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40% da água da Cosanpa é desperdiçada

Ao circular pelas ruas de Belém, não é nenhuma raridade encontrar tubulações rompidas, que geram vazamentos de água em via pública. Foi exatamente o que ocorreu na tarde de quinta-feira (12), quando o DIÁRIO flagrou a cena em um ponto da travessa Lomas Va

Ao circular pelas ruas de Belém, não é nenhuma raridade encontrar tubulações rompidas, que geram vazamentos de água em via pública. Foi exatamente o que ocorreu na tarde de quinta-feira (12), quando o DIÁRIO flagrou a cena em um ponto da travessa Lomas Valentinas, no bairro do Marco. O líquido jorrava para cima do asfalto, que ficou com uma poça d’água. Situações como esta contribuem para gerar um desperdício de água de volume estratosférico na cidade: dos 7,2 bilhões de litros de água que a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa) produz mensalmente em Belém, quase 3 bilhões de litros são desperdiçados antes de chegar aos domicílios da cidade.

O volume que se perde corresponde a pouco mais de 40% da quantidade de água produzida para atender a capital paraense. A informação é confirmada pela própria Cosanpa. Para entender a dimensão do prejuízo, a quantidade de água que se perde daria, por exemplo, para abastecer o município de Santarém, que tem 294 mil habitantes, segundo estimativas de 2016, calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Doutor em Desenvolvimento Socioambiental e professor do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (NUMA/UFPA), Ronaldo Mendes explica que a média de consumo diário de água por pessoa é de 250 litros. Por mês, isto equivale a 7.500 litros de água. Levando esse dado em consideração, é possível dizer que o volume desperdiçado poderia suprir, mensalmente, o consumo de quase 400 mil pessoas.

O especialista ressalta que as perdas fazem parte do sistema de abastecimento de água. Entretanto, explica que o volume desperdiçado em Belém é elevado, se comparado às perdas verificadas em outros países, como na Europa, onde o desperdício fica entre 5% e 10%. “É uma questão de falta de gestão e de capacidade técnica. Temos um déficit de geólogos, engenheiros sanitaristas e o quadro técnico que não é renovado”, pontua.Além dos problemas ocasionados pela falta de capacidade técnica, Mendes afirma que as perdas são resultado da falta de manutenção. O problema faz com que o sistema como um todo funcione de forma precária. Nesse contexto, as rupturas nas tubulações da Cosanpa são apontadas como o principal fator de desperdício. Por outro lado, é bem menor o impacto ocasionado por pessoas que fazem o uso clandestino da água.

Tubulação

“A pessoa corta a tubulação da rua e a água não passa pelo hidrômetro instalado na residência. Com isso o volume de água consumido não é contabilizado”, explica o especialista, acrescentando que a prática poderia ser inibida pela própria gestão, já que deveria haver uma fiscalização mais rigorosa para coibir o uso clandestino da água.

Além disso, a ineficiência de gestão acaba onerando ainda mais o serviço e isso impede que o abastecimento chegue, por exemplo, aos locais que ainda não possuem água encanada, conforme destacou Mendes. Segundo ele, uma das alternativas para mudar esse quadro seria a aquisição de equipamentos mais modernos para melhorar a eficácia da rede de abastecimento.

A reportagem pediu à Cosanpa o número de ligações clandestinas existentes em Belém. Porém, a Companhia informou que não era possível levantar o dado. Foi pedido, ainda, a quantidade de pessoas que ainda não têm acesso a água encanada na capital. Até o fechamento desta edição, não houve retorno. Sobre os investimentos no sistema, a Cosanpa disse que já existe fiscalização para reduzir o número de perdas e que está sendo feita a implementação de hidrômetros novos e a substituição dos antigos. A nota diz ainda que, a partir de abril, a Companhia iniciará o projeto de substituição das tubulações antigas em bairros como Guamá, Nazaré, Umarizal, Marco e Pedreira. “Esses bairros estão mais sujeitos a vazamentos do que outros”.

Sindicato acusa Jatene de sucatear a Cosanpa, para privatizá-la


Em 2015, a Cosanpa sofreu seu maior prejuízo operacional dos últimos 17 anos: quase R$ 250 milhões, em valores atualizados. Mas isso não demonstra a inviabilidade da empresa. Na verdade, a Cosanpa é rica. O problema é a forma como ela é administrada. Um dos melhores indicadores da riqueza de uma companhia é o seu patrimônio líquido: o que sobra de seus bens, depois de retiradas todas as dívidas. Em 2015, o patrimônio líquido da Cosanpa foi de quase R$ 940 milhões, superando o do Banco do Estado do Pará (Banpará), que ficou em R$ 750 milhões. “O que acontece é que a Cosanpa está sendo sucateada pelo Governo, para forçar a sua privatização”, acusa Antonio Carlos de Souza Rodrigues, diretor do Sindicato dos Urbanitários.

Com a seca que aflige metade de Belém, a população sequer imagina a robustez da Cosanpa. E desconhece, também, que o Governo do Estado detém 99,98% do capital social da empresa. Ou seja, quem dá as cartas por lá é o governador, que, entre outras coisas, decide quanto dinheiro o Estado investirá nela. Apesar da situação deplorável em que a companhia se encontra, o Orçamento do Estado prevê que o Governo repasse à empresa, neste ano, menos de R$ 183 milhões. Será o menor valor que a Cosanpa receberá dos cofres estaduais para investimentos, em quase uma década. “Esse tipo de situação deixa muito clara a estratégia do governador, de deixar a empresa ficar sucateada, abrindo espaço para privatização”, destaca um funcionário do alto escalão da própria Cosanpa, que pediu para ter a identidade preservada.

Caso Celpa

O atual cenário da Cosanpa lembra, e muito, o que ocorreu em julho de 1998. À época, o então governador Almir Gabriel, que disputaria a reeleição naquele ano, privatizou as Centrais Elétricas do Pará (Celpa), sob a alegação de que a empresa dava prejuízo e garantindo que tudo melhoraria se ela fosse administrada pela iniciativa privada. A privatização aconteceu, o Governo embolsou 450 milhões de dólares com o negócio, mas, de lá para cá - como o povo paraense bem sabe -, os serviços da Celpa em nada melhoraram. Pior: o preço da energia ficou ainda mais alto. “Em agosto do ano passado, o custo da energia elétrica já havia subido mais de 500% para os paraenses, desde 1998, um aumento muito superior à inflação do período”, afirma o economista Roberto Sena, do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese). E a tal privatização da Cosanpa já é dada como certa. Já no início deste ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) publicou, no Diário Oficial da União (DOU), um aviso de licitação para 6 companhias estaduais de água e saneamento. A Cosanpa é uma delas. Com isso, foi dado, oficialmente, o primeiro passo para a privatização da companhia, algo que o governador Jatene jurou, na campanha eleitoral de 2010, que não ocorreria.

Foto: Daniel Costa

Enquanto isso...

Moradores de Belém padecem com a falta de água, como foi o caso do conjunto Eduardo Angelim, que ficou sem abastecimento por cerca de 15 dias. Sem contar que 21 bairros tiveram o abastecimento interrompido na sexta-feira, para a Cosanpa consertar adutora. Até o fechamento desta edição, a previsão era de que a água só voltasse na noite de hoje.

Falta d'água: um problema constante

(Pryscila Soares/Diário do Pará)

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