Ciclo discute inveja nas relações sociais

Na próxima sexta-feira (17) e no sábado (18), será realizado o segundo curso do Ciclo "Afetos Obscuros", ministrado pelo Prof. Dr. Ernani Chaves, da Universidade Federal do Pará (UFPA). A atividade discute, uma vez por mês, até junho, um dentre os inúmeros afetos chamados pelo autor de "obscuros". A primeira etapa, realizada em fevereiro, destacou o ódio. O tema agora a ser enfatizado é a inveja. Restam ainda o ciúme, a culpa e a amizade.

O curso obviamente não é aleatório. Pelo contrário. É fácil observar nos diversos relacionamentos interpessoais e mesmo nas redes sociais da internet exemplos concretos dos temas que serão discutidos.

Segundo Ernani, “é muito comum, nosso cotidiano, empregarmos expressões como "inveja mata" (francamente negativa) ou ainda "inveja branca" (francamente positiva e com um conteúdo racista, o que nos faz muitas vezes dizer "inveja boa"). Esses dois extremos, que distinguem entre um aspecto bom e um outro mau da inveja, é bem característico de nossa cultura, uma vez que na sua origem, na mitologia grega, a inveja (Ftono) é sempre associada ao caos e à discórdia. Mas, é uma história bíblica, a de Caim e Abel, a narrativa mais conhecida por nós, a propósito da inveja, uma narrativa exemplar, como veremos no decorrer do curso”, destaca.

“Boa ou má, a inveja é um afeto que permeia nossas relações com os outros, ou melhor, nossas relações com aquilo que os outros tem ou que julgamos ter e que nós, por algum motivo, não temos, mas gostaríamos, desejaríamos, ter. A inveja é, desse modo, um afeto que caracteriza nossas relações com os efeitos que a falta de algo que um outro tem, causa em nós”, explica Ernani.

Ainda de acordo com ele, “tais efeitos podem ser, de fato, devastadores, em especial porque podem vier associados a efeitos provocados por outros afetos obscuros, como o ciúme e o ódio. Carga explosiva, portanto, que todos nós carregamos. Com a ajuda da filosofia, da psicanálise, da teologia, da história, da antropologia, vamos tentar entender porque somos todos invejosos”, antecipa.

Amizade como afeto obscuro?

Para muitos, a amizade de algumas pessoas é motivo de "paz e refúgio", mais até do que a relação com familiares. No curso, no entanto, Ernani irá problematizar isto. "Me perguntam porque a 'amizade' está incluída no ciclo, como um 'afeto obscuro'. Não queria fazer um 'spoiler', mas gostaria de dizer que todo afeto, incluindo aquelas que tanto valorizamos, como o amor em especial, são claros e obscuros ao mesmo tempo. Todos eles possuem essas duas faces que se cruzam e se entrelaçam. Falar de ódio, é falar de amor. Falar de amizade é falar de amor, mas também de inveja, ciúme, e assim por diante. Mas a amizade representa, ao final do ciclo, uma espécie de 'luz no fim do túnel'. Queria sustentar um pouco a ideia de que a 'amizade é o verdadeiro amor'", finaliza.

O ministrante

Ernani Chaves é doutor em Filosofia. Realizou estágios de pesquisa no exterior na Alemanha e na França. Possui pós-doutorados na Universidade Técnica de Berlim (1998) e na Universidade de Weimar (2003). Foi pesquisador Associado na Universidade Técnica de Berlim (janeiro e fevereiro de 2013), pesquisador sênior na École Normale Superieure de Paris, de março a junho de 2015. Autor de livros e vários artigos nacionais e internacionais. Publicou recentemente, pela Editora Autêntica, uma tradução de textos de Freud sobre Estética.

Serviço

Ciclo "Afetos Obscuros”, com Ernani Chaves – Tema 2: Inveja. Onde? Fortiori Consultoria em Psicologia (Travessa São Francisco, 233 baixo, entre Avertano Rocha e Almirante Tamandaré). Quando? Sexta (17), de 18h30 às 22h e sábado (18), 08h às 12h. Informações: (91) 3222-0038 e [email protected].

(DOL)