Moradores fazem protesto em Ananindeua

A casa de Ana Maria está cercada de mato e esgoto a céu aberto. A manicure de 37 anos mora com mais quatro pessoas em uma palafita localizada na rua São Francisco, na comunidade Jardim 28 de Agosto, no bairro do 40 Horas, em Ananindeua, na Grande Belém. Longe de qualquer indício de saneamento básico, ela sonhou há cinco meses em ver a pista pavimentada, quando uma obra foi iniciada no local. Porém, passadas as últimas eleições municipais, as pontes da área foram substituídas por um aterro que, quando chove, vira um lamaçal e a água, sem ter para onde escoar, invade as residências.

“Aqui vai para o fundo. Já encontramos três jacarés, sucuri e até poraquê”, revela. Assim como Ana, outras duas mil famílias vivem no assentamento, que tem iluminação, segurança, pavimentação e atendimento à saúde precários.

PROTESTO

Revoltados com a situação, ontem de manhã os moradores do Jardim 28 de Agosto bloquearam a avenida Independência, na rotatória que dá acesso ao bairro. Às 7h, cerca de 30 pessoas atearam fogo em pneus e pedaços de madeira, na pista com sentido para a avenida Augusto Montenegro. Já às 9h30,os manifestantes bloquearam o lado inverso. O trânsito ficou complicado na região. Os condutores tiveram de desviar pela estrada do 40 horas e pela Hélio Gueiros. Com a chegada de viaturas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, o bloqueio foi liberado. Às 11h, o trânsito já fluía normalmente. “Precisamos que a Prefeitura olhe por nós. Nossas ruas estão intrafegáveis”, reclama Emerson da Silva, 31, líder da associação dos moradores do local.

ESQUECIMENTO

Com documentos nas mãos, que provam pedidos de ajuda à gestão municipal, ele denuncia a omissão da Prefeitura. “Entregamos um ofício no dia 14 deste mês. Ninguém nos recebeu e nem tivemos respostas.”

O líder comunitário relata que o prefeito Manoel Pioneiro prometeu uma obra de urbanização na comunidade, mas desde outubro de 2016 os trabalhadores não aparecem por lá. “Só deixaram a tubulação e as ruas cheia de buracos”, critica.

O sapateiro Samuel Cruz, 44, também lamenta a situação da comunidade Nova Esperança, no mesmo bairro. “Nossas ruas também estão esburacadas. Ananindeua está abandonada”, diz.

UNIDADE DE SAÚDE FUNCIONA EM AMBIENTE PRECÁRIO

Quem passa pela rua São Francisco, em Ananindeua, quase não percebe que no local há um posto de assistência médica, que funciona no pátio da casa. O telhado está quebrado, não há grades e as paredes estão descascadas. Nas diversas cadeiras sem encosto, as pessoas esperam atendimento. Esta é a Unidade de Saúde da Família da comunidade Jardim 28 de Agosto. “Quando chove, alaga tudo aqui. Quase não vemos médicos e não têm remédios”, denuncia Maria de Nazaré, 37.

A dona de casa tem uma doença de pele, a psoríase, que não tem cura, mas é controlada com medicamentos. “Aqui, mandam eu ir à unidade do Coqueiro pegar os remédios. Lá, dizem para eu voltar para cá”, conta.

A doméstica Helen Rodrigues, 36, vai com frequência à unidade. Ela diz que o atendimento é bom, porém a estrutura é precária. “Se você olhar, não sabe que é. Não tem placa, tudo está velho, paredes rachadas”, descreve.

PARA ENTENDER

Segundo o Instituto Trata Brasil, Ananindeua temo pior saneamento entre as 100 maiores cidades do País.

Dos seus mais de 500 mil habitantes, apenas 28% têm água encanada.

Somente 2,9% contam com coleta de esgoto domiciliar.

A cada 100 mil habitantes, 830 são internados por causa de diarreia, por ano, em Ananindeua.

A reportagem pediu esclarecimentos à Prefeitura, mas não obteve nenhuma resposta atéo fechamentodesta reportagem.

(Roberta Paraense/Diário do Pará)