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Diretora proíbe tema de religião de alunos

Atualmente, no mundo inteiro o debate sobre intolerância religiosa tem ganhado cada vez mais espaço. No Brasil, o assunto ganhou relevância a ponto de ter sido escolhido como tema da redação do Enem 2016. Mas apesar de toda a discussão aberta, muita gente

Atualmente, no mundo inteiro o debate sobre intolerância religiosa tem ganhado cada vez mais espaço. No Brasil, o assunto ganhou relevância a ponto de ter sido escolhido como tema da redação do Enem 2016. Mas apesar de toda a discussão aberta, muita gente permanece fechada para o debate. Mais grave ainda quando essa intolerância vem de dentro de uma escola.

Na quarta-feira (23), no Centro de Educação Trindade, escola particular no bairro Águas Brancas, em Ananindeua, uma cena de intolerância por parte da própria diretora foi registrada em vídeo. Na gravação, é possível ver um grupo de alunos tentando apresentar uma temática de trabalho sobre uma entidade de uma religião afro-brasileira.

Após a escolha, os alunos foram constrangidos pela diretora da instituição, que chega a dizer que o tema é proibido na escola. Os alunos argumentam, mas a diretora responde rispidamente que em “sua escola não irá permitir esse tipo de assunto, pois a sua orientação é cristã”. Os alunos tentam pedir respeito à servidora, mas sem sucesso.

Assista ao vídeo:

O DOL conseguiu contato por telefone com a Diretora da escola, que preferiu ter a identidade preservada. Segundo ela, os alunos disseram, inicialmente, que iriam "baixar" uma entidade na sala de aula, e devido a isso, ela proibiu a atividade. Porém, no vídeo não é possível ver a cena relatada pela diretora.

"A forma como eles queriam apresentar foi errada. Chegaram dizendo para a turma que iriam baixar uma entidade na sala, então pedi a eles que não apresentassem" explica.

Perguntada se considera seu comportamento um ato de intolerância, a diretora admitiu que sim, mas fez ressalvas. "Pode até ser que fui intolerante, mas diante da situação foi necessário. Não aparece no vídeo, mas teve um momento em que os alunos ameaçaram, inclusive, 'fechar' a escola com a entidade deles. Temos alunos de várias religiões na escola, e muitos pais reclamam da umbanda, então, pensando na maioria, acabei proibindo o trabalho", diz.

"Eles vieram dizendo que essa entidade era considerada folclore, eu nunca ouvi isso. Eu não tenho conhecimento sobre essa religião, mas sempre ouvi comentários que essa entidade que eles falam no vídeo tras diversos problemas a pessoas que estão ligadas a ela. Então como vou aceitar isso em sala de aula?", indaga a diretora.

Por fim, a diretora afirma que acionou seu advogado para tomar medidas cabíveis contra ofensas e perseguições que têm recebido por internet. "Desde que gravaram esse vídeo, sem o meu consentimento, estou sendo ofendida e perseguida nas redes sociais. Os jovens de hoje não querem se colocar no lugar deles e respeitar. Como educadora, não posso admitir dentro de uma escola atitudes de desrespeito. A partir do momento que vai para uma rede social me desmoralizando, irei tomar medidas contra isso", relata.

Na dinâmica escolar, o tema do trabalho a ser apresentado na Feira da Cultura da esolca seria escolhido nesta quarta-feira(23), e a apresentação seria na sexta-feira (25). A diretora continua afirmando que os alunos não irão apresentar o tema.

Racismo

Para Sttefane Trindade, Mestre em Ciências da Religião e especialista na lei 10639/03, o episódio configura-se como um caso de racismo. Para ela, o ocorrido reflete a falta de informação sobre a cultura afro-brasileira. "A Pomba Gira, dentro do universo da umbanda é muito ligada a energia e a liberdade feminina. Geralmente, numa sociedade predominantemente cristã, isso é compreendido como algo abominável e até mesmo demoníaco" explica a especialista.

“Por incrível que pareça, o Brasil tem uma Lei (10639/03 de 2003) que institui o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas. Essa lei foi criada, mas não foi efetivada, muito por causa de um sistema educacional que não tem interesse de legitimá-la. Boa parte das escolas e professores não se preocupam em difundir este tema, que faz parte do Brasil. Sem África não é possível contar a história de nosso país, e o que nós vemos são as instituições tratando o tema como algo que não merece ser discutido” afirma Sttefane trindade.

Repercussão

O vídeo circula nas redes sociais e gerou diversos comentários.

"Essa mulher nao tem o mínimo pra ser uma diretora de escola", afirma uma internauta.

"Ela como educadora, em primeiro lugar tem que ter respeito por todas as religiões e não é aceitando, e sim respeitando a opinião do próximo, primeiro que ela não é dona da escola e segundo que todos têm o direito de falar sobre qual tema quiser. Pessoas como esta diretora tem que ter mais respeito com as outras religiões", reflete um outro internauta.

Em outro comentário é possível ler: "Perfeito, gostaria de saber também como ela se dirige a uma entidade pública de educação que tem que abranger todos os segmentos étnicos e religiosos como MINHA ESCOLA. Uma pessoa dessa desconhece totalmente o que é ser uma educadora".

O que diz a Constituição

A Constituição brasileira de 1988, em seu artigo 19, esclarece sobre o papel das instituições nacionais acerca de religiões:

Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;

II - recusar fé aos documentos públicos;

III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.

Em nota, a Secretaria Municipal de Educação (Semed) informa que a escola em questão "é particular e não possui nenhum convênio ou vínculo com a administração municipal". A Semed ressalta ainda que possui a "Divisão de Relações Etno Racial (Derer)", órgão responsável por formações de docentes e inclusão do conteúdo africano e de outras etnias no projeto pedagógico de todas as escolas que compõem o sistema público municipal.

(Igor Reis/DOL)

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