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GERSON NOGUEIRA

Mergulho no passado

A maioria decidiu que o Remo deve retomar o caminho do passado. Os 609 votos conferidos a Manoel Ribeiro demonstram que a comunidade azulina continua aferrada a feitos acontecidos nas décadas de 70 e 80, período em que o presidente eleito mandava e desman

A maioria decidiu que o Remo deve retomar o caminho do passado. Os 609 votos conferidos a Manoel Ribeiro demonstram que a comunidade azulina continua aferrada a feitos acontecidos nas décadas de 70 e 80, período em que o presidente eleito mandava e desmandava no futebol regional. Tempos de profissionalismo capenga, quando prevalecia a benemerência, o apadrinhamento e o mecenato.

O futebol nos tempos áureos de Manoel Ribeiro como dirigente estava a milhas de distância das exigências que a gestão moderna e equilibrada impõe hoje aos clubes. Naquela época, não havia Estatuto do Torcedor, nem Lei Pelé, muito menos Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte.

O eleito conquistou fama pelo estilo autoritário, as astúcias de bastidores e o destemor pessoal, que o levou a invadir o gramado para esbofetear bandeirinha e a discutir com árbitros. Foi criada a lenda de que mandava apagar os refletores quando o Remo estava em desvantagem no placar.

Apesar da baixa estatura física, peitava quem estivesse pela frente em defesa do seu Clube do Remo. Foram anos de acentuado domínio azulino no âmbito regional. Essas imagens se perpetuaram no imaginário de sócios, conselheiros e torcedores mais idosos.

Por tudo isso, Manoel virou uma lenda viva. É compreensível que angarie apoios da velha guarda e de ex-mandatários. Até os muitos erros cometidos, como a perda do Posto Azulino e o ainda não desvendado assalto à sede social no ano passado, foram esquecidos.

Quando reinou no futebol paraense, vigorava um modelo semi-feudal de comandar os clubes, com regras frouxas e paixão sempre à flor da pele. Alguns episódios são até engraçados, mas o fato é que esse jeito folclórico de lidar com o futebol é coisa do passado, sem aplicação nos dias atuais.

Os votos recebidos por Ribeiro devem ser respeitados, pois representam a vontade da comunidade azulina, mas indicam a predominância do pensamento conservador no Remo. Os esboços de suas propostas constituem um arrazoado compatível com o perfil do Marechal e destoam dos planos mais modernizantes de André Cavalcante.

As promessas prevalecem sobre o planejamento. Reerguer o clube, voltar aos tempos de glória e se fazer respeitar nos gramados. Funciona como retórica, mas não se sustenta em termos de realidade e aplicação prática.

A energia de campanha foi consumida em iniciativas que visavam impugnar ou desmoralizar o candidato da situação. O tempo foi gasto em acusações, calúnias e baixarias de parte a parte. Por isso, ninguém sabe o que será feito para que o Remo enfrente as dívidas trabalhistas e fiscais, que giram hoje em torno de R$ 13,5 milhões.

Desconhece-se também como serão levantados recursos para o que deve ser a prioridade máxima da gestão: a reconstrução do estádio Evandro Almeida, demolido há dois anos pelo então presidente Zeca Pirão.

Não há informação sobre os planos para o programa sócio-torcedor e quanto às necessidades prementes de criar novas formas de receita. Muito menos se sabe o que o presidente tenciona fazer para se adequar às exigências do Profut. Pelo pouco que foi dito por Manoel na campanha, ele prefere agradar o torcedor montando times fortes a imprimir gestões rigorosas quanto à gastança de dinheiro.

A rigor, quase nada se conhece sobre as ideias do homem de 80 anos que irá presidir o Remo pela quinta vez – incluindo a interinidade em 2015. É quase uma esfinge. Não se pode sequer avaliar como pretende agir em relação ao futebol profissional e às divisões de base. Com base em entrevista do vice-presidente Ricardo Ribeiro ao Bola na Torre, insinua-se a preferência por técnico e atletas regionais no começo da temporada.

O Remo, que no mandato-tampão de André Cavalcante vinha tentando se enquadrar nos ditames do futebol movido a princípios empresariais, está nas mãos de quem sempre defendeu as velhas práticas de gerenciamento. Se seguir essa trilha, as coisas dificilmente chegarão a bom termo. O clube está a necessitar de pulso firme e austeridade nos gastos.

A não ser que surja um mecenas – como prometido durante a campanha –, disposto a gastar R$ 5 milhões no clube, como empréstimo a fundo perdido. O problema é que até mesmo essas soluções paliativas costumam resultar em sofrimentos a médio e longo prazo.

Depois de fechadas as urnas e proclamados os vencedores, sabe-se apenas que o Remo, dividido e navegando em mar revolto, segue à espera de um milagre.

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