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Antropólogo fala sobre o budismo prático

Compaixão, bondade, generosidade podem corresponder a pequenos atos cotidianos, no interior das nossas relações. O budismo compreende que é possível encontrar caminhos para viver em harmonia com o outro e consigo mesmo. O antropólogo Henrique Lemes, que f

Compaixão, bondade, generosidade podem corresponder a pequenos atos cotidianos, no interior das nossas relações. O budismo compreende que é possível encontrar caminhos para viver em harmonia com o outro e consigo mesmo. O antropólogo Henrique Lemes, que foi aluno do Lama Padma Santem – mestre do budismo tibetano no Brasil – e é estudioso desde os 18 anos sobre a religião, esteve em Belém e conversou com o Você sobre como aplicar os ensinamentos, meditar e transcender obstáculos.

Ele é gaúcho, assim como Lama Padma Santem, e o conheceu durante a vida universitária, enquanto estudante do curso de Ciências Sociais. Seu interesse pelo budismo foi crescendo e aos 22 anos, passou a morar na Comunidade Caminho do Meio, em Viamão (RS), do Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), fundado pelo lama. Durante sua passagem pela capital paraense, ele encontrou um grupo de cerca de 50 pessoas interessadas em meditar e buscar equilíbrio pessoal e com os outros. “O budismo trabalha com a noção da importância de estabelecermos relações positivas, olhando para os seres e ser capaz de trazer benefícios aos seres. A gente se sente feliz fazendo isso”, adianta.

P: Como você conheceu o budismo e por que continuou nesse caminho?

R Eu morava no interior do Rio Grande do Sul, que era uma colônia alemã, não necessariamente pequena, mas um pouco fechada a outras visões. Com 17 anos passei no vestibular, fui estudar Ciências Sociais e desenvolvi interesse pela antropologia. Queria saber como poderia haver pessoas que viam a vida totalmente diferente, como elas encontravam soluções ali por dentro. Então encontrei o budismo. O Lama Padma Santem foi professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e fiz minha formação lá. Algumas pessoas do ambiente acadêmico conheciam ele. E aquilo mudou a minha vida.

P:Em que sentido?

R: Vi que na universidade tinha uma efervescência para produzir transformações. Não só pessoais, mas também coletivas. Olhava para colegas da época de faculdade que se engajavam em partidos políticos e movimentos sociais e muitos tinham visões muito interessantes de produzir transformações, mas misturado com raiva, com inimigos, com a ideia de que algumas pessoas deveriam ser eliminadas. Pensava: como vocês querem um mundo melhor se vocês estão com raiva do fulano? Como um mundo melhor vai ser construído quase com uma visão bélica? Também olhava meus professores e pensava que tinham toda uma formação, fizeram pesquisa e não achava que eles eram pessoas felizes. Muitos com visões fechadas e metidos em brigas de departamento. Com 18 anos, encontrei o Lama Santem e pensei: “que sujeito interessante”. Ele tinha uma visão que me chocou muito na época, que é o budismo com engajamento social, crítico com relação à sociedade, com uma visão ecológica. Ele tinha uma habilidade de unir a filosofia budista com questões chaves da vida. Vi que era alguém realizado por dentro e mantinha o que falava. Tive uma conexão direta com ele e comecei a praticar budismo, fui fazendo a formação na universidade e no final me mudei para o Caminho do Meio.

P:Hoje você se dedica a falar sobre o budismo aplicado à vida cotidiana. Como é possível?

R:O budismo só vai fazer sentido em meio às relações em que a pessoa está imersa. A prática espiritual só faz sentido em meio à vida. Se não conseguirmos ver isso operando em meio à vida, fica algo colateral que não vai fazer muito sentido. O budismo vai iluminar a nossa vida, a nossa mente, e quando isso ocorre a pessoa vai se dar conta de que a vida dela, a mente dela e o mundo interno é construído na experiência de mundo externo. E aí começa a diluir a ideia de que ela tem do mundo externo e as percepções internas. Então o budismo deixa claro o que ela está buscando. Como a pessoa tem obstáculos internos e como ultrapassá-los, que ferramentas ela pode usar. Como ela pode usar a meditação na vida e isso ser útil, não no sentido utilitário, banal, mas como um trampolim para ultrapassar a raiva, carência, uma prática para treinar a generosidade, compaixão, o amor pelos seres. Treinar o foco na mente, a liberdade diante das circunstâncias todas. Estamos em interdependência uns com os outros. Não faz sentido pensar que é preciso se isolar do mundo, é uma visão romantizada que as pessoas têm do budismo, que é alguém que vai subir a montanha e raspar a cabeça. Na verdade, os momentos de isolamento e retiro são para que a pessoa faça determinadas práticas para lidar com obstáculos que encontrou.

P:As relações são o ponto chave para o budismo no dia a dia?

R:Quando nos relacionamos, buscamos experiências que produzam brilhos nos olhos, que nos movam internanamente. A impressão que temos é que esse estado de maravilhamento é da pessoa, e que se estivermos perto dela esse brilho vai aparecer. Da mesma forma que olhamos para objetos e achamos que precisamos, e compramos. Esse estado interno vai acontecer, e gente não sabe como aquilo desaparece, e estamos com o objeto na nossa frente. Boa parte da esquizonrenia das relações com as pessoas e com as coisas vem do sentido utilitário, achando que elas serão capazes de nos fornecer estados internos. E quando não oferece mais, aquilo vira lixo.

P:Como o budismo enxerga essas situações?

R: O budismo olha para isso de forma crítica, busca compreender como estabelecer relações sem esse olhar utilitário, que não seja a partir de um viés autocentrado, mas com o olhar para o outro no lugar dele, reconhecendo qualidades que ele mesmo tem. Como me alegrar com essas qualidades? E aí as relações se transformam em vínculos. O budismo trabalha com a noção da importância de estabelecermos relações positivas, olhando para os seres e sendo capazez de trazer benefícios a eles. A gente se sente feliz fazendo isso. E as relações passam a ter este teor. É uma parte crucial do budismo.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

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