Adestramento: faça do seu cão um companheiro

Há quem associe a palavra “adestramento” a um processo não necessariamente interessante para o animal. Também, pudera. Por muitos anos, a ideia de adestrar quase sempre envolvia atividades com reações punitivas em caso de não obedecimento dos comandos. Hoje, há uma corrente adepta do adestramento comportamental, que faz do ato de educar um ato de amor e cuidado com o bicho de estimação.

O engenheiro agrônomo Max Dufranck, de 43 anos, se dedica a esse método há 25 anos. Quando não existia internet e o material sobre o assunto era escasso, lá estava ele estudando o que podia e com o que podia. Primeiramente, para dar conta de seu primeiro animal de estimação, um Pastor Alemão que, à medida que foi crescendo, se tornou agressivo. “Eu comprava o que tinha de revista na banca sobre o assunto, lia tudo o que chegava ao meu alcance”, lembra. “Eu não sabia de nada, não entendia, não sabia por que meu cachorro, que eu tinha comprado ainda filhote, tinha ficado daquele jeito. Só que aprender sobre isso acabou se tornando a minha grande paixão”, revela.

Toda essa sede de entender a psiquê animal fez Max se matricular em cursos, batalhar por livros em inglês que nem eram vendidos no Brasil, tudo para aprender mais e mais sobre o adestramento comportamental a partir de reforços positivos. “A gente pode dizer que o cão olha para a gente e vê uma matilha. Então, gosto de ensinar os donos, sejam crianças, senhoras, pais de família, a entendê-lo”, explica. “Em qualquer idade, qualquer cachorro pode ser adestrado, mas os resultados variam. Todos nós adestramos nossos cães a vida inteira. E, se o cão faz algo de uma forma há dez anos, não é em um mês que vai mudar”, avalia.

MANUTENÇÃO

Embora os temperamentos variem de raça para raça, o adestrador prefere falar em tipos de agressividade. “Tenho uma pitbull que, estando do meu lado, qualquer um pode se aproximar, até criança. Mas nunca deixaria uma criança só com ela. Porque a raça não tolera. Tem sentimento, mas não tem moral”, justifica. Como em quase tudo na vida, o adestramento, depois de concluído, exige manutenção. “É claro que ele pode, com o tempo, esquecer um comando ou outro. O ‘senta’, ‘deita’, ‘fica’ são os que quase nunca são esquecidos. É importante manter as atividades que remetem o cachorro ao condicionamento”, explica.

Treinamentos seguem correntes pedagógicas

O biólogo Marlos Brum é adestrador há 3 anos. Ele frisa que, assim como no meio pedagógico infantil, também há várias escolas de adestramento baseadas em correntes filosóficas. A que ele segue tem origem no behaviorismo (ou comportamental) e, assim como trabalha Max, tem a ver somente com reforços positivos. “Eu sou, para o cão, um condutor, um orientador. Induzo a acertar e dou recompenso pelos acertos”, resume.

Para fazer o animalzinho acertar o passo com o dono, por exemplo, Marlos espera que ele ande ao seu lado por dois ou três passos e o recompensa por isso; vai aumentando a tolerância dele, até chegar um tempo em que a única coisa que cão vai querer é andar junto. “Isso ocorre quando ele associa esse comportamento ao fato de ganhar a minha atenção, afeição e petiscos”, brinca. Citando o pesquisador norte americano Stanley Coren, o biólogo e adestrador faz uma comparação da adestrabilidade das raças com base no guia “A Inteligência dos Cães”.

“As capacidades mudam, isso procede. O Shih-Tzu, por exemplo, aparece no fim dessa lista, porque, ao longo dos anos, foi selecionado para ficar no colo, aquecer os donos, é uma raça oriunda do Tibet. Diferente do Poodle, que está em 2º lugar, e tem suas primeiras espécies envolvidas em atividades de caça”, detalha.

Independente da “inteligência” do animal, o adestramento é algo a ser considerado em praticamente toda situação, principalmente se o bichinho passa por algum tipo de sofrimento. Os treinamentos não exigem que o animal fique fora de casa, duram no máximo 3 meses e geralmente contam com a presença dos donos. “Recebo muitos que sofrem por serem medrosos demais ou agressivos demais. Em ambos os casos, o nível de estresse e de sofrimento do cachorro é grande e precisa ser tratado”, confirma o adestrador.

Bicho esperto capacidade de adestrabilidade

Em um livro chamado “A Inteligência dos Cães”, o especialista Stanley Coren elaborou um ranking a respeito da inteligência canina para o trabalho e a aceitação de comandos de obediência. Coren criou um questionário a ser respondido por juízes norte-americanos e canadenses especializados em provas de obediência.

Confira os 20 primeiros cachorros mais suscetíveis ao adestramento:

1º - Border Collie

2º - Poodle

3º - Pastor Alemão

4º - Golden Retriever

5º - Dobermann

6º - Pastor de Shetland

7º - Labrador

8º - Papillon (cão)

9º - Rottweiler

10º - Australian Cattle Dog

11º - Welsh Corgi (Pembroke)

12º - Schnauzer Miniatura

13º - Springer Spaniel Inglês

14º - Pastor Belga Tervuren

15º - Pastor Belga Groenendael, Schipperke

16º - Collie, Keeshond

17º - Pointer Alemão de Pêlo Curto

18º - Cocker Spaniel Inglês, Flat-Coated Retriever, Schnauzer Standard

19º - Brittany

20º - Cocker Spaniel Americano

Projeto SOS Pets

O DIÁRIO e o DIÁRIO ONLINE (DOL) publicarão uma série de 12 matérias relacionadas aos animais de estimação, sempre aos domingos e quinta-feiras (DIÁRIO) e segunda e quartas (DOL), sobre alimentação, saúde, comportamento, entre outros temas relacionados ao mundo animal. O projeto tem o patrocínio da Helfine e do Help Fast Delivery.

(Ana Carolina Menezes/Diário do Pará)