Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal na Operação “Carne Fraca” mostram que um dos diretores presos da BRF, estava preocupado com a contaminação por bactéria salmonela na unidade de Mineiros, em Goiânia. Segundo as interceptações feitas com autorização da Justiça, André Luis Baldissera comenta com outro funcionário da companhia que a contaminação teria potencial para suspender as exportações da fábrica para sempre.
Baldissera é um dos 25 presos preventivamente na operação da PF, outras 11 pessoas foram presas temporariamente, sendo que oito já deixaram a prisão. No diálogo gravado pela PF é citado que o fiscal responsável pela autuação vai "matar no peito" a notificação e não vai avisar Brasília, para que a empresa resolva os problemas até uma nova inspeção algumas semanas depois.
Teria ficado combinado que a certificação seria suspensa, mas, como a fábrica não produziria nada no período em questão, não haveria problema.
A BRF nega as irregularidades. Em outro trecho da ligação, é dito que o fiscal em questão teria pedido contribuição para campanhas eleitorais do partido PDT na região. Logo após a operação, o PDT divulgou nota onde diz que nunca teve indicação de cargo no Ministério da Agricultura.
Na conversa grampeada em maio de 2016 entre Baldissera, diretor da BRF, e o funcionário Roney Nogueira dos Santos, é mencionada a detecção de contaminação por salmonella em Mineiros. O diálogo revela ainda que o responsável pela fiscalização do Ministério da Agricultura no local identificado como Dinis Lourenço da Silva, vai "matar no peito" a notificação da suspensão da planta e não avisará Brasília.
Com isso, a BRF ganharia tempo para resolver a situação. A suspensão valeria por algumas semanas, prazo em que a fábrica não produziria nada, e depois seria feita uma nova inspeção. Eles conversam sobre o suposto pedido de propina do fiscal.
Veja um trecho do diálogo:
Baldissera: Tava ansioso pra falar contigo. Então?
Roney: Veio ele mais outro fiscal, eu conheço ele, não tava na reunião, é o Elmo, trabalha com ele lá no gabinete. Na verdade, é o seguinte, ele falou que conversou com o pessoal, ele falou que conversou com o pessoal lá, é, é. E a decisão que ele falou é que não vai encaminhar nada pra Brasília. O que eles vão propor é, é, suspender a certificação, só, e vão dar 15 dias, 15 ou 20, dias pra BRF preparar, ali, atender os planos de ação e fazer uma nova supervisão pra voltar à exportação. Aí eu falei: tá, mas... Baldissera: O que é a certificação?
Roney: A certificação só do cozido, só. Baldissera: Do preparado?
Roney: É. Só do preparado. (...) É que assim, ó: Como a IN 27 fala que tem que barrar a certificação, a gente suspende a certificação, mas vocês não têm nada pra produzir. Não vai certificar nada. Tá por isso, então não adianta ne nem certificar. Pois é, a Maria Cristina tá pedindo e tal. Aí eu falei: não, tudo bem, se não vai ter restrição de suspender a habilitação, e vim (sic) só a certificação, a gente não tá produzindo nada, não vai ter impacto nenhum. Aí ele disse que vai propor de 15 a 20 dias uma nova supervisão, tá?.
Baldissera: Tá. (...) Roney: Aí ele falou que vai matar no peito, pra não levar pra Brasília, até que tenha uma nova supervisão. Aí depois tem o golpe, né. (risos).
Baldissera: Roney, esta é a notícia que nos faz tomar um vinho agora antes de dormir, cara. Roney: (risos) (...). Não é um assunto pra ti, né. Mas ele pediu o seguinte, vou contar. O que é que ele pediu: hoje, ele, o Diniz, tá pra assumir aqui como Superintendente, por que a bancada que cuida aqui do Ministério da Agricultura é do PDT, e pra ele ficar como superintendente ou ficar no Sipoa, ele tem que dar resultado pra bancada do PDT. Ele pediu o apoio da BRF nas eleições aí municipais, tá.
Baldissera: Ah, vamos fazer. (ininteligível) se tem que fazer, vamos fazer essa merda.
(Com informações do UOL)
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