas feitas pelos sem-terra.

- Devido a isso, policiais civis e militares voltaram na madrugada do dia 24 à fazenda e o resultado foram 10 mortos.

Corpos chegaram na funerária dentro de sacos plásticos e em estado avançado de putrefação (Foto: Avener Prado/Folhapress)

Corpos são entregues em estado de putrefação

Colocados em sacos plásticos e amontoados nas carrocerias de duas camionetes, os corpos das 10 vítimas foram devolvidos pela Perícia Criminal às famílias em estado avançado de putrefação. Os cadáveres chegaram na madrugada de ontem a uma funerária de Redenção. Diante de dezenas de familiares, os funcionários da perícia encostaram os veículos e retiraram os corpos, envoltos sob um forte cheiro. Um a um, os sacos foram abertos no chão da funerária para novo reconhecimento. Todos os mortos estavam com rostos desfigurados, sobretudo pelo inchaço.

REVOLTA

Irritados com a promessa não cumprida de que os corpos chegariam embalsamados, familiares gritavam contra os funcionários da perícia. Muitos choravam. Três mulheres tiveram de ser amparadas para não cair no chão.

“Eles chegaram podres, pior do que foram”, afirmou o lavrador Manoel Pereira, 58, que perdeu 1 filho, 2 irmãos, 3 sobrinhos e uma cunhada.

Os corpos dos 9 homens e uma mulher tinham sido levados para autópsia em Marabá e Parauapebas, a respectivamente 356 km e 290 km de Redenção, cidade de origem da maioria dos mortos e vizinha a Pau D’Arco, palco da chacina.

Questionada por e-mail sobre a manipulação dos corpos, o Centro de Perícias Científicas, do Governo do Estado, não havia enviado resposta até o fechamento desta edição.

Área da fazenda Santa Lúcia onde a tragédia teria acontecido (Foto: Edinaldo Souza)

Governo do Estado afasta policiais de suas atividades

A Secretaria Estadual de Segurança Pública e Defesa Social do Pará afastou 21 policiais militares e 8 policiais civis que participaram da operação, na quarta-feira (24), que culminou com a morte de 10 pessoas, em Pau D’Arco. Segundo a assessoria da pasta, o afastamento dos agentes é temporário, em conformidade com uma resolução do Conselho Estadual de Segurança Pública. Anteontem, a seccional paraense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PA) havia pedido o afastamento dos policiais envolvidos.

Os agentes entregaram as armas e deixarão suas atividades por 40 dias, prorrogáveis por mais 20 – tempo previsto para a conclusão do inquérito instaurado para apurar se os policiais cometeram excessos -. Os policiais afirmam que foram recebidos a tiros na fazenda e, por isso, reagiram.

DIREITOS HUMANOS

Na avaliação do presidente do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Darci Frigo, que integra a comitiva federal que está na região para ouvir testemunhas e acompanhar as investigações, não há, até agora, indício que sustente a versão dos policiais.

“As pessoas estavam acampadas no meio do mato, em um local de muito difícil acesso. Chovia torrencialmente, o que pode explicar que o grupo (de trabalhadores) não tenha percebido a aproximação da polícia”, diz. “Mesmo assim, o grupo tinha uma vantagem muito grande em relação aos policiais, pois já estava dentro da mata. Então, a tese de que os policiais foram recebidos a bala cai por terra na medida em que não houve sequer um policial ferido”, disse Frigo.

Ministério Público do Estado investiga mortes

O Ministério Público do Estado instaurou, ontem, procedimento investigatório criminal para apurar as mortes ocorridas na fazenda Santa Lúcia. O caso será acompanhado pelos promotores de Justiça Magdalena Torres Teixeira (1ª Promotora de Justiça de Titular de Redenção), Erick Ricardo de Souza Fernandes (5º Promotor de Justiça em Execução de Redenção), Alfredo Martins de Amorim (Promotor de Justiça por designação) e Jane Cleide Silva Souza (Promotora de Justiça por designação). Foram ouvidos ontem alguns policiais que participaram da operação além de um delegado.

O MP diz que está tomando as providências para o efetivo trabalho de investigação. Para isso, atua de forma articulada inclusive com o Ministério Público Federal e Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão.

O Governo do Estado, em nota, diz que determinou rigorosa, isenta e transparente apuração dos fatos decorrentes da operação policial de cumprimento de mandados judiciais de prisão e busca e apreensão na área da fazenda.

(Mauro Neto/Diário do Pará. FolhaPress e Agência Brasil)

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