Cheio de lixo, Jurunas é retrato do abandono

Fazer uma refeição ou vender alimentos em um local imundo provoca indignação em visitantes e em quem trabalha no Complexo do Jurunas. Na entrada da feira, o lixo está espalhado por todo canto. O canal está tomado por uma lama verde, por aterro e todo tipo de resíduos. Essa situação já virou um caso crônico nessa área da avenida Bernardo Sayão, em Belém.

Moradores e feirantes até hoje aguardam o cumprimento de promessas de melhorias para a área. Eles consideram que aquela imundície representa um total descaso do prefeito Zenaldo Coutinho e um caso de saúde pública, já que as condições sanitárias são as piores possíveis. Além disso, o lixo que já ocupa quase metade da via, no sentido do bairro da Cidade Velha, prejudica seriamente o trânsito.

Morador do Jurunas há cerca de 20 anos, o contador Carlos Miranda, 60, gostaria de ver os impostos que paga serem aplicados de alguma forma no bairro onde vive. Aquele cenário de acúmulo de lixo e ausência de saneamento é apenas uma das situações precárias observadas por ele, que vai à feira diariamente. Carlos lembra que ali deveria, obrigatoriamente, haver pelo menos 2 contêineres para o depósito do lixo. “Isso tudo é insuportável. São seres humanos que frequentam esse espaço”, critica.

Pessoas se equilibram no meio da sujeira. (Foto: Fernando Araújo/Diário do Pará)

COBERTURA

Como se não bastassem os problemas gerados pela insalubridade na entrada do complexo, trabalhadores e clientes da feira correm o risco de ver o telhado desabar sobre suas cabeças. Vendedora de refeição há 25 anos, Maria José Palheta, 60, lembra que um incêndio ocorrido há quase 3 anos danificou parte do telhado do complexo. Até hoje não houve revitalização da cobertura e o buraco só aumenta. Parte do telhado ameaça cair a qualquer momento.

Quando chove, o local fica inundado, intransitável, prejudicando a atividade dos trabalhadores. “Quando completar 3 anos (em fevereiro), vamos fazer um bolo aqui e chamar a imprensa”, avisa a feirante, ao afirmar que, na época, funcionários da Prefeitura de Belém foram ver o estrago. Porém, ninguém da gestão de Zenaldo Coutinho voltou para fazer o serviço. “Eles vieram aqui, limparam o mato e pintaram as beiradas (na área do canal) só para ganhar voto na eleição”, acrescenta.

"É COMPLICADO PARA TODO MUNDO"

Nascido e criado no Jurunas, Valdemir Miranda, 55, trabalha em um ponto de táxi perto da feira há 36 anos. Ele lembra que a obra de macrodrenagem da Bacia da Estrada Nova se arrasta há anos e seria a solução para boa parte dos problemas daquele bairro, sobretudo para a situação do lixo e o esgoto. Enquanto os transtornos não são resolvidos, pedestres e ciclistas são obrigados a caminhar por cima do lixo para não serem atropelados perto da feira, local onde o trânsito é intenso. A todo momento, entram caminhões para abastecer os feirantes. “Quem mora aqui queria um pouco mais de dignidade. É complicadopara todo mundo”, disse Valdemir.

Feirante Maria José reclama do telhado danificado. (Foto: Fernando Araújo/Diário do Pará)

SESAN

A Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) afirma que realizou, na semana passada, um mutirão de limpeza no Complexo do Jurunas e que ações de limpeza e manutenção são realizadas de forma alternada.

Também diz que está atuando com obras para recuperação do pavimento interno do complexo para que, em seguida, seja feito o reordenamento das barracas. Prometeu, ainda, que
instalará 6 contêineres.

(Pryscila Soares/Diário do Pará)