Grupo Límitrofe apresenta espetáculo em Belém

Grupo Limítrofe leva ao palco este fim de semana um dos textos mais engajados do dramaturgo paulista, “Abajur Lilás”Uma das obras mais impactantes e politicamente engajadas do dramaturgo paulista Plínio Marcos, “Abajur Lilás”, será o primeiro projeto apresentado pelo grupo Limítrofe, em cartaz sábado e domingo, com sessões às 18h e 20h, na Casa da Atriz. A dramaturgia conta a vida das personagens Dilma, Célia e Leninha. Elas tentam sobreviver em um submundo cheio de impiedades, extorsões e injustiças praticadas e personificadas por Giro, o dono do prostíbulo em que elas trabalham.

Vivendo em um ambiente de autoritarismo, ameaça e violência, Dilma mantém a esperança de criar seu filho e um dia poder desfrutar de uma vida melhor. Célia se rebela em busca de liberdade, e Leninha vislumbra uma realidade ilusória, típica da juventude, o que a faz indiferente aos problemas. “Nossa principal preocupação foi dar conta da intensidade e valor que o texto tem como uma referência histórica para a dramaturgia brasileira”, comenta o diretor, Renan Delmontt. Escrita no ano de 1969, em tempos obscuros para o país, “Abajur Lilás” sofreu inúmeras interferências por parte da censura. Ainda assim, tornou-se um dos principais gritos de denúncia e crítica ao regime militar. A atriz Rita Ribeiro, que interpreta Dilma, diz que apesar de o grupo não fazer adaptações à obra, ela mantém sua força no contexto político e social que o país vive hoje. “A gente não fez adaptação, apesar de também não utilizar figurino que remeta àquele período (década de 1960), mas é um texto que tem muito a ver com nossas vidas atuais. Hoje a gente também está vivendo uma forma de privação de liberdade, de direitos…”, coloca a atriz.Mas como este é também um projeto de pesquisa sobre atuação e marca a estreia de um grupo novo, Renan destaca que outra preocupação foi “a preparação com eles, a construção dos personagens”. O texto, diz ele, “seria um indutor poderoso, reforçador da cena”.O grupo Limítrofe surgiu a partir do projeto “Abajur”, vinculado este ano ao Grupo de Estudo, Pesquisa e Experimentação em Teatro e Universidade (Gepetu) da UFPA. O projeto, dirigido por Renan Delmontt, utiliza em cena estudos e práticas de criação no método de interpretação chamado de “O Sistema”, do teatrólogo russo Constatine Stanislavski, que alicerça a construção dos personagens no modelo de interpretação realista. “Na licenciatura, tive oportunidade de intercâmbio em Coimbra (Portugal) e estudei com Clovis Levy, um especialista em Stanislavski, trabalhei e treinei nesse sistema”, conta o diretor. De regresso ao Brasil, o assunto foi parar em sua monografia e agora com “Abajur”. “Eu compartilho de um pensamento do Stanislavski: o ator é o principal elemento necessário para acontecer o teatro. São ele e o espectador. Pode ser sem figurino, só corpo, sem maquiagem, e até sem diretor – ele pode se dirigir. Esse é o principal ponto dele e que eu me agarro. As principais transformações que perpassam e resultam na cena estão no ator”, completa o diretor. A atriz Rita Ribeiro, que usou pela primeira vez o sistema de Stanislavski diz que ele tornou tudo “mais intenso e bastante adequado para o resultado que o grupo queria”.O elenco ainda tem : Bonelly Pignatário, Felipe Almeida, Lennon Bendelak e Rafaella Cândido.

(Laís Azevedo/Diário do Pará)