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Após anos com os fios lisos elas retomam os cachos

Por muito tempo os cabelos extremamente lisos eram sinônimo de beleza e elegância. As técnicas de alisamento com produtos químicos se popularizaram e muitas mulheres com cabelos ondulados, cacheados ou crespos aderiram ao visual. Mas por trás desse “idea

Por muito tempo os cabelos extremamente lisos eram sinônimo de beleza e elegância. As técnicas de alisamento com produtos químicos se popularizaram e muitas mulheres com cabelos ondulados, cacheados ou crespos aderiram ao visual.

Mas por trás desse “ideal” de beleza, ficava algo que por muito tempo foi assunto velado: baixa autoestima, não aceitação do próprio cabelo, queimaduras no couro cabeludo, alergia nos olhos e na pele pelo uso inadequado de formol, além do tempo cedido à escravidão do cabelo liso.

Hoje, um movimento intenso em blogs e redes sociais faz campanha pela valorização da estética natural dos fios, e para estimular a chamada transição capilar de volta à textura natural dos cabelos.

A produtora cultural Viviane Chaves decidiu parar de alisar, após a própria mãe ter tido a iniciativa de deixar os cabelos livres de químicas.

“Parei porque estava cansada de ter que perder uma hora e meia do meu dia para fazer uma chapinha perfeita, já que eu mesma modelava meu cabelo. Às vezes chegava cansada, ia lavar o cabelo e era um sofrimento pensar que eu teria que secar e pranchar. Quando a minha mãe cortou o cabelo dela, me encorajou, e comecei não fazendo a química e cortando ele aos poucos para me acostumar. Estava bem curto quando decidi tirar o alisado. Agora me sinto ótima, por mais que algumas vezes ainda fique insegura, porque ainda estou aprendendo a lidar com ele. Mas me sinto livre, sabe?”, diz.

Ela começou a fazer o procedimento na adolescência, quando o seu cabelo mudou bastante de forma e volume. Incomodava-se com os cachos indomáveis e partiu para o “relaxamento”, uma das técnicas populares de então. Depois fez escova progressiva, escova marroquina, escova definitiva... e assim se foram 12 anos.

Viviane diz que não foi alvo de preconceito, mas que tinha problemas consigo mesma. “Eu não me aceitava. Não sabia cuidar do meu cabelo e ele vivia preso. E aí algumas pessoas perguntavam por que eu não fazia procedimentos para alisar. E eu sempre dizia que preferia não fazer, mas aí um dia eu fui no salão e fiz, e me senti melhor”, diz.

O que muitas vezes se esconde por trás dessas sugestões é o preconceito que compromete a autoestima das mulheres com cabelos enrolados, principalmente, durante a infância e na própria família.

MUDANÇA CHEIA DE SIGNIFICADOS

Outro componente que compromete a autoestima das mulheres com cabelos enrolados é o preconceito, na escola principalmente, durante a infância e na própria família.

A jornalista Daniela Walendorff, branca, com cabelos claros e olhos verdes, sempre ouvia que o cabelo crespo era um problema e destoava dos seu estereótipo.

“Diziam que eu era branquinha e bonitinha, mas se tivesse cabelo liso seria mais bonita”, conta. E então, com 13 anos ela começou a fazer o relaxamento. Já se foram 15 anos também testando diversos tipos de procedimentos para torná-los lisos. Mas ela foi mudando de pensamento.

“De uns seis anos para cá comecei a admirar cabelos enrolados bem cuidados. Cabelo bem tratado fica bonito, independente se é liso, ondulado, colorido, curto, comprido. Passei a admirar cabelos do tipo black power, mas relutava, achava que talvez não ficaria bem em mim. E essa vontade foi crescendo. No ano passado, toda vez que eu ia no salão as pessoas me davam apoio. E parei, gostei, foi indolor. Gostei muito do resultado e comecei a fazer a finalização em casa. Mesmo sem corte, ele foi crescendo”, revela Daniela, que também participa de grupos de ajuda para outras mulheres que querem passar pela transição capilar.

Também vítima de preconceito, a publicitária Luiza Chedieck começou ainda criança a querer domar os fios, após sofrer bullying na escola. Ela começou aos nove e fez a última vez aos 18, mesmo tendo apoio em casa.

“No colégio chegaram até mesmo a cortar meu cabelo quando eu usava trancinhas e, se ele estava preso, soltavam, levavam o prendedor e ficavam rindo de mim no pátio. Além disso, no cinema, na TV, nas revistas, todas as mulheres apareciam com cabelo liso. Quando eu tinha uns 8 anos, o alisamento chegou com força e implorava e chorava pedindo para minha mãe para eu alisar. Parecia uma grande solução. Depois de muito insistir, aos 9, quase 10 anos, fiz o tratamento químico pela primeira vez e me senti realizada. As ofensas diminuíram e, por isso, eu me sentia mais aceita socialmente e, então, melhor”, recorda.

Mas com o processo de alisamento ao longos dos anos foi se tornando muito cansativo. Depois, a raiz começava a crescer cacheada e ela se sentia constrangida de sair para alguns lugares.

“Eu me privava de ir à praia ou a piscina, por exemplo, para não acontecer nada que deixasse o meu cabelo esquisito e o danificasse ainda mais. De repente eu não lembrava mais como era o meu cabelo natural. Me entristecia ter que fazer chapinha, alisar e sentir que eu estava escondendo tanto uma parte de mim. Pessoas queridas ao meu redor começaram a me estimular e apontar vários cabelos crespos lindos”, conta.

NA INTERNET, GRUPOS E BLOGS AJUDAM QUEM QUER MUDAR

Foi na faculdade de comunicação que Luiza Chedieck começou a perceber como era “manipulada” por uma estética imposta pela indústria cosmética, com campanhas publicitárias que indicavam que apenas os cabelos lisos são bonitos. Depois disso, com o boom de informações na internet e a libertação capilar sendo uma base para o empoderamento feminino, Luiza deu um basta de vez aos procedimentos químicos.

“Os movimentos de empoderamento na internet vieram depois que eu já tinha decidido parar de alisar. Eu estava no processo de transição e não sabia nem o que significava um big chop - que é o corte pela raiz, bem curto, tirando todo a química. As blogueiras me ajudaram muito mostrando vários processos de transição e dando dicas de como tratar os cabelos cacheados e crespos. Percebi que não sabia nada sobre meu próprio cacho. Comecei a me informar sobre tudo e aprendi a cuidar. Os blogs me deram, também, muita força. Entre as blogueiras, a Rayza Nicácia foi, sem dúvida, minha favorita”, conta.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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