Não basta ter emprego. Tem de ter serviço extra

“Em tempos de crise, ter uma segunda opção é uma obrigação”. A afirmação de Anderson Santos, 26 anos, resume a situação de muitos brasileiros atualmente: ter um emprego fixo e, mesmo assim, procurar outras fontes de renda. De acordo com estudo do Instituto Data Popular (2016), 72% da população buscam renda extra. Para conseguir pagar as contas e, ao mesmo tempo, manter qualidade de vida, pessoas se desdobram para conciliar mais de um ofício, às vezes com funções bem diferentes.

Anderson, por exemplo, é funcionário público e também mantém um escritório de advocacia junto a outros sócios. Mas, além disso, representa e divulga uma empresa multinacional de cosméticos, em grande parte pela internet e redes sociais. “Iniciei sem muito profissionalismo, mas agora já ganho igual ou mais que meu salário regular”, conta. Os serviços são feitos à noite, tempo antes dedicado ao descanso depois do trabalho.

Já Rafael Oishi, 27, de dia é técnico de ferramentas e visita indústrias e concessionárias para oferecer os serviços de conserto, análise e desenvolvimento técnico. Quando tem tempo ocioso, à noite ou aos finais de semana, pega o carro como prestador de serviços do aplicativo de mobilidade urbana Yet Go, concorrente do Uber.

Para Rafael, a dupla jornada serve como complemento de renda e tem suas vantagens. Com o trabalho paralelo, ganha renda variável, mas garante qualidade de vida. “Tenho um horário flexível e consigo tirar um dinheiro a mais para comprar o que o salário não cobre”, afirma.

O veterinário Antônio Fábio, 35, por sua vez, atende em domicílio há 5 anos. Nos horários livres, pega o carro da mãe e vira motorista do Yet Go, assim como Rafael. Ele monta seu horário todos os dias, de acordo com as demandas das atividades que exerce e aproveita para faturar um extra. “Hoje, já consigo ganhar praticamente o mesmo em ambas as funções”, diz. Antônio utiliza o emprego primário para pagar as contas mensais e usufrui do extra para os demais gastos.

O veterinário Antônio Fábio também atua como motorista do Yet Go Foto: Daniel Costa

Use o dinheiro extra para “realizar sonhos”

Para o educador financeiro Godoy Filho, por mais que essa fonte de renda seja constante (toda semana ou todos os dias, por exemplo), é importante não esquecer que esse dinheiro é extra. “O ideal é não incorporar os ganhos extras ao salário fixo”, ensina.

Por isso, o educador orienta a guardar pelo menos 50% desse dinheiro extra para “realizar sonhos”, como fazer uma viagem ou comprar um carro novo. A outra metade você pode usar para despesas adicionais, como as contas de início de ano (IPTU, IPVA e material escolar) e eventuais necessidades.

Godoy ensina que, no caso de guardar para um sonho, o primeiro passo é diagnosticar a situação financeira, ver se está endividado ou não.

Se estiver, quite as dívidas e siga para a próxima questão: determinar um objetivo para a renda extra, como uma viagem de fim de ano. Depois, veja o quanto precisa e quanto tempo resta até atingir a metade. A partir de então, é manter o foco.

Já no caso da renda extra ser variável, o cuidado deve ser redobrado. “Não gaste sem ter o dinheiro em mãos e tome cuidado todos os dias para não perder o controle”, alerta.

É o que faz Anderson, que, apesar de trabalhar constantemente com o ofício em paralelo, recebe renda variável. Por isso, faz questão de deixar o salário e o extra bem separados um do outro. “No começo, a gente acaba gastando o que ganha. Agora, o salário paga as contas e o extra é pra investir e garantir mais qualidade de vida”, diz.

(Alice Martins Morais)