plus

Edição do dia

Leia a edição completa grátis
Previsão do Tempo 28°
cotação atual R$


home
_

Indígenas usam escrita como forma de resistência

“A literatura na vida do indígena é uma flecha que acerta sem sagrar. É importante que a gente comece a escrever, tanto dentro quanto fora das aldeias”, defende Márcia Kambeba, natural do Amazonas e pertencente à etnia Kambeba. Ela nasceu na aldeia Ticuna

“A literatura na vida do indígena é uma flecha que acerta sem sagrar. É importante que a gente comece a escrever, tanto dentro quanto fora das aldeias”, defende Márcia Kambeba, natural do Amazonas e pertencente à etnia Kambeba. Ela nasceu na aldeia Ticuna, chamada Belém do Solimões, próxima ao município de Tabatinga (AM), a maior da região – onde viveu até oito anos de idade e de onde saiu com a avó e o irmão, após ter sido diagnosticada com uma pneumonia. São as memórias desse tempo que a tornaram poeta e escritora, e também a incentivaram a ingressar na universidade e graduar-se e fazer mestrado em Geografia, tratando das questões de território, memória e resistência dos povos indígenas.

Márcia Kambeba é uma das convidadas do evento “Mekukradjá – Círculo de Saberes de Escritores e Realizadores Indígenas”, que ocorre a partir de hoje, no Itaú Cultural, em São Paulo, tendo o escritor paraense Daniel Munduruku como um dos curadores.


Não ignorando que tanto o saber formal quanto o saber popular baseado na oralidade possuem suas dimensões específicas, Márcia buscou na escrita literária uma forma de se aproximar dos próprios “parentes” – como chamam os indígenas de outras etnias – e também do homem branco colonizador, a quem especialmente busca se dirigir em suas obras como um manifesto que fale sobre a diversidade cultural e as tradições ancestrais passadas de geração a geração. “Por que é importante escrever? Porque é uma forma de mostrar nosso pensar e desmitificar o que ainda se pensa sobre povos indígenas, que somos destituídos de cultura, preguiçosos. A nossa resistência vem pela literatura, pela música, pelas artes. Hoje fazemos da literatura a nossa arma. A caneta é a nossa flecha para que a gente possa falar e informar até nosso agressor. Nós passamos por um processo de dizimação, e ainda passamos. Fomos silenciados, perdemos muitos povos, do século 16 ao 21, e temos que resistir”, diz Márcia, que participa de debates sobre os fazeres artísticos indígenas, a partir da produção cinematográfica e literária no Brasil, e também sobre a mulher indígena.

EDUCAÇÃO

Em 2013, Márcia publicou o livro “Ay Kakyri Tama”, que significa “Moro na cidade”. Professora da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Márcia viaja pelo estado como formadora de novos indígenas, no curso de licenciatura Intercultural Indígena. Utiliza obras de referência escrita por integrantes de outras etnias para incentivar que continuem a produzir e para mostrar que é possível utilizar materiais feitos pelos próprios índios para formar outros “parentes”. “Já temos médicos, alguns se formando em odontologia, jornalismo. Isso para nós é fundamental para defendermos nossa cultura. Falo isso onde eu for. Tudo que sou e lembro vem das minhas memórias, da convivência com os mais velhos, de ouvir as histórias, de comer bunda de saúva torrada com óleo e farinha e peixe assado na folha da bananeira, da importância do silêncio”, diz Márcia.

(Dominik Giusti/Diário do Pará)

VEM SEGUIR OS CANAIS DO DOL!

Seja sempre o primeiro a ficar bem informado, entre no nosso canal de notícias no WhatsApp e Telegram. Para mais informações sobre os canais do WhatsApp e seguir outros canais do DOL. Acesse: dol.com.br/n/828815.

Quer receber mais notícias como essa?

Cadastre seu email e comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Conteúdo Relacionado

0 Comentário(s)

plus

Mais em _

Leia mais notícias de _. Clique aqui!

Últimas Notícias